O Brasil tem uma geografia que o livra de terremotos e tsunamis, mas não está imune a falhas operacionais e outros imprevistos que podem provocar um desastre nuclear. Também é consenso entre especialistas que o sistema de resfriamento das usinas brasileiras é mais eficaz que o mecanismo utilizado nas usinas japonesas afetadas pelos acidentes naturais. Mas a população que vive nos arredores de Angra 1 e 2 amargam uma grave desvantagem: contam com apenas uma via de saída terrestre que, por sua vez, mostra-se incompatível com a atividade de energia nuclear.
Basta percorrer a Rio-Santos, estrada que dá acesso às usinas de Angra 1 e 2 – trecho da BR 101 no litoral sul fluminense –, para perceber que ela é o principal problema do plano de fuga em caso de acidente na região. Pistas irregulares, estreitas, sem iluminação e deslizamentos de terras com interdições ao longo da estrada atrapalham o plano de emergência, queixam-se moradores e reforçam especialistas. Responsável pela rodovia, o governo federal, por sua vez, informa que vai duplicá-la, em obras já previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).
No trecho da estrada que liga o Rio às usinas – o mesmo previsto como rota de saída pelo plano de emergência em caso de acidente nuclear -, o iG contabilizou oito pontos com obras ou algum tipo de problema que obrigam motoristas a parar ou reduzir a velocidade. Em dois casos, obras de contenção de encostas forçam os veículos a usar apenas uma das duas pistas disponíveis, em esquema de pare e siga. Num terceiro caso mais grave, um deslizamento de terra provocado por chuvas fortes, na madrugada de quarta-feira (16), também interditou a estrada nos arredores das usinas, levando motoristas a parar por algum tempo em congestionamento.
“Se acontecer alguma coisa grave na usina, que obrigue a população local a deixar imediatamente a região, não tem como todo mundo sair ao mesmo tempo apenas por esta estrada”, afirma o motorista de ônibus Carlos Sousa, que percorre um trajeto de cerca de 50 quilômetros entre o bairro de Jacuecanga e Frade – bairro incluído no raio de ação do plano de emergência, em caso de acidente muito grave.
Dependendo do tipo de acidente, a área de contaminação por radiação pode chegar a um raio de 15 quilômetros de distância da usina, numa área onde moram cerca de 45 mil habitantes, segundo associações de moradores locais. A Eletronuclear, que administra as usinas de Angra 1 e 2, afirma que a evacuação é mais provável, em caso de acidente, num raio de 3 a 5 quilômetros das usinas, por considerar que incidentes gravíssimos, envolvendo por exemplo explosão ou derretimento do reator, são de probalidade remota. Mas também considera a distância de 15 km para evacuação em casos extremos.
O professor de Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ Aquilino Serra avalia que os moradores têm razão em estar preocupados. Ele lembra que um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aponta falhas no plano de emergência no que diz respeito à evacuação da população local. Entre os problemas, as frequentes quedas de barreira ao longo da estrada.
Fonte: iG