Segunda, 20 Janeiro 2025

As lágrimas incontidas de Daniela Alaíde de Oliveira, 31 anos, posta em liberdade em 29 de julho último, refletiram toda a emoção pela nova oportunidade recebida na vida. Depois de cumprir seis anos de detenção no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, ela está empregada nos Estaleiro MacLaren Oil, em Niterói. Daniela voltou ao presídio, na manhã desta quinta-feira, como ela mesma disse, “de cabeça erguida”, para participar da aula inaugural da terceira edição do curso de solda, ministrado pela Secretaria de Administração Penitenciária, criado em 2008 em parceria com o estaleiro.

Daniela e mais três detentas que se formaram no mesmo curso, em novembro passado, estavam ali para fazer uma demonstração do aprendizado para a nova turma, formada por 40 presas do instituto. Daniela era a gratidão em pessoa. E não era para menos. Fez gratuitamente um curso caro, com custo médio de R$ 3 mil no mercado, e já saiu da cadeia empregada, ganhando mais de R$ 1,5 mil por mês. Por isso, não se cansou de agradecer à Secretaria de Administração Penitenciária pelo curso e a dona do estaleiro, Gisella MacLaren, também presente, pela chance de recuperar a dignidade e garantir a sobrevivência própria e da família.

– Em primeiro lugar, é claro, agradeço a Deus, por ter tido verdadeiramente uma oportunidade. É uma coisa muito difícil para nós, que estamos saindo do cárcere. Muitos dizem que as portas estão abertas lá fora para nós, mas isso quase sempre não é verdadeiro. E o Estaleiro MacLaren, juntamente com a Secretaria de Administração Penitenciária, nos dá esta oportunidade de aprender uma profissão e ainda, ao sair da prisão, condições reais de se reintegrar à sociedade – enfatizou.

Daniela já está empregada porque cumpriu sua pena por furto, mas as outras três, como Marcia de Paulo, também de 31 anos, só aguardam o alvará de soltura, previsto para sair a qualquer momento, para ganhar a mesma chance na vida, provavelmente no mesmo estaleiro. Segundo o secretário de Administração Penitenciária, César Rubens Monteiro, elas recebem uma qualificação de primeira no curso, ministrada por instrutores do Estaleiro MacLaren Oil, durante cerca de dois mês, e estão aptas a trabalhar em qualquer lugar - não há contrato de exclusividade com o MacLaren.

O secretário pediu às novas alunas que se esforçassem no curso para aprender bem a profissão porque é grande a possibilidade de se empregar na indústria naval. Segundo ele, a partir do ano que vem, haverá forte demanda por mão de obra especializada no setor, em razão das muitas licitações, especialmente da Petrobras, para a construção de navios petroleiros, plataformas e embarcações de apoio.

– A idéia é, no futuro, ministrar curso de outros segmentos profissionais da indústria naval, como pintor, maçariqueiro e caldeireiro. O estaleiro está procurando formar mão de obra para atender a uma demanda na indústria naval, que hoje está contida, mas esperamos que seja liberada logo. Esta demanda poderá fazer com que o próprio MacLaren e outros estaleiros, que venham a se somar ao projeto da Secretaria, deem oportunidade a um maior número de detentos – argumentou Monteiro.

Gisella MacLaren justificou a adoção do projeto da Secretaria de Administração Social pelo compromisso social que todo empresário deveria ter.

– Entendemos que a reinserção social do preso complementa as nossas intenções de cumprir com essa obrigação do empresário. Tínhamos, durante o processo de mercado aquecido, uma absorção de mão de obra portadora de necessidades especiais. No momento em que a indústria naval recuou, achamos que uma alternativa para essa missão seria capacitar profissionais para quando o setor voltar a se aquecer – ressaltou a empresária.

O curso é ministrado a presas por duas razões básicas: pela carência de projetos direcionados às mulheres, que são cerca de 10% da população carcerária fluminense, ao contrário dos destinados aos homens, e para atender ao desejo da proprietária do estaleiro, uma mulher no cargo de um setor totalmente comandado por homens.

– O curso veio somar ao desejo do estaleiro de formar mulheres que, na avaliação da empresa, contribuem para um produto final de melhor qualidade. As mulheres, em geral, são mais detalhistas e fazem a solda com mais perfeição – justificou o secretário.

A sala de aula, que antes era improvisada, hoje já possui toda a característica física criada pela Secretaria para o desempenho das atividades e, graças ao investimento da MacLaren Oil, as internas terão aulas práticas com equipamentos exclusivos. Elas recebem, primeiramente, aulas teóricas de soldagem com apostila de conteúdo, língua portuguesa, noção de informática e introdução ao meio ambiente, seguindo a lógica das grandes empresas que têm a meta de responsabilidade social.

Segundo um dos instrutores, Julio Mendes Tenório, a experiência, inédita para ele, é muito gratificante e surpreendente.

– Já havia trabalhado com outros tipos de pessoas, dentro da indústria, mas com internas foi uma novidade que muito agregou ao meu currículo. Elas se dedicam muito. Até achávamos que encontraríamos dificuldades. Mas, ao contrário, a gente percebe em algumas a necessidade muito grande de querer mudar de vida – afirmou Tenório.

Fonte: Imprensa do Governo do Rio de Janeiro

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