SÃO PAULO - Representantes do governo brasileiro estão a caminho da Argentina para mais uma reunião conciliadora. Segundo Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), o comércio bilateral teve um recuo de US$ 31 bilhões em 2008, e as trocas comerciais (exportações mais importações) cairam US$ 24 bilhões em 2009.
A reunião bilateral acontece de quarta-feira a sexta da próxima semana. Os temas discutidos serão os prazos das licenças não automáticas, as barreiras comerciais impostas a alguns produtos brasileiros e os acordos firmados na última reunião que não estão sendo cumpridos conforme prometido pela Argentina.
O governo da Argentina está realizando um levantamento da situação de cada um dos setores envolvidos no comércio com o Brasil para desenhar sua estratégia de negociação.
Segundo informações do Ministério de Indústria e Turismo, a ministra Débora Giorgi e o secretário de Indústria, Eduardo Bianchi, vão se reunir amanhã com os setores sensíveis às importações brasileiras, como calçados, linha branca de eletrodomésticos, têxteis e confecções, brinquedos, máquinas agrícolas e outros. Desde outubro de 2008, o governo argentino vem protegendo a indústria nacional com barreiras comerciais que afetam 14% das exportações brasileiras ao vizinho.
"Com a Argentina, temos outra forma de negociação, eles têm de apanhar para mudar o modo de negociação, espero que eles estejam cientes que demoramos para tomar uma posição agressiva, mas agimos", retrucou Segatto.
As retaliações brasileiras iniciaram-se após a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, elevar, de setembro de 2008 a novembro de 2009, o número de produtos brasileiros que necessitavam de licenças para adentrar ao país, passando de 53 para 411.
"O correto seria que os dois países concedessem as licenças automaticamente, afinal, fazem parte de uma área de livre comércio - o Mercosul. Uma vez que não tem essa facilidade, eles deviam negociar um prazo menor que os 60 dias estipulados pela Organização Mundial do Comércio e, se nada funcionar, devem acabar com o Mercosul", afirma.
Fontes do governo argentino afirmaram que alguns setores estariam em condições de "afrouxar" as barreiras, mas não eliminá-las completamente. Segundo a ministra Giorgi, os setores sensíveis foram beneficiados pelas restrições às importações, já que "foram preservados mais de 500 mil empregos." Com esse argumento, o governo argentino pretende manter as licenças não automáticas para vários setores, como têxtil e linha branca. As reuniões da próxima semana entre os dois governos terão uma primeira etapa entre Bianchi e o secretário do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Ivan Ramalho. No dia 5 será a vez da primeira reunião da Comissão Ministerial, criada em novembro passado pelos presidentes Cristina Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva. Na mesa de negociação estarão o chanceler Celso Amorim e os ministros Miguel Jorge e Guido Mantega com seus respectivos pares argentinos.
Algodão americano
De acordo com a secretária executiva da Camex, Lytha Spíndola, a decisão sobre os produtos que devem ser retaliados pelo Brasil em decorrência do contencioso do algodão americano devem ser definidos na próxima reunião da Camex, que acontece em fevereiro. "Seguramente, este ano é mais favorável que o anterior, mas essa decisão será tomada na próxima reunião (que acontece em fevereiro), quando já teremos os números de 2009."
A lista de produtos originários dos Estados Unidos que poderão ter aumento do Imposto de Importação, em virtude do contencioso do algodão na Organização Mundial do Comércio (OMC), são dos setores de instrumentos e aparelhos de ótica; plásticos; alimentos; máquinas e equipamentos inclusive elétricos; fibras, tecidos e confecções; borrachas e sabões, detergentes e produtos de toucador. O total dos produtos, informados na última reunião, somam US$ 2,7 bilhões.
O chanceler Celso Amorim afirma que o governo dos Estados Unidos está buscando uma saída pacífica para a guerra do algodão, evitando a retaliação do Brasil. Amorim reconheceu que os americanos "estão tentando conversar." Questionado se o Brasil poderia abandonar a retaliação, Amorim não descartou a ideia. Mas alertou que isso dependeria "de uma proposta adequada" dos americanos. Amorim, porém, insiste que, se não fosse pela autorização do Brasil para retaliar os americanos, Washington não estaria tentando encontrar uma saída pacífica.
Fonte: DCI