As mulheres já representam 25% das pessoas físicas que aplicam em bolsa de valores no Brasil. Passaram de 15 mil, em 2002, para 136,7 mil até outubro deste ano, crescimento de 809%, conforme a BM&FBovespa. As gaúchas, que somam 9,1 mil, estão em quarto lugar entre as que mais aderiram aos papéis, somando R$ 1,14 bilhão dos 5,21 bilhões dos investidores locais. A escalada teve impulso com programas de popularização da modalidade, clubes de investimento exclusivos e a maior liderança feminina no comando das finanças familiares.
Especialistas apontam a visão de longo prazo que as mulheres costumam imprimir em suas escolhas como atitude sob medida para suportar os riscos do mercado acionário e esperar, com paciência, os ganhos que virão cedo ou tarde. Que o diga Celiz Gonzatto Frizzo, que coordena a área de RH de uma indústria da Serra gaúcha.
Em 2006, Celiz e mais 20 colegas de MBA decidiram montar um clube de investimentos depois de ouvir as primeiras lições sobre mercado de capitais em uma aula do curso. Hoje são 160 participantes e um capital de R$ 3 milhões, que virou fundo de investimento devido ao porte do patrimônio.
Atenta ao futuro, a coordenadora de RH já adquiriu cotas para o filho Otávio, que acaba de completar quatro meses de vida. "É um dos melhores presentes que poderia dar a ele", justifica, de olho no custeio, quem sabe, da faculdade do rebento. Prova de que as mulheres influenciam as decisões domésticas é que o pai de Otávio só passou a aplicar em papéis na bolsa depois da atitude da mulher.
A gerente de programas de popularização da BM&FBovespa, Patrícia Quadros, acrescenta que as investidoras tomam decisão após muito estudo e busca de informações, o que faz lotar iniciativas da instituição voltadas para o público feminino, cuja frente é o Mulheres em Ação, lançado em 2003, que coincide com o começo da expansão das aplicadoras.
No site da bolsa (www.bmfbovespa.com,br/mulheres/), estão dicas de gestão de finanças, como monitorar mês a mês o caixa doméstico, e o calendário de encontros para formação, todos gratuitos. A coordenadora do programa avalia que as iniciativas captaram a atenção do público que hoje está cada vez mais na administração das contas familiares. "A renda da mulher tem muito peso ou é a principal da família", completa. Patrícia acredita que uma postura mais conservadora ajuda a amenizar o risco e a suportar a volatilidade das ações.
A capacidade foi testada por Celiz na recente crise mundial, que abalou os ganhos das bolsas ao redor do mundo. Ela confessa que não gostou nem um pouco de ver o rendimento de dois anos virar pó. "Sabia que a perda faria parte do jogo. Mas acreditei na recuperação, e ela já veio", contabiliza a precursora do clube Ativação. A mãe de Otávio diz que aproveitou para comprar papéis em baixa e seguiu à risca o conselho da sua corretora de valores, de aplicar todos os meses algum dinheiro. Também diversifica as opções. Celiz é um exemplo dessa postura. Tem recursos na poupança e em previdência privada, além das ações.
Poupadoras combinam raciocínio com a intuição, aponta consultora
Autora do livro A Bolsa para Mulheres, a consultora em investimentos e coordenadora do site Mulherinvest, Sandra Blanco, avalia que a crise foi um bom teste para o público feminino. Sandra criou com amigas um dos primeiros clubes de investimento de gênero no País. O grupo começou com 132 participantes e hoje tem 104. A meta era de cinco anos de aplicação. "É o prazo para correr riscos e ver resultado", explica a consultora. Para Sandra, a conduta das investidoras se diferencia da dos homens em dois aspectos. "As mulheres tomam decisões combinando raciocínio e intuição, e os homens, mais os fatos e estatísticas."
A consultora cita mais diferenciais. Mesmo conservadora, as mulheres estão alargando seus horizontes. Mas na hora de fazer escolhas e compor as carteiras, o público feminino utiliza a cautela como ferramenta de decisão. Enquanto os homens são mais agressivos. "Ela aprende mais e fica mais confiante", descreve, condição que poderá abrir espaço para voos mais ousados. O jeito das aplicadoras emergentes também se revela na hora de pesar e decidir pelas ações. Além de considerar dados financeiros, elas observam qualidade de produtos, imagem e política de recursos humanos. A expansão feminina no mercado acionário será um dos temas da Expo Money, feira de educação financeira e de investimentos, que terá nova edição neste ano na sexta-feira e no sábado, no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs).
Fonte: Jornal do Comércio