"The Psychopath Test: A Journey Through the Madness Industry"
Jon Ronson. Riverhead. 288 págs., US$ 25,95
Psicopatas, de acordo com Jon Ronson, são encantadores. Geralmente, também são espertos, ficam entediados rapidamente e brincam com o poder. Observam o sofrimento com interesse, têm um senso de valor próprio inflado, mentem compulsivamente e raramente assumem a culpa por seus erros. Por essas e outras razões, tendem a se congregar em lugares como Londres e Nova York. E uma porcentagem relativamente alta deles acaba no comando de grandes empresas.
"The Psychopath Test" trata dos resultados de uma pesquisa de Robert Hare, psicólogo canadense que é uma autoridade em psicopatologias e coautor de "Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work". Hare é também autor do "Psychopathy Checklist-Revisited (PCL-R)", que se tornou o teste de avaliação de diagnósticos sobre o comportamento insano. Em décadas de pesquisas, ele constatou que muitos líderes corporativos apresentam uma pontuação acima da média nesse quesito. Na verdade, extremamente alta.
Estudos sugerem que cerca de 1% da população em geral pode ser qualificada como genuinamente psicopata, mas Hare acredita que cerca de 4% das pessoas com poder de decisão substancial podem ser classificadas como tal - e sua influência é enorme. Hare chega a dizer a Ronson que gostaria de passar menos tempo estudando psicopatas nas prisões e mais tempo estudando aqueles que estão no mercado de trabalho. "Os ’serial killers’ arruínam famílias", diz Hare. "Os psicopatas corporativos, políticos e religiosos arruínam economias, arruínam sociedades."
Embora Ronson se apoie nas pesquisas de Hare, ele diz que outros psicólogos pensam da mesma maneira. "Quanto mais você sobe na escada, mais sociopatas vai encontrar, diz Martha Stout, ex-professora da Harvard Medical School e autora de "The Sociopath Next Door". (Ronson usa os termos sociopata e psicopata alternadamente.)
Para testar a tese, Ronson visitou "Chainsaw" Al Dunlap, ex-presidente-executivo da Sunbean e autor de "Mean Business", que é ao mesmo tempo celebrado e vilipendiado por sua capacidade de demitir pessoas em grandes números. Ronson o encontrou em sua mansão na Flórida, decorada com tubarões, leões, panteras, águias e falcões, e muito ouro. Dunlap marcou uma pontuação bastante alta no teste de insanidade.
Ronson explica que, como diretores de prisões sabem há muito tempo, psicopatas são incuráveis. Sua deformidade é física - um lóbulo temporal de seu cérebro parece não transmitir ou responder a sinais emocionais normais. É quase um alívio saber que há uma diferença física que permite a tantos presidentes-executivos de empresas encarar uma câmera e dizer que não vão cortar os dividendos, bem antes de fazerem exatamente isso.
Os psicopatas também têm outras vantagens. Segundo Ronson, aprendem a disfarçar emoções para manipular suas vítimas. "Tente lhes ensinar empatia e eles a usarão para enganar", escreve. A terapia é algo que usam em benefício próprio e vídeos sobre assédio no local de trabalho são pouco mais que instrumentos de treinamento. Não há nada a fazer a não ser trancafiá-los - ou pô-los no comando.
Isso faz todo sentido. Intelectuais angustiados e cheios de simpatia pelo homem comum não deveriam estar no comando. Seriam inúteis na tomada de decisões repetitivas sobre quem demitir e a quem conceder aumento de salário. Os executivos da área de recursos humanos sabem disso há muito tempo. Devem ter aprendido que o psicólogo e guru da administração Cadiv McClelland dividiu as personalidades dos trabalhadores em três categorias: aqueles que precisam de poder, aqueles que precisam ter sucesso e aqueles que querem ser amados. Ele desenvolveu seu próprio teste e constatou que aqueles que têm muita necessidade de ter sucesso e uma grande necessidade de adoção - em outras palavras, pessoas realmente grandes -, dão excelentes representantes de atendimento aos clientes. Aqueles que têm sede de poder - e não poderiam se importar menos com o que as pessoas pensam deles - acabam comandando as coisas.
Talvez aqueles que nunca chegarão ao topo fiquem aliviados em saber que não nasceram com uma deformidade emocional terrível. Aqueles que em condições de progredir podem considerar "The Psychopath Test" como um guia de carreira. Dada a proliferação dos livros de aconselhamento ilógicos que oferecem modelos como guerreiros e zumbis, o livro de Ronson pode muito bem dar origem a uma sequência: "The Psychopath CEO: Empowering Tools and Career-Changing Lessons from the Insane Asylum" (O CEO psicopata: meios de empoderamento e lições de um asilo de loucos para mudar de carreira).
Fonte: Valor Econômico