A reconstituição feita na noite desta sexta-feira demonstrou, segundo o perito Renato Pattoli, que a versão dada em depoimento pelo pescador sobre o caso Mércia é verdadeira.
O pescador afirmou ter visto o carro da advogada ser jogado na represa de Nazaré Paulista (64 km de São Paulo) na noite de 23 de maio. Ele também disse ter ouvido gritos.
Durante a reconstituição, a perícia simulou gritos, que fora ouvidos por outros peritos do lugar onde pescador afirma ter estado no dia do crime. Do mesmo local, segundo Pattoli, era possível ver vultos das pessoas que estavam onde o carro de Mércia teria sido jogado.
"A reconstituição é embasada no depoimento do pescador. A versão dele é factível: pelas condições apresentadas era possível ver o que ele disse", afirmou Pattoli. O perito disse, entretanto, que não era possível ver bem as pessoas ou a cor do carro, por exemplo.
A primeira parte da reconstituição foi atrapalhada pelo tempo encoberto; posteriormente, a lua apareceu e, segundo Pattoli, foram reproduzidas as mesmas condições da noite do crime.
O pescador participou da reconstituição do crime, que começou por volta das 20h. Ele chegou à represa sob forte escolta policial. Uma mulher simulou ser Mércia e um carro idêntico ao da advogada foi usado pela polícia.
Ao final da reconstituição, os peritos e o delegado Antônio de Olim recentemente afastado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) refizeram o caminho que o vigia Evandro Bezerra Silva afirmou, no primeiro depoimento à policia, ter feito após buscar Mizael no local do crime.
O percurso passa pela estrada municipal de Cuiabá (um bairro de Nazaré Paulista), também conhecida como Pedra Branca. Segundo o delegado, Silva disse espontaneamente que na altura do numero 5.554 havia encontrado um carro da Polícia Militar.
Olim afirmou que há um boletim de ocorrência de um acidente atendido pela PM no mesmo dia e no mesmo lugar, o que comprovaria a afirmação do vigia.
"Isso demonstra que o depoimento do Evandro foi espontâneo porque ele não havia sido perguntado sobre a existência do carro de polícia. Ele trouxe esse fato ao depoimento", afirmou o promotor do caso, Rodrigo Merli Antunes. O vigia afirma ter sido torturado durante o depoimento.
Além do delegado, do perito Pattoli e do promotor, também acompanharam a reconstituição os advogados Ivon Ribeiro e Samir Haddad Júnior, de Mizael, e José Carlos da Silva, advogado de Evandro.
O irmão da vítima, Márcio Nakashima, alugou uma lancha para acompanhar o trabalho da polícia de dentro da água, próximo ao local onde o pescador estava no dia do crime.
O advogado Ivon Ribeiro, que defende Mizael Bispo Souza, afirmou ter sido impedido de acompanhar a reconstituição do crime no lugar onde o pescador estava.
Tanto o delegado Olim quanto o promotor Antunes afirmaram que a informação não é verdadeira. Segundo o promotor, "os advogados não pediram para ir ao outro lado da represa para plantar nulidades no processo".
O advogado Ribeiro disse ainda que a reconstituição, que terminou por volta das 21h45, não é imprescindível para a defesa e que ela foi "direcionada". Ele contestou os indícios apresentados até agora contra o seu cliente: laudo do rastreador do carro e a alga encontrada no sapato de Mizael.
BRIGA
Mais cedo, o advogado Samir Haddad Júnior e Márcio Nakashima tiveram uma discussão. A briga teve início quando o advogado foi cumprimentar o irmão de Mércia, que perguntou a Haddad Júnior sobre uma promessa que teria feito: deixar a defesa de Mizael caso houvesse provas que o incriminassem.
O advogado afirmou, então, que não há provas contra Mizael, apenas indícios. A discussão tornou-se acalorada e, durante o bate-boca, o advogado afirmou: Você não tem que ter raiva de mim, você tem que ter raiva de quem matou a sua irmã. Haddad Júnior apontou o dedo para Márcio, que agarrou a gola da camiseta do advogado.
Com a camiseta rasgada, Haddad Júnior ameaçou registrar boletim de ocorrência. Se ele tivesse uma arma, teria me dado um tiro. Isso mostra o descontrole emocional. A família tem raiva de mim porque sou bom advogado. É por isso que o processo tem que sair de Guarulhos [Grande SP], não tem clima para acontecer o julgamento lá, afirmou o advogado.
CASO
Mércia desapareceu no dia 23 de maio. A polícia diz acreditar que ela foi morta no mesmo dia, apesar de seu carro ter sido encontrado apenas no dia 10 de junho após indicação de uma testemunha. O corpo da advogada foi encontrado no dia seguinte.
Uma espécie de reconstituição já foi feita no dia 11 de agosto, quando peritos refizeram o dia de Mizael, de acordo com os dados do rastreador de seu celular e das antenas de celular. Na ocasião, o delegado Olim afirmou que a vistoria serviu para reforçar as contradições no depoimento do suspeito. Na época, ele também destacou a contradição em relação a alegação de Mizael de que teria saído com uma prostituta.
Já o laudo pericial sobre a morte da advogada foi entregue à Polícia Civil de São Paulo e ao Ministério Público no fim de agosto. A principal evidência apresentada no documento é uma alga encontrada em um sapato de Mizael, que seria compatível com alga presente na represa de Nazaré Paulista.
De acordo com Pattoli, essa evidência dá certeza de que aquele sapato foi usado por alguém que colocou o pé na água da represa, mas não é possível confirmar se foi usado por Mizael.
Além da alga, foram encontrados na sola do sapato resíduos de chumbo compatíveis com a bala que feriu Mércia, uma mancha de sangue e um pedaço de osso. Apesar disso, a perícia não conseguiu fazer um exame de DNA para determinar se o sangue era humano ou se o osso era da advogada.
Ainda de acordo com o laudo, Mércia foi atingida por disparos dentro do veículo e o carro foi empurrado para dentro da represa, onde a advogada morreu afogada. O autor do crime estaria no banco do passageiro, e a advogada no banco do motorista, que estava ajustado de forma compatível a sua altura. Com a conclusão do laudo pericial, está concluída a análise do carro de Mércia.
Fonte: Click PB