Sábado, 18 Janeiro 2025

Parques eólicos na extensão norte do litoral potiguar, Zona de Processamento de Exportação em Assu, maior aeroporto da América Latina em São Gonçalo do Amarante e as possíveis obras de estruturação da Copa do Mundo em Natal. Tudo isso deverá transformar o Rio Grande do Norte num canteiro de obras nos próximos anos. Porém, a mão de obra a ser usada pelas empresas na construção desses empreendimentos, precisa se especializar. No Estado, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) está ampliando e descentralizando os cursos de capacitação e qualificação de mão de obra com vistas às obras que terão início nos próximos meses.

Qual é o maior desafio hoje para capacitar pessoas na área da construção civil?

O principal desafio dos setores da economia, nesse caso específico a construção civil, é a velocidade com que as coisas estão acontecendo. As obras da Copa não estão nem começadas, a construção dos parques eólicos, que até poucos anos atrás era uma coisa nova aqui na nossa região, poderão funcionar a partir de 2012. O aeroporto que o Rio Grande do Norte vem brigando há muito e que está prestes a sair, é uma obra magnífica. Não só a construção da unidade aeroportuária, mas a construção de  unidades comerciais, industriais, atacadistas e de infraestrutura que acontecem no entorno de uma cidade aeroportuária. Tudo isso num prazo de no máximo de quatro anos deverá estar funcionando. Se não bastasse tudo o que está para acontecer, nós tivemos uma evolução no final do ano passado, quando o Estado tinha cerca de 28 mil empregos diretos na construção civil com carteira assinada. Em julho de 2010, nós estávamos com 32 mil. São quatro mil vagas em cima de um contingente de 28 mil que dá um volume ao redor de 16%. Nada cresce a esse patamar em tão pouco tempo, numa perspectiva de manutenção, não de manutenção desse crescimento, e sim desses empregos no setor da construção civil que ainda não tem haver com essa infraestrutura que está sendo montada por causa desses equipamentos novos: parque eólico, aeroporto, Zona de Processamento de Exportação e a Copa que está para acontecer em Natal. Então, com essas perspectivas de crescimento, com esses números num espaço curto de tempo falta tudo, só mão de obra. Mão de obra hoje é um insumo da produção. Falta cimento, areia, equipamentos,  ferramentas. E as indústrias, os setores de abastecimento que vivem a construção civil estão se preparando para isso e nós que trabalhamos na formação de mão de obra qualificada também. 

De que forma o Senai trabalha na formação de pessoal qualificado?

Nós temos um centro da construção civil aqui no Estado que vinha trabalhando dentro do incremento natural de mão de obra, com crescimento de 5% ou 6% e colocando no mercado cerca de mil pessoas por ano. Isso hoje é nada e nós estamos também atuando na velocidade com que está acontecendo isso. Nós estamos numa perspectiva de lançamento de um programa junto com o Sindicato da Construção Civil elaborado a quatro mãos, para formação de mão de obra não só em Natal, mas no estado como um todo. Nós precisamos formar mão de obra em outros municípios, especialmente nos circunvizinhos a Natal para abastecer a capital desse contingente que é muito grande. Os parques eólicos, por exemplo, não são em Natal. São distribuídos Estado a fora, então é um desafio. A carência da mão de obra é no setor da construção civil e não se restringe a Natal. É um desafio muito forte para o Senai que trabalha com formação de mão de obra e outras instituições que trabalham para as próprias empresas. É um momento de fortalecer parcerias, o desafio é muito grande mas nós vamos chegar lá.

Existe interesse dessas pessoas que buscam emprego na construção civil em se qualificar?

Sem dúvida. Tanto as pessoas que diretamente buscam o Senai como as empresas e prefeituras que nos procuram para formar profissionais. As empresas para as suas obras e as prefeituras para qualificar seus munícipes para estarem aptos a serem empregados, diminuindo o problema do desemprego em cada município. Então isso acontece de todas as frentes e nós estamos aqui buscando dar respostas bem customizadas. A nossa intenção não é dizermos: nós fazemos assim e tirar um produto de prateleira e oferecer a sociedade. E sim discutir com cada empresa, com cada prefeitura. Que ocupação tem maior necessidade? Que tipo de mão de obra se precisa? Que tipo de ambiente temos para formar essa mão de obra? Enfim, trabalhar de forma flexível para atender essa demanda que hoje já é muito forte e que tem uma perspectiva de incremento ainda maior.

