A inflação recuou pelo oitavo mês consecutivo na Venezuela, atingindo em julho o menor nível desde dezembro de 2008. Analistas creditam o desempenho ao aperto no sistema de controle de preços do governo e no aumento de importações que, além de baratear os produtos disponíveis, ajudam a atenuar a escassez de alguns itens neste ano eleitoral.
Segundo o governo, a inflação no mês julho foi de 1%, contra 1,4% em junho, chegando a uma taxa anualizada de 19,4%. Nos 12 meses encerrados em junho, o índice havia fechado em 21,3%.
Ainda que seja um dos mais altos da América Latina, o índice oficial vem recuando nos últimos três anos. Nos primeiros sete meses do ano, os preços subiram 8,6% no país, contra 16% no mesmo período do ano passado e 18% entre janeiro e julho de 2010, segundo o presidente do Banco Central Venezuelano, Nelson Marentes.
Segundo Pedro Silva Barros, titular da missão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na Venezuela, o controle de preços, associado ao maior acesso de divisas [a um câmbio mais favorável] para a importação de produtos essenciais, como alimentos e itens de construção civil, tem contribuído para desacelerar a inflação no país.
O governo do presidente Hugo Chávez vem adotando distintos sistemas de controles de preços desde 2003. No ano passado, resolveu apertar ainda mais esses controles, ao criar a Superintendência Nacional de Custos e Preços (Sundecop), com a finalidade de determinar o "preço justo" para diferentes produtos de consumo de massa, como alimentos, bebidas e produtos de limpeza. A Sundecop estuda a composição dos custos desses produtos e determina a margem de lucro de cada empresa fabricante, o que gerou muitas críticas no país.
Críticos associam esse aperto contra as empresas e o aumento no gasto público neste ano a medidas destinadas a ajudar o presidente Hugo Chávez em sua tentativa de se reeleger em 7 de outubro. "[A queda da inflação] é um êxito insustentável, pelas medidas que se tomam para reduzir a inflação", afirma José Antonio Yepes, sócio-diretor da consultoria Datanalisis.
Para Yepes, Chávez usa uma receita perigosa, ao aumentar as importações, que chegam a US$ 54 bi anuais, e dar "subsídios generalizados às tarifas públicas, além de aumentar o gasto público neste ano eleitoral - uma bomba-relógio que, segundo ele, pode estourar em 2013. O déficit primário, diz, já atinge 15% do PIB, nível considerado elevado. "Esse déficit vai ter que ser financiado com dívida. E a dívida pública já está em 50% do PIB, ou US$ 180 bilhões."
Para ele, com o petróleo a mais de US$ 100 o barril, o governo ainda tem "alguma margem" para se endividar, "mas tudo tem limite". "Uma desvalorização do bolívar será inevitável no ano que vem. Algum ajuste terá que ser feito."
Fonte: Valor Econômico