publicado originalmente pelo Brasil Econômico e com informações da AFP
As tensões cresciam nesta sexta-feira em torno dos países emergentes, que temem se transformar no ponto fraco da economia mundial após de o peso argentino, o rublo russo e a libra turca despencarem esta semana, além dos problemas da indústria chinesa.
Os mercados financeiros asiáticos registraram fortes quedas nesta sexta-feira, preocupados com uma desaceleração da economia da China: na véspera, foi anunciada uma queda na produção industrial chinesa em janeiro, pela primeira vez em seis meses.
Foto: Enrique Marcarian/Reuters
A presidente Cristina Kirchner tenta não falar de temas econômicos
Por sua vez, a bolsa de Madri - onde são cotadas muitas empresas com interesses na América Latina - foi muito afetada, fechando em queda de 3,64% pela situação na Argentina.
O peso argentino, que foi se desvalorizando desde o começo de 2013, sofreu uma queda de quase 14% entre quarta e quinta-feira, a maior desde 2002.
O governo argentino afirmou que foi ele que administrou essa queda e surpreendeu nesta sexta-feira ao permitir aos particulares a compra de divisas, suspendendo uma restrição vigente desde 2011.
A libra turca continuava, nesta sexta-feira, sua queda, batendo novos mínimos históricos em relação ao dólar e ao euro, apesar de uma massiva e urgente intervenção na quinta-feira do banco central para sustentar sua divisa. Algo similar ocorria com o rublo russo que, nesta sexta-feira, caiu a um mínimo histórico em relação ao euro.
Todas essas divisas estão muito fragilizadas desde o verão (no hemisfério norte) pelo endurecimento da política monetária do Federal Reserve dos Estados Unidos, embora cada país tenha, além disso, razões internas que também explicam a queda de suas moedas nacionais e a retirada de capitais.
A presidente Dilma Rousseff quis tranquilizar, nesta sexta-feira, no Fórum Econômico Mundial de Davos, sobre os efeitos que a retirada de estímulos econômicos nos Estados Unidos teve no Brasil.
No ano passado, o real se desvalorizou 12,96% em relação ao dólar em meio a uma importante retirada de capitais.
Segundo ela, essa retirada de capitais se está reduzindo e por mais que haja turbulências, "as reservas de US$ 376 bilhões são uma garantia contra essa volatilidade".
Contudo, a economia brasileira, a sétima do mundo, passou de um espetacular crescimento de 7,5% em 2010 a 2,7% no ano seguinte e um fraco 1% em 2012.
Também presente em Davos, o diretor do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, explicou nesta sexta-feira que as políticas monetárias dos países mais ricos estão descoordenadas, o que evita uma retirada total de capitais nos mercados emergentes.
Os bancos centrais das economias mais ricas (o Fed norte-americano, o Banco do Japão, o Banco Central Europeu e o Banco de Inglaterra) adotaram nos últimos anos políticas monetárias muito flexíveis e generosas, com baixas taxas de juros, para apoiar o crédito e a recuperação econômica.
A consequência desta política foi um fluxo maciço de capitais para os países emergentes, com taxas mais atrativas, entre eles o Brasil.
Desde que o Fed anunciou em maio do ano passado que reduziria seu plano de estímulo à economia - o que foi efetivo no final de 2013 - produziu a tendência inversa, e houve fortes retiradas de capitais dos mercados emergentes.
Contudo, o Banco do Japão e o BCE não começaram ainda a endurecer sua política monetária.
As estratégias "de saída (dessas políticas monetárias flexíveis) não estão sincronizadas, o que está bem de um certo ponto de vista", disse Tombini.
O presidente do BC brasileiro acrescentou que "desta forma, não temos uma retirada em massa de recursos, que seriam atraídos para o mundo desenvolvido".