Em quais funções o setor tem mais dificuldades em encontrar profissionais qualificados?

Essas obras que nós pontuamos trazem uma realidade diferente. O setor carece de todas as ocupações da construção histórica, tradicional: pedreiro, mestre de obras, eletricista, instalador hidráulico, pintor, pessoas que trabalham com revestimento cerâmico, acabamento, carpinteiro. Essas são as históricas ocupações e que, hoje, estão mais especializadas com o lançamento da inovação em produtos. Os produtos hoje são especiais, o canteiro de obras hoje é uma nova indústria com um ambiente limpo, com menos desperdício. As pessoas com muito mais segurança, um ambiente de trabalho muito melhor e os equipamentos mais seguros. Um contingente total que faz com que uma obra hoje seja diferente do que era há 20 anos. Ainda assim, é necessário aperfeiçoar aqueles profissionais que trabalhavam há 15, 20 anos para este novo ambiente de trabalho e formar pessoas baseando-se nas tecnologias de hoje, mas nas ocupações tradicionais. Esse novo ambiente de construção baseado nessa necessidade que se apresenta: Copa, aeroporto, ZPE, indústrias eólicas, requer uma formação de outras ocupações. São ocupações que trabalham com máquinas muito mais eficientes, máquinas pesadas que a construção normal via de regra não trabalha, não usa e nós já nos antecipamos um pouco a isso. Dentro desse programa que estamos lançando junto ao Sindicato da Construção Civil em muito breve, nós estamos com vários simuladores de máquina pesada, curso para operador de grua através de simulação, de guincho, de pá carregadeira, de forma que a gente barateie e torne eficiente dentro de uma tecnologia também de educação absolutamente moderna que dê condições de formar um contingente numa velocidade que a indústria precisa.

O Senai oferece cursos de formação para as mais simples funções, até aquelas que exigem um conhecimento técnico mais avançado?

Sim. A ideia nossa é trabalhar um pintor de obras até cursos de atualização tecnológica para técnico de edificações, cursos de atualização para engenheiro projetista. Queremos fazer toda linha que compõem a cadeia de mão de obra qualificada dentro da indústria da construção civil.

Como se dá o acesso dessas pessoas aos cursos? São gratuitos?

 Nós trabalhamos com diversas modalidades de educação: qualificação, aperfeiçoamento, curso técnico. A ideia nossa é atender os públicos de interesse, das mais variadas formas possíveis. São vários cursos gratuitos, outros pagos, alguns muito baratos e outros de maior aporte financeiro.  O fundamental é a gente atender a demanda da sociedade e da indústria. Os cursos pagos variam muito de preço, assim como a quantidade de horas-aula.

Por que o mercado ainda reclama tanto da falta de mão de obra?

Eu acredito que, enquanto Senai, o crescimento da indústria foi muito acelerado nos últimos anos e a política de formação de mão de obra não tem uma estrutura disponível para atender essa aceleração. É por isso que nós estamos montando algumas ações mais flexíveis para tentar acompanhar essa velocidade de crescimento. Com um crescimento de 17%, hoje, é impossível ter mão de obra qualificada suficiente. Não tem como se prever um crescimento desse tamanho. Não tem como se montar uma infraestrutura de crescimento de 17% pois ela não é permanente. Então como ela tem picos de produção, nós geramos alguns gargalos.

Quais são esses gargalos?

Na hora em que eu montar uma estrutura para repor o mercado com a previsão de crescimento de 17%, na hora em que isso frear, ao invés de eu estar fazendo um atendimento ao mercado, eu estou gerando desempregados qualificados que não é a intenção da indústria nem a nossa intenção (Senai). Nós pretendemos fazer um negócio estruturado de tal forma que os nossos investimentos sejam capazes de atender um crescimento razoável do setor. Quando houver esses picos, nós estamos flexibilizando algumas ações para atender uma demanda maior, que acontece de forma temporária. A formação não se dá na hora em que você precisa. Se eu preciso de mão de obra num canteiro que eu vou instalar numa obra em fevereiro eu não formo profissionais de hoje para janeiro. O programa de formação é permanente. Temos cursos de até 1.200 horas, ou seja, dois anos de duração com conteúdo mais aprofundado. São ossos de uma contingência absolutamente positiva que tem muito mais vantagens do que desvantagens, muito mais pontos positivos do que negativos. É essa vantagem que a gente está vivendo com uma oportunidade de crescimento industrial muito forte. Isso gera riquezas, circula moeda, gera desenvolvimento, mas não acontece num céu de brigadeiro. E sim com um desafio de superação de alguns obstáculos que o caminho nos impõe. Mas a nossa missão é trabalhar na exclusão desses obstáculos. Nós estamos nos preparando para isso e vamos conseguir sim.

