Quinta, 16 Janeiro 2025

A construção civil se tornou o motor da economia pernambucana nos últimos três anos e, com isso, os operários dos canteiros de obras ganharam o status de categoria mais cobiçada por centrais sindicais no Estado. As últimas três semanas que abalaram as relações trabalhistas no Complexo de Suape escancararam a disputa entre entidades para “defender” o interesse desses trabalhadores. Uma conta rápida e informal explica a briga: com 30 mil associados em Suape, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE) recebe, pelo menos, R$ 4,6 milhões por ano em contribuições.

O cálculo leva em conta a contribuição sindical de um dia de trabalho e a contribuição associativa, que é de 1% por mês sobre o salário-base. Tomando como base a renda média de R$ 1.000 da categoria, só com a primeira o sindicato recebe quase R$ 1 milhão, além de R$ 3,6 milhões da segunda. Após a confusão no canteiro de obras do Consórcio Conest (formado pelas empresas Odebrecht e OAS), que terminou com um operário baleado, há uma semana, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), ligada ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), passou a apoiar uma comissão de trabalhadores insatisfeitos com a atuação do Sintepav-PE.

E nesta semana, foi a vez do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos (Sintect-PE), filiado a Conlutas, se posicionar em defesa dos operários. No entanto, o primeiro a lutar por um pedaço do bolo foi o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e Mobiliário de Jaboatão dos Guararapes (Sintraincom). A entidade vinha brigando na Justiça desde 2005 para conquistar o direito de representar a categoria em Suape. São mais de 15 ações movidas contra o Sintepav-PE. Em 2009, a disputa se acirrou. E em outubro do ano passado atingiu seu ápice, com uma paralisação nas obras do Conest liderada pelo presidente do Sintraincom, Israel Domiciano.

Mas, nessa época, a Justiça já havia intercedido a favor do Sintepav-PE. Na sentença 00386-2009-192-06-0, de 23 de abril de 2010, a juíza da 2ª Vara do Trabalho de Ipojuca, Renata Conceição Nóbrega Santos, considerou “improcedente” o pleito do Sintraincom, alegando que a entidade usou de “má-fé” ao longo dos trâmites legais. Ontem, uma comissão de quatro trabalhadores (de um total de oito eleitos em assembleia na última segunda-feira para representar os operários) foi recebida pelo procurador-geral do Trabalho de Pernambuco, Fábio Farias. “Apresentamos todos os problemas ao procurador e sugerimos que o advogado da Odebrecht receba a comissão para negociar”, diz Guilherme Fonseca, da Conlutas.

Sem aceitar a representação do Sintepav-PE, a comissão não vai participar da reunião de hoje no MPT, que envolverá, além do Conest, quatro Secretarias de Estado. O secretário de políticas e informações sindicais do Sintect-PE, Édson Siqueira, reforçou que a entidade só passou a apoiar os funcionários do consórcio porque o Sintepav-PE “deu as costas para os trabalhadores”.

“Essas entidades estão de olho na arrecadação e só nisso. Quando atingir o pico de obras, Suape terá 70 mil trabalhadores na construção pesada. Por isso todos querem fazer a nossa caveira. Não é interesse trabalhista, nem social. Estão manipulando as pessoas, oferecendo dinheiro. É o tipo de oposição irresponsável. Fazem promessas como equiparar os salários com os de funcionários da Petrobras, que só entram na empresa por meio de concurso público”, rebateu o presidente do Sintepav-PE, Aldo Amaral. Ele não confirma a arrecadação de R$ 4,6 milhões – “colocar cifras vai atrair mais interesses”, justificou. Hoje, Suape responde por 70% dos 50 mil trabalhadores filiados ao Sintepav-PE. Os 20 mil restantes estão nas obras da transposição e da Transnordestina.

Presidente do Sintepav da Bahia e vice-presidente da Confederação dos Trabalhadores da Indústria da Construção Pesada, Adalberto Galvão, também ataca. “Eles promovem ações inconsequentes. Utilizam o caos, uma postura que não podemos aceitar. Confundem luta por direitos com luta política. Nós prezamos pelo equilíbrio, enquanto eles jogam os trabalhadores aos leões”. O clima de tensão começou com uma paralisação na obra da PetroquímicaSuape, também tocada pela Odebrecht, no dia 25 de janeiro. Insatisfeitos com a decisão da Justiça de que a greve havia sido ilegal, funcionários incendiaram o alojamento de Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, e 1.500 foram mandados de volta para casa pela empresa. Na semana seguinte, foi a vez do canteiro da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) ser palco de confusão. Uma briga entre o Sintepav-PE e trabalhadores terminou com um operário baleado no rosto.

Fonte: Jornal do Commercio

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