Quarta, 15 Janeiro 2025

Televisionado mundialmente, o Oscar 2011, enfim, teve sua cerimônia realizada no domingo, 27 de fevereiro, no Kodak Theatre, em Los Angeles, sem muitas surpresas: Colin como ator, Natalie como atriz, “O Discurso do Rei” e Tom Hooper como filme e diretor, “Toy Story 3” como animação e a dupla Bale e Leo como ator e atriz coadjuvante – combinações manjadas.

Foram necessárias exatas três horas de show para que as esperanças de milhões de cinéfilos que apostavam em seus prediletos (e torciam para que levassem os bolões que se espalharam aos montes no último mês) fossem confirmadas ou perdidas (as 24 categorias conheceram seus merecedores das 22h25 à 1h25, no horário de Brasília).

Com a suspeita quase certeira de que a grande maioria dos interessados em cinema já tenha conferido o rol de vencedores, me limito a compartilhar minhas impressões sobre o outro lado do show, aquele repleto de detalhes que podem ter passado despercebidos por alguns, mas que me divertiram (e até me intrigaram).

Como não possuo o canal pago TNT na minguada assinatura de TV a cabo que meu bolso consegue sustentar, resolvi recorrer à versão online da emissora, que, em poucos minutos, apresentou dois problemas: os acessos estavam em excesso, o que gerou um congestionamento na rede, e consecutivos momentos de travadas fenomenais, e o acompanhamento irritante de Rubens Ewald Filho e da tradutora-que-estava-mais-para-estilista Chris Nicklas.

A Globo só iria começar a transmissão à meia-noite, depois do BBB. A solução foi entrar no site da ABC, canal que exibe oficialmente o Oscar há alguns anos e treinar meu ‘listening’ perdido em algum lugar do passado. Para minha surpresa, até que entendi a maioria das piadinhas infames dos apresentadores e os discursos (a não ser quando o inglês britânico de Firth e Blanchett ou a dicção sofrível de Bridges e Kirk Douglas entraram em ação).

Mesmo quando as vozes globais de Wilker e Beltrão soaram como luzes no fim da minha ignorância idiomática, percebi que preferia evitar que eu ficasse com raiva de mim mesmo por dar ouvido a eles e continuei com a péssima qualidade de imagem do streaming, mas, pelo menos, com a fidelidade da cerimônia original (a única afirmação de Wilker que achei pertinente foi quando ele comparou a afinação de Gwyneth Paltrow com sua capacidade de interpretação – as duas habilidades bem sofríveis).

Com ou sem qualidade de imagem, pude perceber a magnitude do trabalho visual que compôs o teatro, em se tratando de cenografia ou de produção de VT’s, que deram um show de tecnologia e interação. Os destaques ficam para a realidade aumentada em 3D com a silhueta (perfeita) de Bob Hope, apresentador dos dezoito primeiros ‘Oscars’ televisionados, a partir de 1953, e a primeira transição cênica dos anfitriões Anne Hathaway e James Franco, na qual eles apareciam como personagens dos dez longas indicados a Melhor Filme, interagindo com o elenco original de cada um, numa espécie de inserção animada.

Por falar em Franco e Hathaway, a química entre os dois no palco foi perfeita. A vitalidade juvenil dos atores deu fôlego à demorada cerimônia e ainda divertiu a plateia, que acreditou se tratarem de improvisos algumas peripécias da dupla. As trocas de figurino foram frequentes (houve até o momento em que Anne se transformou em James e vice-versa) e as gozações com astros presentes nas cadeiras, indicados da festa e profissionais renomados do cinema foram constantes. O brilho da noite, no entanto, concentrou-se em Anne, que adotou o palco como habitat natural, sentiu-se em casa e não poupou esforços para mostrar o quão serelepe pode ser (deixando invejosas as elegantes, brancas e sem-graça Nicole Kidman, Cate Blanchett e Katherine Bigelow).

O glamour da noite ainda foi ofuscado por tropeções de vencedores exaltados, trapalhadas de apresentadores de prêmios que descontaram sua raiva nos inofensivos envelopes, acessos de gagueira (sem contar o personagem de Colin Firth em “O Discurso do Rei”), um palavrão impensado de Melissa Leo durante sua fala e o desespero de Susanne Bier, a diretora dinamarquesa de “In a Better Place”, vencedor da categoria Melhor Filme Estrangeiro, que não conseguia achar em seu vocabulário palavras em inglês que pudessem exteriorizar seus sentimentos. É óbvio que em eventos grandiosos como esse, gafes e situações inesperadas aconteçam (principalmente por ser ao vivo). A Academia, no entanto, tem tido nos últimos tempos saídas inteligentíssimas para driblar cenas inconvenientes: um ponto de excelência a ser exaltado.

Mas como tudo é relativo, a Globo deve ter torcido o nariz quando, logo após o anúncio da vitória de “A Origem” para o prêmio de Melhor Fotografia, uma garotinha da equipe técnica (Lora Hirschberg) tenha levantado da plateia e beijado sua namorada...ao vivo! Como o contrato de transmissão das imagens vende a mesma captação da ABC não houve chorumela e nós vimos tudo. Além desta, pudemos acompanhar outra demonstração de amor homossexual quando a equipe de “O Discurso do Rei” subiu ao palco para receber a estatueta-mor e, assim como TODOS os vencedores, um dos membros da equipe agradeceu o apoio de seu parceiro em todos os momentos de produção.

A cerimônia chegou ao fim com um coro animado de uma escola pública que entoou “Over The Rainbow”, trilha sonora mais que batida do filme “O Mágico de Oz”. Ao fundo, todos os vencedores se abraçaram e esnobaram os candidatos sentados na plateia (se bem que eu gostaria de estar lá, nem que fosse para servir de tapete para Oprah Winfrey e Meryl Streep passarem).

Fonte: Campinas.com

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