por Luiz Carlos Azenha
Como morador do bairro, pensando exclusivamente em mim, acho que o Metrô ficaria melhor na Angélica (400 metros de casa) do que no Pacaembu (600 metros).
Logo o Corinthians terá seu próprio estádio, o Santos vai jogar na Vila Belmiro, o Palmeiras no Parque Antarctica. O que será do Pacaembu vazio, com uma estação de metrô bem em frente?
Como a Globo já controla o Museu de Futebol, talvez vá usar o campo para o solteiros vs. casados do fim de ano.
É curiosíssimo, no entanto, notar que uma associação batizada de Defenda Higienópolis tenha eliminado uma estação na principal avenida que corta o bairro, o que facilitaria imensamente a integração com os ônibus.
A obra de ampliação do shopping Higienópolis danou de vez o trânsito na região, mas aparentemente contra isso eles não se organizaram.
“Pobre” FAAP (universidade de maior renda per capita do Brasil), ficou de fora da linha dos universitários, lamentou um. O metrô traria “gente diferenciada”, lamentou outra.
Eu daria tudo para ver os estudantes da FAAP pegando metrô lotado às seis da tarde, mas não vai acontecer, esteja onde estiver a estação. E onde é que eles deixariam as Ferrari?
Pior são os comerciantes que protestaram contra a estação na Angélica. Só pode ser piada, é o mesmo que espantar uma clientela potencial de milhares de pessoas…
Fiquem com os textos sobre a polêmica:
13/08/2010 – 07h51
Moradores de Higienópolis, em SP, se mobilizam contra estação de metrô
JAMES CIMINO, DE SÃO PAULO, na Folha.com
Um grupo de moradores de Higienópolis (bairro nobre da região central de São Paulo) iniciou um movimento com o objetivo de impedir a construção da estação Angélica da futura Linha 6 – Laranja do metrô.
A nova estação deve ocupar o espaço onde hoje há o supermercado Pão de Açúcar, na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe. A obra prevê desapropriações.
Abaixo-assinado elaborado pela Associação Defenda Higienópolis e espalhado por diversos condomínios da região contesta o projeto.
A principal alegação é a de que, num raio de 600 metros do local, já existem mais quatro estações e que a construção deveria ser feita na praça Charles Miller, para atender aos estudantes da Faap e aos frequentadores do estádio do Pacaembu.
No mesmo documento, os moradores manifestam a preocupação de que a obra aumente o fluxo de pessoas na região “especialmente em dias de jogos e shows” e de “ocorrências indesejáveis”.
Outro receio, diz o documento, é que a estação vire um atrativo para camelôs. Para o engenheiro civil Mario Carvalho, síndico do edifício Palmares e um dos criadores do manifesto, a contrariedade à obra é de natureza técnica.
“Eu não sou contra o metrô passar pelo bairro. Mas essa estação fica a menos de um quilômetro da estação Higienópolis. A proximidade inclusive aumenta custos de manutenção dos trens devido ao arranque e à frenagem em curto espaço de tempo.”
Carvalho critica ainda o slogan proposto pelo Metrô à nova linha. “Eles chamam essa linha de ‘universitária’, mas ela passa pela PUC, pelo Mackenzie, mas não passa pela Faap. A estação tinha que ser no Pacaembu.”
“GENTE DIFERENCIADA”
Enquanto escolhe produtos na tradicional Bacco’s Vinhos da rua Sergipe, cujo imóvel pode ser desapropriado pelo Metrô, a psicóloga Guiomar Ferreira, 55, que trabalha e mora no bairro há 25 anos, diz ser contrária à obra.
“Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…”
A engenheira civil Liana Fernandes, 55, cuja filha mora no bairro, retruca a psicóloga: “Pois eu acho ótimo. Mais ônibus e mais metrô significam menos carros e valoriza os imóveis.”
Com um bilhete único na mão, a publicitária Isadora Abrantes, 24, diz que a região precisa de transporte. “As pessoas contrárias à obra são antigas e conservadoras. As torcidas já passam por aqui sem metrô. A única coisa que sou contra é desapropriar o Pão de Açúcar. Tinha que desapropriar o McDonald’s.”
