Sexta, 24 Janeiro 2025
O documento que as delegações de países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) vão analisar e, então, votar, com medidas sugeridas para o combate aos efeitos da crise financeira, inclui a proposta de criação de uma instituição financeira internacional alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A informação foi dada pelo Nobel Joseph Stiglitz, presidente da Comissão de Especialistas, que escreveu o documento para a ONU. Entre os autores deste relatório está o ex-ministro Rubens Ricupero, que não deverá comparecer à conferência.
Ao falar em uma mesa-redonda, Stiglitz disse que a comissão destacou no documento a "necessidade de criação de uma instituição mais rápida para distribuição de fundos" e que atue por outros mecanismos. O acadêmico considera uma ironia fazer do FMI o organismo responsável em dar respostas para a crise. "A política de pressão do Fundo contribuiu para a crise e espalhamento dela", diz Stiglitz.
Além de parte importante de financiamentos concedidos pelo FMI ter condicionalidades para a liberação, a "eficiência deles permanece controversa", emendou Stiglitz. A instituição alternativa ao Fundo, citada pelo professor da Columbia University, liberaria recursos por uma forma de concessão, e não por financiamentos. "Não queremos outra crise de dívidas", completa.
Stiglitz avalia que é consensual entre os membros da ONU a necessidade de reforma das instituições de Bretton Woods, mas reconhece que existe a preocupação de que mudança na divisão de cotas não represente "mudança substancial para as decisões mais importantes".
Críticas à comunidade financeira internacional e um tom messiânico dominaram o discurso do presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Miguel d’’Escoto, na abertura da conferência sobre a crise mundial. "Não é humano nem responsável construir uma Arca de Noé que salve o sistema financeiro, deixando a humanidade por si só sofrendo consequências de sistema imposto por uma minoria irresponsável, mas poderosa", disse em referência à comunidade financeira global.
Na sede da ONU, em Nova Iorque, d’’Escoto, que também preside a conferência, reiterou que os países deveriam juntar esforços por meio do G-192, ou seja, pela própria ONU. Padre d’’Escoto, como é conhecido por ser padre da Igreja Católica, disse que era preciso reconhecer que a "crise atual resulta de egoísmo e de uma forma de vida irresponsável". "Devemos juntar esforços para evitar que (a crise) se transforme em tragédia humanitária, e os humanos acabem como os dinossauros."
D’’Escoto disse que a situação atual não é de tragédia, mas de crise. Crise, disse ele, "pode purificar e nos deixar mais maduros e nos fazer encontrar formas de superar nossos problemas". A crise, continuou, "não é o mesmo que uma pessoa no leito de morte, mas é da dor do nascimento. Agora devemos trabalhar com o capital espiritual, que é infinito, pois nossa capacidade para amar é infinita".
O presidente da Assembleia Geral da ONU avalia que há falta cruel de sensibilidade social no mundo. Segundo d’’Escoto, "ganância e egoísmo não podem ser corrigidos, têm de ser substituídos por solidariedade". D’’Escoto também criticou a utilização de armamento nuclear, dizendo que é preciso abolir completamente seu uso. "Tolerância zero para as armas nucleares", disse, ao acrescentar que não pode ser mais adiado um encontro entre todos os países que fazem uso destes artefatos.


