Uma semana após a tragédia de Itaoca, apontada como causa da mortandade de peixes no Rio Ribeira, docentes do Curso de Engenharia de Pesca da Unesp de Registro realizaram investigações para a obtenção de dados que permitissem avaliar o possível impacto na atividade pesqueira.
Amostragens foram realizadas entre Registro e Sete Barras. Vários métodos foram utilizados de forma independente, no intuito de quantificar a distribuição e abundância das espécies. Em virtude de estarmos na época do defeso no Rio Ribeira (período de proibição da pesca amadora embarcada e da pesca profissional), a Companhia de Polícia Militar Ambiental aprovou a solicitação de permissão para pesca científica.
Um total de 17 espécies de peixes e uma de camarão foram identificadas. As espécies mais abundantes foram a Manjuba, com 34,3%, e o Curimbatá, com 22,6%. A terceira espécie mais abundante foi o Mandi, com 7,8%. O restante, 35,2%, esteve dividido entre as outras 15 espécies. Todos os peixes estavam em avançado estado de decomposição, o que evidenciou que a sua morte ocorreu alguns dias antes, em trechos do Rio Ribeira localizados acima de Registro.
Os peixes mortos foram observados tanto flutuando na superfície, como também retidos nas margens do rio. No percurso de retorno desde Sete Barras, que durou 60 minutos, foi realizada amostragem das margens a cada cinco minutos no intuito de quantificar a distribuição da ictiofauna morta. Verificou-se que na maioria dos locais não havia acúmulo de peixes mortos (61,5%) e, que dos locais com acúmulo, 80% estavam mais próximos de Registro do que de Sete Barras. Este resultado permite concluir que, uma semana após a tragédia em Itaoca, o maior volume de peixes mortos estaria passando por Registro e que sua mortandade está associada aos deslizamentos de terra ocorridos nas áreas à montante, distantes do município.
Este evento ocorre a poucos dias de finalizar o período de defeso, e portanto a mortandade de peixes preocupa a milhares de pescadores que esperavam ansiosos para voltar ao trabalho. O nível do prejuízo para a atividade pesqueira ainda é incerto. A manjuba, uma das espécies mais importantes do ponto de vista comercial e ecológico, é uma espécie que migra do mar para o rio com fins reprodutivos. A pesca desta espécie no Rio Ribeira ocorre entre setembro e março. É provável que o final da safra deste ano tenha sido comprometido em virtude da alteração nas condições ambientais no rio. Já o curimbatá é uma espécie de interesse comercial que ocorre ao longo do ano todo, cujo ciclo de vida restringe-se às águas doces do rio. A grande quantidade de exemplares adultos mortos desta espécie é indício de uma menor abundância dessa espécie para os próximos anos, em decorrência de uma possível diminuição nas taxas reprodutivas.
Entretanto, faz-se necessário o acompanhamento das atividades pesqueiras ao longo do próximo ano para obter as primeiras conclusões acerca do impacto desta tragédia nas populações dos recursos pesqueiros e na atividade pesqueira como um todo.
Confira aqui mais imagens do trabalho feito pelos docentes do curso de Engenharia de Pesca.