escrito por Marcel Jabbour, para o Território da Música
A internet modificou o mercado musical de diversas formas. Mais sutil do que o livre compartilhamento de músicas, hoje já é possível ter uma idéia do ‘setlist’ que a banda irá apresentar, levando em conta seus últimos shows. Isso não fez com que as mais de 20 mil pessoas que estavam na Chácara do Jockey deixassem de vibrar com “Prison Song”, música que abriu o show do System Of A Down, em São Paulo, pontualmente às 21h30. Tinha fim uma espera que durava mais de dez anos.
A sequência com "B.Y.O.B" e "Revenga" já mostrava que o quarteto armeno-americano formado por Serj Tankian (vocal e teclado), Daron Malakian (guitarra e vocal), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria) voltava de um hiato de quatro anos com muito pique, entrosamento perfeito, peso e melodia.
Aliás, não é comum bandas que consigam conciliar tão bem o peso do heavy metal com melodias tão bem trabalhadas, cheias de influência da música árabe. As vozes de Tankian e Malakian parecem ter sido feitas uma para a outra, se encaixando perfeitamente entre o grave e o agudo. Odadjian não para um segundo sequer, “maltratando” seu baixo, enquanto Dolmayan chama a atenção pela concentração, técnica e precisão na bateria.
“Needles”e “Deer Dance” deram continuidade ao show, que foi baseado no álbum “Toxicity” (2001), maior sucesso comercial da banda (220,000 cópias vendidas). Foram dez músicas desse álbum, sete do “Mezmerize” (2005), seis do “Hypnotize” (2005), cinco do “System of a Down” (1998) e uma do “Steal This Album!” (2002). Isso mesmo. Foram 28 músicas, mais a introdução de “Soldier Side”, em quase duas horas, para fã nenhum botar defeito.
Empolgado, o público cantava e urrava junto e as rodas de bate-cabeça se espalhavam, levantando a já conhecida cortina de terra da Chácara do Jockey. Visualmente, a fumaça até cria um efeito bonito, mas na prática fica difícil de respirar. Parte dos homens tirava a camiseta para cobrir o rosto. Sem poder fazer o mesmo, as mulheres, que não eram poucas, tapavam o nariz com a mão mesmo.
Nada que atrapalhasse o show, que continuou intenso, alternando porradas, como “Psycho”, “Science”, “Forest”, “Vicinity of Obscenity” e o ‘hit’ “Chop Suey”, com músicas mais calmas como “Lonely Day”, “Lost In Hollywood” e “Aerials”, outro grande sucesso da banda. Interessante como a platéia interagia, ou de forma furiosa, pulando e se espremendo, ou cantando em coro, regido por Tankian, que parece sempre tranquilo e sorridente, e Malakian, mais “pilhado” e ensandecido.
E a estreia do SOAD em terras (literalmente) brasileiras não podia acabar de outra forma senão com as pesadíssimas e esperadas “War?”, “Toxicity”e “Sugar”, na sequência, sem dar tempo para respirar. Foi o ápice da energia e interação entre a galera e a banda, que agradeceu e se despediu. Só faltou a promessa de voltar em breve, que, com certeza, seria muito bem recebida pelo público.