Antes de sua atribulada vida pessoal ofuscar seu trabalho, Amy Winehouse já chamava atenção do público e da crítica. Mesmo sem todas as chocantes histórias de abuso de drogas, álcool, bulimia, autoflagelo, a prisão do marido, as apresentações desastrosas e tudo o mais que se tornou, a jovem impressionava.
Amy despontou por conta de seu talento. Apesar de ser branca, judia, inglesa e ter apenas 20, sua voz se comparava às das grandes divas do jazz, todas elas com mais de 40, negras e americanas. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu para Amy se tornar o que se tornou.
"Amy, Amy, Amy", biografia não autorizada da cantora, percorre toda a sua vida, desde a infância, em busca de pistas para seu comportamento. Quando o livro foi concluído, ela ainda não havia se internado na reabilitação.
Há diversos momentos quase proféticos em sua trajetória, como, por exemplo, sua admiração pela cantora Lisa ’Left Eye’ Lopes, conhecida mais por sua vida turbulenta do que pelas suas apresentações.
Leia abaixo um trecho de "Amy, Amy, Amy" sobre o gosto musical da cantora, cultivado ainda na infância:
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A música sempre foi importante, enquanto ela crescia. Janis se lembra de Mitch sempre cantando para os filhos e encorajando o interesse deles pela música.
"Mitch e Amy eram muito chegados", ela disse ao The Daily Mail em 2007. "Ele vivia cantando músicas de Sinatra para ela e como ele cantava sempre, ela também cantava, mesmo na escola. Seus professores tinham de mandá-la parar durante a aula".
O jazz fazia parte da árvore genealógica. O tio de Amy, Leon, era trompetista profissional e sua avó paterna, Cynthie, fora noiva de Ronnie Scott, o saxofonista que fundou o clube de jazz de Soho, Londres, hoje internacionalmente famoso. Amy disse ao The Sunday Herald em 2007: "Ela era tão linda. Sempre digo que se Frank Sinatra tivesse visto minha vó antes de Ava Gardner, eu viveria na realeza".
Enquanto Mitch sempre tocava os sucessos de jazz em casa e no carro, Janis preferia compositores como Carole King e James Taylor. Amy diz que costumava ouvir Carole King no carro de sua mãe.
A família mudara-se para uma casa vitoriana com três dormitórios na Osidge Lane, ainda em Southgate. Uma rua residencial, arborizada, cinco minutos a pé subindo a colina a partir de Asda, é tranquila, com árvores dos dois lados. As casas são agradáveis e espaçosas. Amy estava em uma fase de obsessão por Michael Jackson. Posteriormente, ela diria que não tinha certeza se queria ser ele ou se casar com ele.
Quando tinha 9 anos, seus pais se separaram. Pouco se fala disso. Janis deu poucas pistas do motivo da separação na entrevista para o The Daily Mail em 2007: "Nós nunca brigamos. Ele era vendedor, por isso ficava muito tempo fora. Mas por muito tempo, também, houve outra mulher, Jane, que se tornou sua segunda esposa. Acho que Mitch bem que gostaria de ficar com as duas, mas não era o que eu queria".
Amy tinha 10 anos quando Mitch e Janis seguiram caminhos separados. Ela e o irmão foram morar com a mãe em East Finchley. A mãe de Janis ajudava-a sempre a criar os filhos, enquanto Janis trabalhava como técnica de farmácia. Amy comentou: "Viver em East Finchley era legal". Assim como Southgate, East Finchley, no distrito vizinho de Barnet, é um bairro na zona norte de Londres que se desenvolveu no século XIX com a construção da estação vitoriana de East End, Finchley, em 1867. Ela foi derrubada e substituída pela atual estação de metrô de East Finchley, em 1939. Como a estação de Southgate, ela foi desenhada em estilo Art Deco/Streamline Moderne por Charles Holden. Hoje ela é conhecida tanto pelo visual icônico de Holden quanto pela estátua de Eric Aumonier de um arqueiro apontando o arco para os trilhos na direção do centro de Londres.
Ao sair da estação de East Finchley hoje, assim como da Southgate, você encontra uma grande variedade de lojas, restaurantes e casas típicos do norte suburbano de Londres. Um outdoor anunciando o The Jewish Chronicle é um lembrete de que você está numa parte tipicamente judaica do norte da cidade. Durante a caminhada você passa por um ponto de minitáxi, um café, uma banca de jornais, lojas de utensílios domésticos, lojas de conveniência, um pub, uma farmácia, uma lavanderia a seco, o cine Phoenix, uma floricultura, uma loja de bebidas, um salão de manicure, uma lavanderia, uma casa lotérica, o teatro Finchley Youth, e assim por diante. A exibição de lojas e restaurantes continua por mais uma curta distância até se mesclar com ruas residenciais.
Naquela época, Amy tinha trocado Michael Jackson por Madonna, conforme relatou ao periódico Blender, em 2007: "Escutava o disco Immaculate Collection da Madonna todos os dias, até mais ou menos os 11 anos. De repente, descobri Salt’N’Pepa e TLC".
Ela se identificava com as letras fortes, femininas e corajosas dos dois grupos. Era uma época em que Salt’N’Pepa, uma dupla de rap americana, lançava singles como "Let’s Talk About Sex" e "Whatta Man". A franqueza das letras deve ter mexido com Amy. O Salt’N’Pepa cantava de maneira direta e sincera e falava dos homens sem rodeios.
"Meus primeiros modelos foram Salt’N’Pepa e Lisa ’Left Eye’ Lopes", Amy relatou à revista Interview em 2007. "Eram mulheres de verdade que não tinham medo de falar dos homens, conseguiam o que queriam e falavam sobre as mulheres de quem elas não gostavam. Muito legal".
É particularmente interessante o fato de Amy ficar tão fascinada por Lisa ’Left Eye’ Lopes. Mais conhecida como membro do trio americano de R & B, de enorme sucesso, TLC, Lisa ganhava mais manchetes por sua turbulenta vida pessoal do que por sua música. Ela chegou a ser presa em junho de 1994 após atear fogo na casa de US$ 2 milhões de seu namorado, o jogador Andre Rison, do Atlanta Falcons, após uma briga. Acusada de incêndio criminoso, teve de pagar uma multa de US$10.000 e ficou em liberdade condicional. Precisou também entrar em uma clínica de reabilitação para tratar de alcoolismo. Rumores sobre seu comportamento errático continuaram atém sua morte prematura em 2002 em um acidente de carro em Honduras. Ela tinha apenas 30 anos. Lopes fazia pouco das fofocas dizendo: "Há uma divisão muito tênue entre genialidade e insanidade. Sempre me rotularam como louca".
Quando Amy descobriu o TLC, o grupo promovia seu segundo álbum, CrazySexyCool, com os sucesso dos singles "Waterfalls" e "Creep", sendo o segundo um relato de uma mulher que ainda ama seu homem embora desconfie que ele a traia: o tipo de guerra de relacionamento que passou a ser marca registrada de Amy.
Com Juliette Ashby tão fascinada pelo Salt’N’Pepa e TLC quanto Amy, as duas formaram uma dupla de rap chamada Sweet’n’Sour. Posteriormente, Amy diria: "Tínhamos uma canção chamada ’Spinderella’ que era ótima". Ela descrevia a dupla como "o pequeno Salt’N’Pepa branco judaico".
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Amy, Amy, Amy
Autor: Nick Johnstone
Editora: Madras
Páginas: 152
Quanto: R$ 44,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Fonte: Folha Online