As obras do Plano de Mobilidade Urbana de Natal começarão em breve. As pessoas que desejam ingressar na construção civil ainda têm tempo de se preparar para desempenhar uma função mais específica dentro do que as empresas exigirão?

Sempre é tempo de se qualificar e investir na educação. Essas obras não pararão hoje, não começarão em fevereiro e terminarão em abril. Elas apenas começam em fevereiro. Nós temos cursos de 40 horas, de uma semana e temos cursos de dois anos. Lógico que é oportuno que você busque qualificação. O Senai está construindo um novo centro para a construção civil pois o atual está pequeno para a crescente demanda. Estamos ampliando o espaço, modernizando os equipamentos e trazendo novas tecnologias de ensino. Parcerias estão sendo firmadas com o governo do estado, prefeituras municipais e empresas para irmos até os locais nos quais os canteiros de obras são instalados. Para que, dessa forma, todos tenham oportunidade de se qualificar.

As pessoas que moram nas regiões nas quais os parques eólicos serão instalados precisarão se deslocar até Natal para fazer um curso no Senai?

Estou discutindo com empresas desse setor para formarmos profissionais aproveitando a mão de obra local. Nós pretendemos fazer ações de capacitação lá onde as pessoas estão e onde serão montados os parques. Nós não iremos estruturar algo físico nesses locais, apenas temporariamente.  Porque não é algo que tenha consequência de formação durante um período forte. As populações são pequenas e quando passa a construção, cessa a necessidade de mão de obra de construção civil, passando a ter necessidade de eletricista, mecânico, etc. Aí nós pretendemos fazer capacitação nas novas ocupações. Não faz sentido montar um estrutura física se a demanda não é permanente.

As empresas que irão construir os parques sinalizam em fornecer o curso gratuitamente aos  contratados ou eles terão que arcar com algum custo?

Neste caso específico de construção de parques eólicos, a ideia é ver se a gente monta uma arquitetura de custos, que para que nesses municípios onde a população tem um poder aquisitivo menor, o curso chegue de uma forma gratuita. Isso não quer dizer que em todas as ocupações será assim. Ainda estamos em fase de negociação com as empresas.

Quais são suas expectativas em relação ao número de empregos que serão gerados pela construção civil nos próximos anos em Natal?

Hoje o contingente de mão de obra formal, que são os números que eu tenho que levar em consideração, é de 32 mil pessoas empregadas na construção civil. Não é difícil imaginar um crescimento de 8% ou 10%, ou seja, entre 12 e 15 mil pessoas. Sem contar com os prestadores de serviço que não trabalham com carteira assinada. É um incremento muito forte para um estado tão pequeno como o nosso.

Existe a possibilidade de permanência desses postos de trabalho após o “boom” das construções?

A grande vantagem dessas obras de infraestrutura, é a construção de uma logística de disponibilidade de desenvolvimento no Rio Grande do Norte que vai gerar desenvolvimento em outras atividades industriais. Aqui no estado será muito maior pois as empresas precisam da presença de uma logística dessa e que hoje não tem, por isso a economia está reprimida. Nós temos várias atividades que não existem aqui no estado pois não há uma forma de escoamento adequada, nem fluxo de transporte seja de navio ou de avião que passarão a existir com o novo aeroporto e com a expansão do porto de Natal. Nós temos uma perspectiva de desenvolvimento aqui no estado que não existia pela falta de segurança energética. O Rio Grande do Norte passará a ser exportador de energia, dando uma segurança para as empresas ainda maior. As construções de apartamentos, podem se ampliar com a estruturação do plano de tráfego urbano que serão consequência da montagem da estrutura da Copa. O crescimento não se encerrará com a conclusão das obras do aeroporto, da ZPE e do novo aeroporto. Na perspectiva da indústria, estamos num momento de oportunizar outros investimentos muito maiores do que estão acontecendo hoje. Os empregos tendem sim a se manter, os empregados tendem a melhorar suas vidas a médio e longo prazo. Nós viveremos um outro momento aqui no Rio Grande do Norte.

Fonte: Tribuna do Norte

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!