Ban Ki-moon lamenta divisão dos países sobre reforma

Na abertura da conferência sobre crise mundial, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, fez um desabafo sobre a posição dos países-membros do organização sobre a reforma de instituições multilaterais. "Lamento que a reforma das instituições financeiras tenha dividido os países-membros. Esta não é uma causa para uma pessoa, um país ou grupo de nações. É um desafio para todos", afirmou, na sede em Nova Iorque.
O mundo, acrescentou o secretário, ainda está lutando para superar a pior crise econômica e financeira desde a fundação da ONU, há mais de 60 anos. Ki-moon, então, buscou metáfora usada recentemente por participantes do mercado financeiro para advertir que não há brotos verdes de recuperação da economia para um grande número de países. "Há apenas um terreno improdutivo, e o impacto da crise pode durar por anos."
O secretário-geral citou que alguns falam em estabilização e até crescimento para a economia de certos países. "Quero dizer alta e claramente que há apenas sinais", acrescentou. O mundo está em meio a crises múltiplas, continuou Ki-moon, citando a gripe suína, rebatizada de influenza A H1N1. Milhões de famílias estão sendo empurradas para a pobreza e 50 milhões de postos de trabalho podem ser perdidos apenas neste ano, calculou o secretário-geral da ONU. "Pobreza extrema tem se tornado ainda mais severa", disse.


Declínio econômico ainda não foi revertido, avalia Fundo

O declínio do crescimento mundial ainda não foi revertido, reconhece o FMI em documento preparado para a conferência da ONU sobre a crise mundial. Espera-se que os esforços de políticas contra a crise sem precedentes que já estão a caminho produzam progresso substancial no próximo ano, mas os riscos negativos a esta perspectiva continuam consideráveis, acrescenta o relatório.
No documento, o Fundo argumenta que a crise resultou de "séria falha de mercado, refletindo otimismo excessivo dos investidores depois de um amplo período de crescimento econômico, baixa volatilidade do mercado e baixos juros reais, misturados com falhas regulatórias".
O FMI reitera que será preciso empenho para corrigir as falhas sistêmicas que produziram as precondições para a crise atual. "Assim novos esforços internacionais serão essenciais para o alcance de uma retomada equilibrada e sustentável do crescimento global", avalia o Fundo. Novamente o organismo enfatiza que mais estímulo fiscal é necessário nos países que possuem espaço em suas contas públicas. "O fato de que alguns países não podem fazer estímulo fiscal sem assistência externa faz com que seja mais importante que outros, incluindo algumas grandes economias emergentes, façam a parte deles", disse o organismo.
Sobre política monetária, o FMI diz que é preciso um plano adequado para saída do afrouxamento monetário e, em particular, dos instrumentos de flexibilização quantitativa. Uma redução cuidadosa da enorme expansão dos balanços patrimoniais de alguns bancos centrais em função da crise, observa o Fundo, deveria começar ao passo que o setor privado voltar a engrenar. O FMI ainda enumera para as delegações da ONU seus "próprios esforços para responder rápida e eficientemente às necessidades de seus membros", observando que os financiamentos empenhados atingem nível recorde de mais de US$ 158 bilhões agora, em comparação com US$ 14 bilhões registrados no final de 2007.


No Brasil, Lula reclamou dos organismos financeiros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é impensável que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) continuem sendo "um condomínio de europeus e norte-americanos". Ele fez a declaração no Itamaraty, na recepção à presidente das Filipinas, Gloria Arroyo. Ela está em visita oficial ao Brasil para tratar de cooperação entre os dois países em agricultura, bioenergia, pesquisa agropecuária e comércio.
Na avaliação de Lula, a crise é uma oportunidade para a construção de "uma nova ordem e governança internacionais". "Ela nos mostra que o mundo não pode ser regido por um clube de sete ou oito países ricos sem levar em conta mais da metade da humanidade", disse o presidente. Segundo ele, as organizações políticas e econômicas multilaterais "não podem mais prescindir do peso e da legitimidade dos países em desenvolvimento".
Depois de defender reformas também das Nações Unidas, Lula agradeceu o apoio das Filipinas ao pleito brasileiro por um acento permanente no Conselho de Segurança da ONU.