Para Cássia Fellet, ex-presidente da Associação de Moradores e Amigos do Pacaembu, Perdizes e Higienópolis, as críticas à futura estação não são consenso no bairro.
“É um grupo pequeno de pessoas que podem ser desapropriadas. Elas não têm representatividade”, diz. E mesmo solidária aos vizinhos, Fellet diz que o interesse público deve ser prioridade: “Higienópolis precisa do metrô e São Paulo precisa de transporte público”.
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11/05/2011 – 03h03
Droga de elite
Higienópolis (cidade da higiene) rechaçou a chegada do metrô. Haveria uma estação no local onde hoje funciona um supermercado Pão de Açúcar, na av. Angélica, esquina com a rua Sergipe. Morei anos ali.
Para quem não conhece, é um bairro rico e central de São Paulo.
Esse canto abrigaria a ex-futura estação do coletivo, agora deslocada para o Pacaembu, com bem menos concentração de pessoas.
O lobby dos ricos venceu. O governo tucano tucanou de novo diante da pressão dos moradores.
Empregadas, babás, porteiros, faxineiros, feirantes, garis, funcionários do Pão de Açúcar e milhares de empregados do bairro que servem diariamente os moradores continuarão sem a melhor, mais rápida, pontual, organizada e limpa opção de transporte público.
Temia-se o aparecimento de camelôs nas redondezas. De “uma gente diferenciada”, um morador chegou a dizer.
Reclama-se muito que São Paulo não consegue ser cosmopolita, democrática.
Vamos a Nova York e à Europa e voltamos deslumbrados. Carentes da não dependência do carro e saudosos de “civilização”.
Não conseguimos fazer o mesmo onde vivemos.
Conviver com o próprio povo é um porre.
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1/05/2011 – 08h46
Após protestos, governo desiste de metrô em bairro da elite paulistana
Após pressão de moradores, empresários e comerciantes de Higienópolis, bairro de alto padrão no centro da capital, o governo de São Paulo desistiu de uma estação do Metrô na avenida Angélica, a principal do bairro, e vai reativar o projeto de uma estação na praça Charles Müller, no estádio do Pacaembu. As informações foram publicadas nesta quarta-feira (11) na Folha de S.Paulo.
A estação integraria a linha 6-laranja, que vai da Brasilândia, na zona norte, ao centro, passando por bairros como Perdizes, Pompeia e Santa Cecília e universidades como Mackenzie, PUC e Faap.
A proposta de mudança no projeto foi apresentada na semana passada em audiência e surgiu após protestos da Associação Defenda Higienópolis, que reuniu 3.500 assinaturas contra a estação. Os moradores alegam que o metrô no bairro aumentaria o “número de ocorrências indesejáveis” e a área se tornaria “um camelódromo”.
“Prevaleceu o bom senso”, declarou o presidente da entidade, o empresário Pedro Ivanow.
A mudança, no entanto, irritou a Associação Viva Pacaembu. Para a entidade, a estação na praça Charles Müller seria um problema em dias de jogos, quando haveria uma concentração muito grande de diferentes torcidas no local. Hoje, os torcedores se espalham pelas estações Sumaré, Clínicas, Marechal Deodoro e Barra Funda.
“Se o governo decidiu por pressão, sem considerar a análise prévia da demanda, acho pernicioso”, disse a presidente da Viva Pacaembu.
Outro lado
O Metrô informou em nota que a reavaliação da estação Angélica visa obter um “melhor equilíbrio na distribuição das estações ao longo da linha 6-laranja”. A estação, segundo a companhia, ficaria a “apenas 610 m da futura estação Higienópolis-Mackenzie e a 1.500 m da estação PUC-Cardoso de Almeida”.
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Como resultado da polêmica, está sendo convocado, via Facebook, o Churrascão da Gente Diferenciada, que o Eduardo Guimarães propagandeou.
Fonte: Viomundo