Alexandre Pierro é engenheiro mecânico, bacharel em física aplicada pela Universidade de São Paulo (USP) e fundador da Palas, consultoria em gestão da qualidade e inovação
Na última terça-feira (22), teve início o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil tem uma economia relativamente fechada ao comércio internacional. Isso me fez refletir porquê estamos nessa condição.
Somos um país continental. Temos espaço, solo fértil, mão de obra farta. Tanto potencial e ainda somos muito menos do que poderíamos ser. Talvez essa abundância toda seja justamente um dos problemas. Preocupações com o comércio exterior geralmente são muito maiores em países com pouca extensão territorial, que não conseguem construir fortunas apenas com o mercado interno. Esse é um dos pontos que tornam o Brasil culturalmente menos propenso a buscar a economia externa.
Contudo, além de uma visão extremamente restrita e limitada, vemos que manter as portas fechadas está nos fazendo empobrecer. A soma de comodismo com má gestão estagnou o Brasil em um cenário onde se morre de fome com o prato de comida na mesa.
Seguindo essa linha de pensamento, fechados em nossa "bolha", não buscamos nos adequar aos padrões internacionais, tanto em qualidade de produtos quanto de serviços. Não importa o quanto países do mundo inteiro se reúnam para construir um manual, uma certificação de melhores práticas. O Brasil tende a ignorá-los. Nos sentimos auto suficientes a ponto de ignorarmos não só o comércio exterior, mas também todas as oportunidades de crescimento que esse intercâmbio é capaz de trazer.
Não é a toa que existem certificações mundialmente reconhecidas. Essas práticas são exaustivamente discutidas e testadas, podendo demorar mais de 10 anos entre o início do estudo e a prática para garantir os requisitos e padrões de conformidade/qualidade. Elas garantem não só a sobrevivência como também o crescimento da empresa, visto que criam oportunidades para a expansão dos negócios.
Infelizmente, por aqui, essas certificações são pouco valorizadas. Ainda prevalece o velho pensamento de “por que se preocupar com o que eles acham, se nosso solo garante a riqueza de tantas empresas?”. É um pensamento preguiçoso e enraizado na nossa cultura empresarial. A maioria não quer as dores de cabeça de ter de se adequar, se reciclar e melhorar suas práticas de gestão. Pensam que é trabalhoso, custoso e que não compensa.
Ledo engano. Agora, mais do que nunca, sentimos os efeitos desse comodismo na forma de crises econômicas e dificuldades de relações comerciais com outros países. Não somos um país fechado para o mundo no papel, mas na prática não saímos de nosso quintal. Muito disso vem de uma cultura protecionista, que se preocupou em se desenvolver internamente, mas se esqueceu que conhecimento e progresso se constroem em conjunto, num ambiente de troca.
Inicialmente, o Brasil investiu na indústria e meio que parou por aí. Por diversos outros motivos políticos, acreditou que só isso seria suficiente para ir longe e manter o crescimento. Hoje, pagamos um preço alto por essa falta de visão. Precisamos correr contra o tempo para atender aos padrões internacionais e criar uma base econômica sólida e menos dependente do consumo interno.
A única alternativa para o governo Bolsonaro cumprir o que prometeu em Davos está justamente em incentivar economicamente que se mude essa cultura empresarial. Precisamos estimular o comércio internacional, mas antes de mais nada, estar organizado para encarar a preparada concorrência que encontraremos lá fora. Temos que falar a língua das normas mundiais. A saída está em uma gestão mais eficiente e com padrões que atendam às melhores práticas internacionais.