PIB brasileiro sobe em 2010, indica a OCDE

O Brasil foi razão de más notícias ontem, em Paris. Em março, os economistas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicavam que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 seria de 0,3%, enquanto em 2010 a retomada atingiria 3,8%. Nas perspectivas atuais, os extremos aumentam: neste ano, a estimativa é de retração de 0,8%, enquanto no próximo ano o nível de riqueza deverá crescer 4%.
"Essa revisão se deu em função dos números do PIB do último trimestre de 2008, que foram mais negativos do que se imaginava, assim como de taxas de inflação também mais baixas", explicou Luiz de Mello, especialista do Departamento de Assuntos Econômicos da entidade. Para o economista, o país continua à mercê dos riscos externos: "Os principais são a eventual deterioração do comércio mundial e a manutenção das condições difíceis de financiamento global", entende.
Ainda assim, o cenário não é de todo negativo. "Após uma nova desaceleração no primeiro trimestre, a atividade parece agora estar sendo retomada", afirma o relatório. "A taxa de desemprego parece se estabilizar, e a confiança dos consumidores assim como as vendas a varejo resistem, auxiliadas por salários reais muito estáveis."
A OCDE também fez elogios ao controle da inflação e às medidas governamentais tomadas para garantir a liquidez e impedir um desaquecimento ainda pior. A entidade alerta que o País enfrenta incertezas geradas pelo ambiente externo instável, mas abre espaços para o otimismo: "A atividade vai possivelmente se acelerar no segundo semestre do ano".


Febraban piora perspectiva para a economia nacional

A pesquisa Febraban de Projeções Macroeconômicas e Expectativas de Mercado de junho, realizada com 30 analistas de instituições financeiras, apontou que o Produto Interno Bruto (PIB) deve registrar uma queda de 0,3% este ano, resultado pior do que a marca de 0,01 negativo apurada no levantamento anterior, realizado em maio.
De acordo com o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, apesar de ter ocorrido uma piora no indicador, ele interpretou tal variação como um resultado aproximado que indicaria uma tendência de o PIB registrar um resultado levemente negativo. "No entanto, esta projeção ainda é mais otimista do que a apurada pelo Banco Central na pesquisa Focus que apontou uma queda maior, de 0,57%", disse.
Na avaliação particular de Sardenberg, a queda de 0,01% apurada em maio pode ter refletido um certo otimismo dos analistas, o que indiretamente seria um reflexo da mudança de humor do mercado financeiro para uma perspectiva mais favorável de evolução do nível de atividade no Brasil em 2009. Para 65,4% dos analistas ouvidos, o País já está em pleno processo de recuperação econômica. Contudo, na avaliação de 30,8%, o nível de atividade apresenta estabilização e, portanto, o ritmo de desaquecimento da demanda agregada parou de piorar.
De acordo com a pesquisa, 84,6% acreditam na continuidade do processo de avanço do mercado de crédito com diminuição das taxas de juros e spread, sobretudo no caso dos empréstimos concedidos para as pessoas físicas. Somente 7,7% apontam que tal tendência de melhora será revertida nos próximos meses. A grande maioria dos analistas (92,3%) avalia que o governo não tem muito o que fazer para conter a valorização do câmbio e acredita que o regime de câmbio flutuante deve ser mantido. Para 3,8%, o Banco Central deveria acelerar a redução dos juros, o que colaboraria para diminuir o ingresso de capitais externos no País e, assim, diminuiria a valorização do real ante o dólar.
A pesquisa indicou também uma queda da estimativa de 5,9% em maio para 5,6% para a taxa de inadimplência de operações de crédito cuja duração supera 90 dias. De acordo com Sardenberg, tal dado sugere que os analistas têm uma perspectiva mais positiva para esse indicador porque é um reflexo direto da recuperação do nível de atividade do País registrado recentemente.
No início do ano, os bancos comerciais elevaram as taxas de spread de operações de financiamento, apesar de o Banco Central ter iniciado um movimento de distensão monetária em janeiro. Uma das alegações usadas pelos dirigentes das instituições financeiras era a piora das expectativas relacionadas à inadimplência neste ano.
Sardenberg destacou que a pesquisa deste mês trouxe uma novidade positiva, que é a melhora das previsões dos analistas relativas ao ritmo de crescimento das operações de crédito deste ano.


