Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
Depois da assinatura do acordo de livre-comércio com o Chile, que deverá apressar o tratado do Mercosul (Argentina, Peru, Paraguai, Uruguai e Venezuela, que está suspensa) com a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Peru), o Brasil agora, nos dias derradeiros do governo Temer, procura fortalecer suas relações comerciais com o México. Em 2017, o fluxo de trocas entre os dois países alcançou US$ 8,8 bilhões, registrando um crescimento de 19% em relação a 2016, com importações de US$ 4,2 bilhões e exportações de US$ 4,6 bilhões.
Como esse acordo, provavelmente, não será assinado neste ano, causa preocupação a posição a ser tomada pelo governo que tomará posse dia 1º de janeiro de 2019, já que não se sabe se a atual diretriz da política de comércio exterior será mantida. Ou tumultuada por alguma declaração extemporânea, como tem ocorrido em outras áreas.
Com o México, as conversações, até agora, têm-se limitado ao âmbito dos acordos de complementação nºs 53 e 55, assinados em 2002. O processo do acordo complementar nº 53, que já foi discutido em nove rodadas negociadoras, abrange questões tarifárias e não tarifárias, como serviços, compras governamentais e medidas sanitárias e fitossanitárias. Já o acordo complementar nº 55 prevê negociações sobre o comércio automotivo bilateral, setor que em 2017 representou cerca de 30% das exportações e 40% das importações brasileiras.
Hoje, o México é responsável por 2,6% das importações brasileiras, enquanto o Brasil participa com apenas 1,2% do total dos bens importados pelos mexicanos, embora em 2007 esse percentual tenha chegado a 2%. Apesar da perda de importância, o México se mantém entre os principais parceiros comerciais do Brasil, mas o fluxo global do comércio entre os dois países é muito reduzido, levando-se em conta que ambos respondem por 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina.
O que causa preocupação é que o recente acordo assinado entre Estados Unidos, México e Canadá (USMCA), que substitui o antigo Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), pode afetar negativamente as exportações brasileiras para a nação mexicana, que teria de produzir mais localmente e priorizar o comércio com os parceiros. Como o novo governo brasileiro, aparentemente, pretende adotar uma política de alinhamento automático com os Estados Unidos, espera-se que esse novo acordo não venha a reduzir ainda mais o limitado espaço que o Brasil tem no mundo para os seus produtos manufaturados. Afinal, para o Brasil, o México representa um mercado de manufaturados.
Seja como for, a tendência agora é que o interesse do México em fechar um acordo não seja tão intenso como era no começo de 2018, o que equivale a dizer que a saída para o Brasil é procurar assinar mais acordos bilaterais ou com blocos a fim de aumentar suas exportações de manufaturados, já que dispõe de mercado à vontade para os seus produtos primários (commodities).