Além da chance de ver na tela a vida da ex-garota de programa mais famosa do Brasil e de conferir Deborah Secco em cenas quentes, o filme Bruna Surfistinha pode oferecer uma resposta. Por que, afinal, uma garota de classe média, que estudou em colégio tradicional e cresceu no conforto buscaria ganhar a vida fazendo sexo por dinheiro?
Esta foi a pergunta que norteou a dissertação de mestrado pela USP do psicólogo Roberto Mendes Guimarães, que deu origem ao livro Garota de Programa: Uma Nova Embalagem para o Mesmo Produto, escrito em coautoria com sua orientadora, Maria Alves de Toledo Bruns, e publicado no ano passado. A seguir, as respostas encontradas na pesquisa, que incluiu visitas a dezenas de casas de prostituição e estudos de caso com 10 garotas de classe média, entre 18 e 28 anos:
Por quê?
Na pesquisa, despontou um perfil comum: meninas, muitas vindas de lares desestruturados, conhecem por meio de amigas ou colegas de faculdade a possibilidade de ganhar muito dinheiro como garota de programa. Elas começam aos poucos até fazer da prostituição sua ocupação principal, e todas têm sempre uma justificativa para essa escolha, como doença ou problemas financeiros na família.
Segundo Guimarães, fazer sexo pago aparece como a chance de ter uma vida confortável e com direito a luxos, como carro do ano e roupas de marca — quando a pesquisa foi feita, em 2007, os rendimentos médios mensais das entrevistadas eram cerca de R$ 20 mil, bem acima do que receberiam como assalariadas. Além disso, muitas têm clientes fixos, com quem viajam, frequentam festas e restaurantes caros — e é justamente esse alto padrão de vida que dificulta os planos de deixar a prostituição.
Risco
A exposição à violência e ao risco de doenças sexualmente transmissíveis (quando os clientes não aceitam usar camisinha) existe, mas em menor grau se comparado à rotina das prostitutas de rua, por exemplo.
Tabu
Ao contrário do que a sociedade costuma (ou prefere) acreditar, as garotas de programa dizem sentir prazer na companhia dos clientes — a conclusão dos estudos de Roberto Mendes Guimarães e Maria Bruns tem causado polêmica até nos congressos acadêmicos. Nas entrevistas realizadas, muitas das meninas descreveram os clientes como "alguém que me dá carinho e atenção". Contudo, de acordo com Guimarães, a solidão parece uma constante: ao mesmo tempo em que elas têm vários parceiros, não têm nenhum.
Segredo
Um dos atrativos das garotas de programa de classe média aos olhos dos clientes é justamente o fato de que, em geral, elas facilmente passam por namorada. Ou seja: não são obviamente identificadas como profissionais do sexo. Ainda assim, a grande preocupação de muitas é manter a profissão em segredo para a família, os amigos ou mesmo o namorado.
Fonte: ClicRBS