Guido Mantega acerta encontro com Geithner para discutir a crise

A convite do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, embarca na próxima terça-feira para Washington para uma reunião reservada com o colega americano. No encontro, acertado de última hora, Geithner e Mantega vão discutir saídas para a crise financeira, regulação financeira e reforma dos organismos multilaterais.
Desde a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, Mantega e Geithner só tinham mantido encontros rápidos durante reuniões de cúpula do G-20. Agora, segundo assessores do Ministério da Fazenda, surgiu uma brecha na agenda dos dois para uma aproximação mais estreita, que permita uma discussão mais profunda da pauta bilateral do Brasil e dos Estados Unidos.
O encontro está marcado para a quarta-feira. Depois, Mantega retorna ao Brasil. O ministro tem particular interesse nas discussões sobre reforma do FMI que garanta maior espaço para os países emergentes. Essa é uma agenda prioritária na agenda internacional do Ministério da Fazenda. O ministro também vem defendendo medidas para ampliação do crédito internacional de comércio para os países menos desenvolvidos.
Geithner também defendeu uma reforma mais profunda que dê mais influência aos principais mercados emergentes. Segundo ele, o organismo multilateral deveria refletir melhor a realidade da economia mundial. Na semana passada, Barack Obama apresentou seu plano de reforma financeira.


Organização revisa crescimento mundial para cima em 2009

As mudanças no cenário econômico são sutis, mas para melhor. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou ontem para cima - pela primeira vez em dois anos - suas previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) internacional. A recessão nos 30 países-membros da instituição em 2009 será de 4,1% - 0,25% menos severa do que se imaginava. Em 2010, o ritmo da atividade se acelera.
As constatações foram reveladas no relatório Perspectivas Econômicas, apresentado ontem, em Paris. De acordo com a organização, o PIB da zona da OCDE - composta por 30 países industrializados - se retrairá em 2009, mas em 2010 crescerá mais do que o previsto: 0,7%, diante de 0,1% estimado em março. "A fase de contração da atividade deve atingir seu fim em breve na zona OCDE, após um recuo sem precedentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial", informou o relatório, esclarecendo que as consequências econômicas e sociais da crise serão duradouras.
Pela primeira vez desde a falência do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers, o tom dos analistas da organização foi de comedido otimismo. "As coisas poderiam ter sido piores", afirmam no documento, reiterando: "Um cenário pior parece ter sido evitado."
Parte da recuperação se dará pelo desempenho acima do previsto da economia dos Estados Unidos. Em lugar de uma retração de 4%, a recessão deverá alcançar no máximo 2,8%. "Desde as últimas perspectivas, os EUA foram revisados para melhor, o que é muito importante, já que se trata da maior economia do mundo", comemorou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.
Em contrapartida, o cenário continuou a se deteriorar, ainda que ligeiramente, na União Europeia e no Japão. No bloco de 27 países, a recessão estimada em 2009 será de 4,8%. Em março a estimativa era de um recuo de 4,1%. No líder asiático, o panorama é de recessão acentuada: 6,8%, 0,2% pior que apontado há três meses.
Dentre os grandes emergentes, China e Índia tiveram as previsões de crescimento melhoradas e terão papel protagonista na recuperação econômica mundial. Segundo o relatório, a riqueza na China crescerá 7,2% - diante de 6,3% estimados em março. Na Índia, o aumento do PIB previsto para 2009 será de 5,9%, 1,5% superior ao prognóstico anterior. "Os países não membros da OCDE vão acabar contribuindo para a recuperação dos países-membros", ressaltou Jorgen Elmeskov, chefe do Departamento de Economia da organização. "Para que todos saíssem da crise com mais uniformidade, seria necessário haver uma maior coordenação global."
 
Fonte: Jornal do Comércio
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