Há um ditado no meio jornalístico, para ilustrar a fugacidade das notícias que diz: o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã. Mas alguns dos nossos jornais, por razões políticas, parecem que embrulham hoje o peixe de ontem.
Mostrei, ontem cedo aqui, uma montagem de como poderia ter sido a capa do jornal O Globo de ontem. E não foi, embora o próprio jornal registre, na primeira página, que tinha a informação desde terça-feira. E que, aliás, foi manchete de capa, ontem, do Estadão.
E porque não deu? Não é, nem de longe, incapacidade de seus jornalistas, muito competentes, na grande maioria. Tanto que é verdade que eles tinham a informação ao mesmo tempo que o Estadão, que a publicou online às 20 horas de terça-feir.
Simplesmente porque o comando do jornal não sabia o que fazer com a informação que – pecado dos pecados – mostraria a importância do Estado para evitar os abusos e deformações do “livre-mercado” que cultuam como um deus e – pior ainda – reforçariam o apoio à Presidenta Dilma Rousseff.
Tudo fica claro como um teorema com uma simples pergunta: se os preços tivessem subido, nessa proporção, isso não teria sido manchete? Óbvio que sim.
É só olhar as imagens aí em cima: a montagem que o Tijolaço fez ontem cedo, à esquerda, e a capa real do jornal de hoje. Claro que houve o cuidado de tirar o nome Petrobras e colocar BR. Petrobras é só para aumentar…
Hoje, foi para a manchete porque o assunto se tornou evidente e se praticou a máxima do folclórico “Neném Prancha” quando viu que estava perdendo um jogo que não poderia ganhar: “arrecua os arfes pra evitar a catastre”.
Mas, ressalte-se que, infelizmente, o jornal dos Marinho não está sozinho nesta empreitada de lesa-notícia.
A Folha de hoje – que vejo na internet – não achou um mísero centímetro em sua primeira página para noticiar o que traz lá dentro, no caderno de economia: uma queda de R$ 0,30 por litro no preço do etanol hidratado.
No primeiro caderno, notícia de economia, só o que pode ter impacto “ruim”: na página A11, “Indicadores de abril apontam para ritmo menor da indústria”.
Os nossos jornais praticam o critério “Ricupero” de jornalismo: o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde. Bom e ruim para que e para quem, nem se precisa dizer.
Fonte: Tijolaço - Blog do Brizola Neto