Domingo, 19 Janeiro 2025

A demora do Banco Central (BC) em aprovar a nova diretoria do Panamericano impediu que a Caixa Econômica Federal também tivesse que aportar recursos para ajudar a cobrir o rombo de R$ 2,5 bilhões na instituição financeira, que teve 49% de suas ações adquiridas pelo banco público em dezembro do ano passado. O grupo Silvio Santos, acionista controlador do Panamericano, assumiu todo o passivo.

"O problema foi detectado e solucionado a tempo, antes da aprovação final do BC dessa fusão, antes do BC aprovar a posse dos diretores e conselheiros. A partir daí é que se institui a responsabilidade solidária da Caixa ao passivo do banco. E isso vai além de R$ 700 milhões", afirmou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante audiência pública no Senado para explicar a operação de compra de parte do Panamericano pela Caixa. Também esteve presente a presidente da instituição, Maria Fernanda Ramos Coelho.

Em dezembro, a Caixa, por meio do braço financeiro CaixaPar, pagou R$ 739,2 milhões por 49% do controle acionário do Panamericano. O negócio foi firmado após passar por várias auditorias internas e externas. A aprovação do BC, no entanto, só veio em julho. Para acelerar a entrada no Panamericano, em agosto, a Caixa enviou à autoridade monetária toda a documentação, inclusive nomes da diretoria, para a conclusão do negócio. Para sorte do banco público, a autoridade monetária só aprovou a posse da nova diretoria em novembro - no dia em que foi injetado recursos no Panamericano para que fosse resolvido o problema das "inconsistências patrimoniais". Ou seja, demorou três meses para aprovação.

Segundo um técnico do BC, não houve demora na aprovação dos nomes para o Panamericano porque há burocracia no processo. Na avaliação do técnico, a autoridade monetária só poderia levar adiante o processo quando o problema no Panamericano estivesse totalmente resolvido. A existência de "inconsistências patrimoniais" do Panamericano, após passar por várias auditorias e também por fiscalização do BC, colocou em dúvida principalmente o papel das empresas que fazem consultoria no País. Na audiência pública, o presidente Meirelles reforçou que não houve falhas por parte da autoridade monetária, que foi a primeira a descobrir as irregularidades nas contas. Mas deixou claro que houve uma falha e a responsabilidade deve ser identificada nos processos que foram abertos.

Na avaliação de Meirelles, o trabalho de fiscalização da autoridade monetária tem como objetivo evitar risco sistêmico e isso não deve ser confundido com trabalho de auditoria. Se o BC tivesse que desempenhar essa função, além dos elevados custos para os cofres públicos, seria necessário um exército de auditores para analisar todo o sistema financeiro. "Seria uma supergaláctica empresa de auditoria do BC auditando todas as empresas financeiras. Não há viabilidade para isso."

A presidente da Caixa saiu em defesa do banco público. "Não houve, por parte da instituição, falha no processo de aquisição", disse, acrescentando que a CaixaPar, braço financeiro da Caixa, interpelou extrajudicialmente o Banco Fator, um dos auditores da operação com o Panamericano, para resguardar os interesses da instituição pública.

Fonte: Jornal do Comércio - RS

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