É preciso qualificar o pessoal da melhor maneira possível, do servente, que não pode mais ser analfabeto, ao diretor
O Brasil saiu da crise mundial mais rapidamente e com menos problemas do que outros países.
O setor da construção pesada se recupera bem, com uma projeção, nos próximos anos, de fortes aplicações em infraestrutura.
Depois da estagnação econômica sentida no Brasil mais fortemente nas décadas de 1980 e de 1990, pelo menos nos últimos cinco anos se vê uma retomada dos investimentos e também os anúncios de novos projetos indicam que as empresas deverão estar preparadas para os desafios propostos.
Da parte do governo federal, o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deu uma dimensão de quanto se pode esperar. De acordo com nota divulgada pela Casa Civil, a primeira edição do programa, lançada em janeiro de 2007, chegou a R$ 638 bilhões, que deverão ser pagos até o final de 2010. O valor investido até 2009 foi de R$ 403,8 bilhões.
O lançamento do PAC II apresentou proposta de R$ 1,59 trilhão de investimentos, sendo R$ 958,9 bilhões de 2011 a 2014, e os R$ 631,6 restantes, para depois de 2014.
E ainda tem a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016 que demandarão inúmeras obras.
Em mineração, por exemplo, a Vale tem um plano para 2010 que é o maior de uma empresa privada no País e o maior dentre as empresas de mineração no mundo: US$ 12,9 bilhões.
Já a Petrobras atualizou seu Plano de Negócios 2011/2014, totalizando investimentos de até R$ 250 bilhões, que foram incluídos no PAC II.
O Conselho também aprovou para o período pós-2014 um conjunto de projetos que totalizam investimentos de cerca de R$ 462 bilhões.
Especificamente aqui no Estado de São Paulo também há projetos de vulto.
Em março passado foi inaugurado o Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, com 61,4 quilômetros de extensão e investimento de R$ 5 bilhões, que liga as rodovias do interior do estado ao sistema Anchieta-Imigrantes, além da região do ABC.
Em convênios DER/Dersa com a prefeitura paulistana, foi pago em 2009 R$ 1,68 bilhão e, até março de 2010, R$ 316,30 milhões.
Com todo esse cenário promissor, as atenções se voltam para as empresas que são as responsáveis diretas por transformar esses investimentos em obras concretas.
Pesquisa aqui do próprio Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo (Sinicesp) indica que, no acumulado dos últimos 12 meses, o setor teve uma alta de 4,52% do número de trabalhadores (62.658 em fevereiro de 2009 e 65.491 em fevereiro de 2010, último mês contabilizado). No estado há 863 empresas afiliadas ao Sindicato.
É justamente a formação dessa mão de obra que o Sinicesp considera ser o grande diferencial para enfrentar os novos compromissos.
É preciso qualificar o pessoal da melhor maneira possível, do servente, que não pode mais ser analfabeto, aos do nível de diretoria, com incentivos para os que se aprimoram mais.
A empresa, por exemplo, pode pagar uma parte ou o todo de um curso de pós-graduação e fazer um plano para que o funcionário possa faltar ao trabalho em determinados dias para estudar, ou investir em uma viagem de aperfeiçoamento para ele fora do país.
Se, por um lado, a empresa precisa preparar o profissional, os trabalhadores devem se empenhar na própria formação.
O perfil necessário para um bom desempenho mudou, é preciso buscar conhecimento.
Um diretor de engenharia, por exemplo, deve evitar se preocupar só com aspectos técnicos, enfatizando o relacionamento em grupo, a capacidade de liderança e o gerenciamento de equipes e projetos complexos. É do trabalho conjunto empresa-funcionário que vão surgir as novas lideranças.
O próprio Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo tomou a iniciativa de contribuir para a formação de mão de obra especializada e firmou, em 2008, um convênio com o Serviço Nacional da Indústria (Senai) que já formou, até agora, 400 trabalhadores, especialmente na operação de máquinas como motoniveladoras, pás-carregadeiras, escavadeiras e vibro-acabadoras, além de carpinteiros e armadores.
A questão dos engenheiros, de uma maneira geral, merece destaque porque há falta de profissionais e a tendência é de agravamento.
As empresas, cada vez mais, buscam jovens já nas próprias faculdades.
Os dados do Inep indicam que são formados em Engenharia cerca de 32 mil estudantes anualmente.
O coordenador do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (Minas Gerais), Vanderli Fava de Oliveira, lançou um livro sobre a profissão.
Ele cita que os Estados Unidos precisam de 100 mil engenheiros por ano.
Formam 70 mil desses profissionais e buscam o restante no exterior.
Na Coreia do Sul, 80 mil concluem curso para uma população local de 49 milhões de habitantes, um quarto da brasileira.
Na China, formam-se 400 mil engenheiros por ano; na Índia, 250 mil.
Ainda longe de outros países, precisamos não só de quantidade como de qualidade.
As conclusões do Mapa Estratégico da Indústria - 2007-2015, uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria, sintetizam a importância do conhecimento para o futuro: "O maior valor agregado da produção hoje provém do conhecimento; a informação constitui insumo básico para a competitividade; a agilidade e a qualidade são elementos essenciais no contexto competitivo; a inovação é uma estratégia-chave para o desenvolvimento econômico e implica constantes mudanças; a educação é elemento essencial para a inclusão social e política, por ser imprescindível ao exercício da cidadania".
Fonte: DCI - Marlus Renato Dall’Stella