Terça, 07 Mai 2024
Um dos principais projetos que o governo sandinista de Daniel Ortega, 61, deve oficializar nos próximos meses revela a característica pragmática que o presidente nicaraguense deve imprimir às relações internacionais.

A Nicarágua quer construir um novo canal do Panamá, aproveitando seu litoral banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico e um imenso lago, que ocupa 7% do seu território, sendo assim uma eclusa natural.

A informação foi dada a O TEMPO pelo viceministro de Relações Internacionais do governo sandinista, Manuel Coronel. Em sua casa, na área central de Manágua, o vice-ministro, que atuou no primeiro governo sandinista, de 1979 a 1990, diz que o canal é sonho nicaraguense das primeiras décadas do século passado e que, agora, torna-se viável porque o custo não seria tão alto – cerca de US$ 12 bilhões – e porque seria executado em consórcio entre empresas estatais e privadas de vários países.

Além disso, o canal impulsionará a frágil economia do país, baseada em produção agrícola, rum e charutos, com exportação anual de US$ 2 bilhões e importações de US$ 1 bilhão.

Atualmente, o comércio exterior do país conta apenas com o canal do Panamá, sobrecarregado. O vice-ministro contou que o Brasil pode ser um importante integrante do consórcio – ele tem a carta da então estatal Companhia Vale do Rio Doce, de 1984, se propondo a participar da obra.

Os representantes brasileiros presentes na posse de Ortega, no último dia 11, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, e o assessor para Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, entregaram ao presidente da Nicarágua uma carta do presidente Lula, convidando Ortega a visitar o Brasil.

Ortega imediatamente aceitou, dizendo que deve propor a data nos próximos dias, e convidou Lula a ir à Nicarágua. Dulci e Garcia responderam que o brasileiro aceita o convite.

Um dos temas a ser tratado na viagem do sandinista ao Brasil deve ser a construção do canal.

Cooperação
A reunião entre Dulci, Garcia e Ortega aconteceu ao final do extenso dia da posse, quase à meia-noite, num coquetel oferecido às delegações estrangeiras, num pátio próximo ao Ministério de Relações Internacionais.

No encontro, o presidente da Nicarágua afirmou que seu país espera muito das relações com o Brasil. “Queremos ter boas relações com a Venezuela de Chávez, que assinou acordo para construir aqui uma refinaria, entre outras parcerias. Mas esperamos muito do Brasil, inclusive na área energética, na qual a Nicarágua vive crise”, contou.

A política externa do governo Lula pode ser espécie de modelo para o governo sandinista: tem boas relações com governos à esquerda, mas também se relaciona bem com o governo Bush e a União Européia.

“Não há mais a Guerra Fria. Temos que ser pragmáticos”, ponderou, na reunião, o vice-ministro de Relações Internacionais”.

Ortega recebeu, na semana da posse, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para discutir acordos comerciais, e ainda falou ao telefone com George W. Bush, que telefonou ao sandinista para dizer que quer cooperar com seu país.

Sandinistas passaram das armas à política

MANÁGUA – Às vezes, algum empresário da Nicarágua pergunta, através da imprensa, em que Daniel Ortega acredita: se troca afagos políticos com Hugo Chávez e Evo Morales, o que conversa com George W. Bush?

A dúvida cresceu após o sandinista aceitar o convite do presidente venezuelano e aderir à Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba). Mas o próprio Ortega disse que a Nicarágua permanece no bloco centro-americano, negociando com o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), com a União Européia e abrindo conversas com o Mercosul e os asiáticos.

Ortega tem suas razões para o pragmatismo – além do mundo globalizado, ele foi eleito com apenas 38% dos votos. E boa parte dos 62% dos eleitores que se dividiram entre outros candidatos o fizeram por temer novo confronto com os Estados Unidos, como aconteceu no primeiro governo sandinista.

“Estávamos dialogando com os empresários do país, quando veio (Ronald) Reagan e financiou a guerrilha dos ’contra’, por cinco anos, prejudicando muito nosso governo,” lembra Manuel Coronel, viceministro de Relações Internacionais de Ortega.

“A própria Frente Sandinista não é mais um grupo guerrilheiro e sim um partido polítíco”, disse a O TEMPO, em seu gabinete, o segundo político na hierarquia sandinista, o prefeito de Manágua, Dionísio Marenco.

Ao ser questionado se hoje a Frente Sandinista é socialista ou social- democrata, Marenco responde: “Somos social-democratas, com fortes compromissos com os pobres”.

Aliás, Marenco é amigo pessoal do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, a quem deve visitar nos próximos meses, inclusive na perspectiva de fazer cooperação.

Ambos têm um amigo comum, o mineiro Cláudio Galeno, assessor especial de Pimentel. Galeno é casado há décadas com a sandinista Maira Vega, ex-cônsul geral da Nicarágua no Brasil pelo primeiro governo sandinista.

O novo governo Ortega deve trabalhar em duas frentes: o pragmatismo, que é a marca da obra do canal que deseja construir, e o charme da esquerda, que o próprio canal pode imprimir.

Os sandinistas lembram que a Nicarágua sonha com o canal desde 1900. Mas, segundo o historiador Aldo Díaz, os Estados Unidos, após construírem o canal do Panamá em 1912, impediram que prosperasse o sonho nicaraguense, orientando os Somoza, pai e filho, que por 45 anos dominaram a Nicarágua, a esquecer o canal.

Brasil poderá “exportar” combate à fome

MANÁGUA – “O Brasil quer ter papel importante nas relações com a Nicarágua”, disse o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, em entrevista exclusiva na Embaixada brasileira em Manágua.

Ele sabe que Ortega não se propõe a ter alinhamentos automáticos e afirma que o governo Lula está pronto a ter relações com a Nicarágua.

O Brasil poderá exportar know-how em áreas como a de energia, fornecendo de tecnologia para infra-estrutura e combate à fome, já que o governo Ortega deve ter programa semelhante para boa parte da população do país, de mais de 4 milhões de pessoas.

Outro setor que pode interessar ao Brasil, a empresas públicas ou privadas, é o de água, porque Ortega anunciou que estuda sua privatização.

Como o governo brasileiro sabe que a Nicarágua precisa de ajuda ou parcerias de curto prazo, o presidente Lula deve vir ao país acompanhado de comitiva de ministros e de empresários.

Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, disse que são muito diversificadas as possibilidades de relacionamento entre o governo brasileiro e os sandinistas.

O Brasil está disposto a atuar em vários campos, como econômico, social e mesmo político- diplomático. Uma Nicarágua sandinista, com política externa não neoliberal, mais semelhante à política externa brasileira que a venezuelana, pode ser um importante trunfo nos bastidores da queda de braço que Hugo Chávez abriu com o governo Lula, na disputa pela liderança da América do Sul.

Ainda mais para Chávez, que estaria buscando ocupar os espaços deixados por Fidel Castro, se este deixar mesmo o cenário político, perder o ainda charmoso apoio sandinista seria uma derrota.

Fonte: O Tempo - 22 JAN 07

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