A inclusão de R$ 462 bilhões em investimentos da Petrobras no PAC 2 foi aprovada pelo conselho de administração da companhia no mesmo dia da divulgação do programa governamental, em reunião que não constava da agenda dos ministros integrantes do conselho. O novo anúncio quase triplicou a projeção de investimentos divulgada dez dias antes pela companhia e foi recebido com desconfiança pelo mercado, pela falta de detalhes.
A reunião que aprovou o aumento dos investimentos foi realizada em Brasília, na última segunda-feira. A estatal não informou, porém, se o encontro se deu antes ou depois da cerimônia realizada na manhã daquele dia, na qual a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, revelou os valores. No início da noite, a companhia divulgou fato relevante comunicando ao mercado a aprovação do novo plano de investimentos, uma obrigatoriedade entre as empresas com ações negociadas em bolsa de valores.
O valor adicional sob a responsabilidade da Petrobras representa quase 30% do investimento total do PAC, e turbinou o programa, orçado em R$ 1,59 trilhão. Segundo a Petrobras, os recursos serão aplicados após 2014. Mas a empresa não identifica o período exato e nem quais são os projetos. Os recursos são bem superiores, porém, à projeção da empresa para o pré-sal feita no ano passado, que previa US$ 111 bilhões (quase R$ 200 bilhões) até o ano de 2020.
Ao contrário do que ocorre normalmente, a reunião do conselho, ainda presidido por Dilma, não estava listado nas agendas prévias dos ministros que fazem parte do conselho (além dela, Guido Mantega, da Fazenda). O conselho da Petrobras havia se reunido pela última vez no dia 19, quando aprovou, no plano de investimentos, a inclusão de R$ 264 bilhões no PAC para o período entre 2010 e 2014.
O estatuto da empresa prevê reuniões do conselho a cada 30 dias, com possibilidade de convocação extraordinária por seu presidente ou da maioria dos conselheiros. Além de Dilma e Mantega, fazem parte do conselho como representantes do governo o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, o general Francisco Roberto de Albuquerque e o economista Sérgio Quintella. O presidente do Real/Santander, Fábio Barbosa, e o empresário Jorge Gerdau Johanpetter representam os acionistas minoritários.
A participação da Petrobras no PAC inclui ainda a cifra de R$ 250 bilhões, que representam os investimentos entre 2010 e 2014, uma redução de R$ 14 bilhões com relação ao anunciado há duas semanas. "Quando você faz o pente fino desses negócios, você verifica que alguns desses projetos têm sócios, outros podem acontecer fora desse período. É simplesmente um ajuste", explicou hoje Gabrielli, após evento em São Paulo.
"Do total de R$ 1,59 trilhão que vai ser investido no PAC 2, mais de R$ 50% vêm da Petrobras. O que é que isso quer dizer? Que se não existisse a Petrobras, o governo não investiria este valor? Ou que se o governo não existisse, a Petrobras não estaria investindo?", questionou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, para quem a divulgação do PAC foi eleitoreira. No mercado financeiro, o anúncio dos investimentos adicionais não teve impacto, por conta das dúvidas ainda sem resposta. "Se o plano não fala até quando serão aplicados esses recursos, fica difícil fazer qualquer análise. Pode ser em um prazo de 50 anos...", resumiu o analista Luiz Otávio Broad, da corretora Ágora.
Fonte: Agência Estado/Jornal do Comércio