Apesar das divergências existentes entre todos os envolvidos na crise da aviação civil no País, há um consenso entre governo, empresas, sindicatos e até investidores: o caos nos aeroportos deverá resultar em uma reestruturação do setor. A ministra-chefe da casa civil, Dilma Roussef, afirmou ontem que esse será o principal efeito da crise. Segundo ela, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda não tem o amadurecimento atingido pelas demais.
“A Anac tem menos de um ano. Pegou um setor monopolista, sem política clara de aviação”, diz. A ministra qualifica o problema do setor aéreo de “complexo” e defendeu a permanência do ministro da Defesa, Waldir Pires, no cargo. Célio Eugênio, gestor de Aviação e representante do Sindicato dos Aeronautas, concorda que é preciso reestruturar a aviação no País. “Essa crise não vai ser resolvida com a fiscalização de overbooking [reserva de passagens acima da capacidade dos aviões] ou a proibição de fretamentos. O que acontece é que a gestão pública não acompanha a gestão das empresas privadas”, afirma. Para ele, o governo não deveria colocar a culpa da crise em alguns pontos específicos. “Falta macroplanejamento”, diz Eugênio.
Um dos pontos da possível reestruturação que animam o setor é o aumento da participação do capital estrangeiro nas empresas do setor, cujo o limite atual é 20% e o governo anunciou estar estudando a possibilidade de aumentar o índice. Por conta dessa especulação, na quarta feira, os papéis preferenciais da TAM valorizaram 5,11% e foram vendidos a 65,85 reais, e os da Gol, em alta de 3,77%, foram vendidos a 62,99 reais.
Ontem, ainda animados com a possível reestruturação, as ações preferenciais da TAM fecharam em alta de 0,98%, cotadas a R$ 66,50, e as ações preferenciais da Gol também encerram em alta de 0,71%, a R$ 63,44.
Apesar do entusiasmo do mercado em relação à possível mudança, Eugênio, do Sindicato dos Aeronautas, afirma que a medida não é suficiente para regularizar o setor. “Aumentar o capital vai dar fôlego às empresas mas não à gestão publica. Pode ser positivo, mas se aumentar a capacidade das empresas vai demandar uma maior infra-estrutura. Não é só uma ponta do sistema que tem de crescer, tem de ter harmonia”, diz.
Força-tarefa
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a criação de uma força-tarefa para a monitoração dos sistemas de reserva de todas as empresas de transporte aéreo, até a regularização dos serviços. A portaria foi publicada ontem no Diário Oficial.
A força-tarefa será composta por integrantes da Superintendência de Serviços Aéreos e das Gerências Regionais, e coordenada pelo diretor da agência, Josef Barat. A determinação, segundo a portaria, deve-se ao número “anormal” de cancelamentos e atrasos de vôos no período entre 20 e 24 de dezembro, “que acarretou transtorno sem precedentes no sistema de transporte aéreo”.
O presidente da Infraero (estatal que administra os aeroportos), brigadeiro José Carlos Pereira, acredita que é preciso criar uma regulamentação sobre a prática de overbooking e que os problemas dos últimos dias são de responsabilidade da Anac.
Enquanto o ministro Waldir Pires assegurou que a população deverá ter uma situação confortável nos aeroportos durante o feriado do ano novo, Eugênio afirma que isso dificilmente será realidade. “Vai haver algum tipo de problema. É uma crise estrutural e será preciso rever muitos pontos na estrutura do sistema”, diz.
Companhias
A TAM informou ontem que reforçou seu efetivo nos aeroportos, elevando em 20% a equipe, principalmente em Congonhas e Guarulhos, em São Paulo; Tom Jobim, no Rio; e Brasília. “O reforço inclui pessoal de check-in, embarque, comercial, cargas e lojas”, diz a companhia, que informa ter concluído 80% das 5 mil reclamações de perda de bagagem.
A GOL emitiu comunicado em que diz que “seus sistemas impedem automaticamente as vendas de passagens em número superior aos assentos disponíveis”.
Fonte: DCI - 29/12/06
