SÃO PAULO - As transações comerciais entre o Brasil e os países da América do Sul por meio do Sistema de Moeda Local (SML), que elimina o dólar das relações comerciais, será um dos principais temas apresentados pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva durante o encontro da Cúpula do Mercosul que acontece em Assunção, nos próximos dias 23 e 24. O presidente paraguaio, Fernando Lugo afirmou que o tema será discutido entre os presidentes dos países que compõem o Mercosul, e que estes analisarão a possibilidade de empregar moedas locais no intercâmbio comercial.
O SML entre o Brasil e a Argentina está em operação desde outubro de 2008, mas até agora sua participação no comércio total é muito baixa, informou Ivan Ramalho, secretário-geral do Ministério do Planejamento. As operações por meio do SML representam somente 1,25% de toda negociação entre os países.
Segundo o Banco Central brasileiro o comércio pelo sistema apresenta vantagem para o Brasil, quadro inverso do apresentado na balança comercial. Entre janeiro e junho deste ano foram exportados R$ 122.5 milhões contra compra de R$ 1.2 milhão.
Em um marco adverso, dado o impacto negativo da crise internacional no comércio bilateral, a utilização do SML registrou um crescimento constante, no qual se destaca a participação das pequenas e médias empresas", ressaltou Cassano.
O comércio com a China, contudo, teve em junho a primeira operação por meio do SML , o resultado, no entanto ainda não foi divulgado pelo BC. Contudo, Ramalho afirmou que a retirada do dólar no comércio entre Brasil e China será positiva, e deixará claro na experiência que acontece entre os países. "O sistema ajudará a aumentar a corrente comercial", afirmou.
A intenção de Lula é de estender o acordo a outros países igualmente como foi feito entre a Argentina e o Brasil. "A ideia é fixar uma cotação comum e deixar de usar o dólar como referência", disse o vice-ministro de Relações Econômicas e Integração do Paraguai, Oscar Rodríguez Campuzano.
Durante o encontro estarão presentes os governantes de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, além dos presidentes da Venezuela, Chile, Bolívia e Equador.
O professor de economia do Mackenzie, Francisco Américo Cassano explicou que "não há dúvidas de que estamos diante de uma nova fase do relacionamento com o Mercosul, o sistema permitirá aprofundar mais o comércio , bem como permitirá avançar na desejada diversificação da pauta exportadora do País ."
Segundo o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, há grandes preocupações com o futuro do dólar entre os países. "A primeira está relacionada ao temor dos países com as grandes reservas em dólar, que corre o risco de serem desvalorizadas por uma eventual queda da moeda norte americana", disse.
Com relação a adoção do SML com o Uruguai, o presidente do Banco Central do Uruguai, Mario Bergara declarou ao jornal local El País que "a decisão política já está tomada. Estamos na etapa da análise operativa para seguir em direção à implementação (do acordo)." Ainda de acordo com Bergara, o governo uruguaiano espera concretizar até o final do ano, o acordo com o Brasil .
Lula também debateu o uso de moedas locais nas transações comerciais com a Colômbia e com a Venezuela durante encontros governamentais. Segundo informações, o SML entre o Brasil e a Venezuela deverá ser concluído após a entrada do país no Mercosul, já com a Colômbia o primeiro passo para o início da eliminação do dólar nas transações comerciais deu-se durante um encontro com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, em abril deste ano.
Outros temas
Fernando Lugo disse ainda que os presidentes também analisarão a eliminação da cobrança dupla da Tarifa Externa Comum, um projeto que permitiria ao bloco avançar até a criação de uma união aduaneira plena, mas que conta com certa oposição do Paraguai. Com o fim da taxa, as mercadorias importadas fora do bloco pagarão o imposto uma única vez, no porto de entrada.
Segundo o presidente paraguaio, o encontro servirá também para discutir medidas comuns de prevenção e combate à gripe H1N1, conhecida também como gripe suína, que afetou especialmente os países do cone Sul. O encontro presidencial servirá também para a assinatura de um documento que estabelece um grupo consultivo conjunto para a promoção do comércio e investimentos entre o Mercosul e a Coreia do Sul.
Fonte: DCI