O provável corte na taxa básica de juros a ser decidido nesta quarta-feira pelos diretores do Banco Central e já precificado pelo mercado coloca a poupança como a melhor opção de investimento de curto prazo. Um estudo realizado pelo professor de Economia da Pucrs Carlos Renato Salami mostra que em 12 meses, por exemplo, aplicações como fundos de renda fixa e CDBs (Certificados de Depósito Bancário) renderiam 5,12% e 6,84% ao ano, respectivamente, já descontados a taxa de administração e o Imposto de Renda, enquanto a caderneta tem garantido 6,17% de valorização mais a variação da Taxa Referencial (TR), que fica entre 1% e 2%.
A expectativa de analistas é que o BC decida por reduzir a taxa em 0,75 ponto percentual, estipulando a Selic em 9,5% ao ano. A medida - que deve ser motivada pela fraca demanda, a recente apreciação do real e o elevado estoque das empresas - faz com que aumente o risco de migração dos recursos investidos em fundos para a poupança, uma vez que a caderneta terá rendimentos maiores. Em função disso, o governo já anunciou no mês passado a intenção de tributar os rendimentos acima de R$ 50 mil depositados na poupança, eliminando assim riscos imediatos e que, pelos cálculos do BC, ficam afastados enquanto a Selic se manter acima de 7,5%.
Para realizar a análise, Salami optou por dois produtos comuns oferecidos por bancos a investidores - um fundo de renda fixa de curto prazo e um CDB - e trabalhou com uma aplicação inicial de R$ 20 mil a ser mantida por 12 meses a fim de calcular o IR e a taxa de administração que incidem sobre o resultado. Pelos números atuais, a aplicação no fundo resultaria em um ganho R$ 1.024,52, enquanto o CDB teria rendimento de R$ 1.367,90. Mesmo sem ser possível calcular o rendimento final da poupança no período por conta da falta de precificação da TR, o professor diz que a caderneta traria um resultado maior ao final dos 12 meses em função de já partir com um acréscimo garantido de 6,17% ao ano.
A queda recente da taxa Selic reduz o ganho dos fundos de investimentos, que têm como desvantagem, em relação à poupança, a tributação do IR e as taxas de administração cobradas pelos bancos. A poupança tem rentabilidade garantida de 6,17% ao ano mais TR, que é calculada com base na média dos juros cobrados pelos bancos nos CDBs. Os fundos dependem dos títulos públicos, ou privados, em que o seu administrador aplica. Quando a taxa básica de juros é alta, a poupança perde em competitividade. Uma retirada maciça de recursos investidos em fundos poderia comprometer a rolagem da dívida pública, cujos títulos servem de base para as aplicações dos fundos. Além disso, ocorreria uma falta de recursos no mercado para empréstimos normais, gerando problemas para empresas e pessoas físicas.
Salami ressalta que os contratos de juros negociados na BM&F para o ano que vem já sinalizam para uma alta da taxa Selic, que deve ocorrer por pressão do reaquecimento da economia sobre a inflação. Nesse caso, o impacto sobre as aplicações não deve ser tão intenso. Mesmo assim, o professor avalia que, no longo prazo, a tendência é de que o Brasil passe a ter taxas de juros mais baixas e próximas de padrões internacionais, exigindo reformas profundas na forma como é calculado o rendimento da poupança. Para os investidores, a recomendação de Salami é apostar cada vez mais da diversificação. "A indústria de gestão de recursos no Brasil é focada no curto prazo porque as pessoas se habituaram a olhar o retorno a cada semana e o gestor sabe disso. Porém, o retorno tende a ser cada vez mais baixo porque as taxas de juros não serão mais estratosféricas", diz. O especialista afirma que é preciso compreender melhor o que se espera do investimento e assumir riscos. "Efetivamente, a poupança se tornou um bom investimento, mas como alternativa ao CDI há coisas melhores", destaca. Um dos produtos são os títulos públicos com rendimento atrelado à inflação.
Compare:
Fundo de investimento de curto prazo
Aplicação inicial: R$ 20.000,00
Retorno igual ao do CDI
Taxa de Administração: 2% a.a.
Imposto de Renda: 22,5% até 180 dias; 20% no restante do período
Retorno líquido: R$ 21.024,52
Rentabilidade: 5,12% a.a. (252 dias úteis = 12 meses)
CDB
Aplicação inicial: R$ 20.000,00
Remuneração: 95% do CDI
Taxa de administração: não há
Imposto de Renda: 22,5% até 180 dias; 20% no restante do período
Retorno líquido: R$ 21.367,90
Rentabilidade: 6,84% a.a. (252 dias úteis = 12 meses)
Poupança
Remuneração: 6,17% a.a. + TR
Taxa de administração: não há
Imposto de Renda: não há
Bancos já reduzem taxas e valores mínimos para aplicações financeiras
A aposta consensual do mercado na redução da taxa básica de juros já levou bancos a anunciarem medidas na terça-feira. A Caixa Econômica Federal comunicou que, a partir de segunda-feira, 18 linhas de crédito comercial terão redução nos juros. É a sexta vez no ano que o banco diminui suas tarifas, mas desta vez a CEF se antecipou a possível redução da taxa Selic pelo Banco Central, que divulga sua decisão nesta quarta-feira. Foram alteradas taxas de oito linhas voltadas para pessoa física e de dez modalidades de financiamento para pessoa jurídica. Para pessoa física, o banco reduziu os juros na linha de créditos conveniados INSS, que passou de 0,88% ao mês, para 0,85% ao mês, uma queda de 3,4%.
A CEF também diminuiu as taxas do penhor (de 2,10% para 2,08% ao mês) e para financiamento de veículos, que terá juros a partir de 1,19% ao mês. A linha de turismo terá juro máximo de 3,3% ao mês, contra 3,8% praticados atualmente. No caso do crédito pessoal, a taxa máxima cairá de 4,31% para 4,26% ao mês. A taxa mínima do cheque especial passou de 1,27% para 1,20% ao mês. Para a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, o banco vem se mantendo com as menores taxas de juros do mercado.
"Analisando o comportamento das curvas de juros futuras, a Caixa resolveu reduzir as taxas de vários produtos", afirmou o vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival. Segundo o executivo, as novas taxas irão contribuir para a expansão do crédito e do consumo. A Caixa também reduziu as taxas de juros para a pessoa jurídica. Na modalidade cheque empresa Caixa, a taxa com convênio folha de pagamento ficará em 5,09% ao mês, ante 5,13% anteriormente. No GiroCaixa, a redução da taxa máxima chega a 16,42% para o segmento de micro e pequenas empresas.
Já o Bradesco está praticando, desde terça-feira, valores mínimos reduzidos para aplicação inicial em mais de 30 fundos de investimento. A medida contempla fundos DI, renda fixa, ações e de multimercado, voltados para os clientes dos segmentos varejo e Prime. Os valores para as aplicações adicionais também foram reduzidos. Com a nova medida, o banco diz que cria condições para que os investidores tenham acesso a fundos mais competitivos em termos de rentabilidade. A nova tabela traz reduções significativas, como o FIC Curto Prazo, que teve sua aplicação inicial reduzida de R$ 5 mil para R$ 500,00, e o FIC Referenciado DI Platinum, que passou de R$ 200 mil para R$ 80 mil.
Fonte: Jornal do Comércio