“O navio começa a ser construído pela parte de baixo e a quilha é como se fosse a coluna vertebral. Em seguida são montadas as cavernas, que numa analogia representariam as costelas humanas. É o ponto de partida, a primeira peça na construção do casco como um todo”, explica o prático Luiz Augusto, que há 45 anos se dedica à vida nos portos.
Na lenda dos marinheiros, os navios têm alma e são como criaturas vivas. Supersticiosos, antigamente eles costumavam colocar uma ferradura no primeiro prego batido na quilha para dar sorte e afastar qualquer “mazela”. Foi por conta disso que o batimento de quilha passou a ser o primeiro ritual na construção de um navio.
“Tão emocionante quanto o batimento de quilha é o bota fora (momento do lançamento ao mar)”, destaca Luiz Augusto, lembrando que o Atlântico Sul ainda viverá esse ritual. A Transpetro - dona do navio construído pelo EAS - vai escolher uma madrinha para batizar o navio e quebrar uma garrafa de champanhe no casco, no dia em que o dique seco terá as comportas abertas para a embarcação navegar. A madrinha geralmente é uma personalidade que tenha alguma relação com o nome sugerido para batizar a embarcação. Em Suape, essa cerimônia deverá acontecer em abril de 2010, quando o EAS vai entregar o primeiro dos dez petroleiros encomendados pela Transpetro.
Para registrar os principais momentos vividos pela embarcação, ela também ganha um livro de bordo. Lá estão histórias desde o nascimento até a morte do navio. Sim, porque como a criatura viva que é, ele morre e tem direito ao funeral. Quando a embarcação deixa a vida ativa e vai virar sucata, é escrita uma ordem de serviços registrando seus feitos, a bandeira deixa o mastro (definitivamente) para ser dobrada e o nome do navio é apagado com tinta cinza. É o momento do adeus.
Fonte: Jornal do Commercio