Embora o fluxo cambial brasileiro, que vinha experimentando uma explosão: o saldo de quase US$ 34 bilhões, de janeiro a junho, foi 11,8 vezes maior do que o acumulado do primeiro semestre de 2010, quando somou US$ 3,363 bilhões, segundo os números divulgados hoje pelo Banco Central.
O movimento cambial financeiro representa mais de duas vezes o movimento cambial derivado de importações e exportações. E, ao contrário deste, não tem como “acomodar” ao longo do tempo as variações do câmbio e, no caso, do preço das mercadorias exportadas e importadas.
No mundo das finanças internacionais , os movimentos podem ser extremamente bruscos. E nossa economia fica exposta a eles, por mais fortes que sejam os mecanismo de proteção: sejam os públicos – manutenção de reservas cambiais enormes – , sejam os privados, com a formação de “hedge” cambial em posições “compradas” em dólar pelos bancos.
O agravamento da crise europeia nos tirou o momento fantástico que tivemos, há pouco mais de dois meses, para avançar nas pressões pelo restabelecimento de controles cambiais mais efetivos, que pudessem funcionar como “comportas”, impedindo as variações muito rápidas nestes fluxos. Até ali, até o FMI vinha se mostrando, embora não muito, sensível a ele.
Esse momento se foi.
A insegurança que vive agora o capital com os problemas europeus e o impasse em torno da dívida pública americana – mais agora, com a decisão chinesa de aumentar seus juros – estão levando a uma volatilidade cada vez maior nestes fluxos.
Note como, embora tenhamos passado de enormes saldos para pequenos déficits no fluxo, tanto o movimento de entrada quanto o de saída – e as compras de dólar futuro pelos bancos - continuaram intensos, cerca de um terço acima do registrado no ano passado, já em plena recuperação econômica.
E isso torna mais delicada a posição do Banco Central em relação à taxa de juros, porque é sua manutenção em um alto patamar real que torna atraente a entrada como fonte para o crédito interno, mas não impede, claro, a saída.
A “roleta” de entrada de capital representada pelo IOF certamente funciona – os números provam – para controlar moderadamente os ingressos de dólar. Mas não existe “roleta” para a saída deles. E, muito menos, qualquer limite à flutuação cambial, que é uma espécie de “heresia” quando se fala em mercado de capitais.
O apetite do capital é insaciável. Tivemos uma “onda” interna pressionando pela elevação da taxa de juros, com o argumento da inflação. Agora, temos uma “onda” basicamente externa, acenando com a tal “bolha” de crédito que estaria em situação de inminente explosão em nosso país.
Basicamente, trata-se do mesmo e rentável “terrorismo de mercado”.
Mas precisamos, sim, desarmar a “bomba” desta vinculação excessiva entre o crédito interno e a captação de recursos externos. E não ter medo de que agirmos em defesa da economia brasileira vá espantar os capitais realmente produtivos daqui.
Temos de aproveitar a atração do “Brasil que cresce” (apesar de tudo) para nos contrapormos ao “mundo de roda-presa”. Sem imprudências, mas com persistência.
Estamos numa daquelas situações onde ficar parado é tomar o pior caminho.
Fonte: Tijolaço - Blog do Brizola Neto