BRASÍLIA – Os recentes atos de violência que aconteceram em São Paulo reacenderam as discussões no Congresso sobre a prática de trotes em universidades. Após 14 anos em tramitação na Câmara dos Deputados, o projeto de lei nº 1.023 de 1995, que criminaliza o trote violento, está pronto para ir a votação pelo plenário da Casa, em regime de urgência, dependendo apenas da priorização da Mesa Diretora.
Na semana passada, dois episódios ocorridos em instituições de ensino do interior paulista chamaram a atenção de todo o País pela brutalidade aplicada nas “brincadeiras” feitas por alunos veteranos com calouros. Em um deles, Bruno César Ferreira, 21 anos, estudante de veterinária da Faculdade Anhanguera, em Leme (a 189 quilômetros da capital), foi internado na segunda-feira, após ser obrigado a tomar grande quantidade de cachaça e apanhar de chibata dos colegas.
Também na segunda, pelo menos quatro alunas da Fundação Educacional Santa Fé do Sul (a 623 quilômetros de São Paulo) sofreram queimaduras após serem atacadas por estudantes mais adiantados e terem um líquido à base de produtos químicos atirado contra o corpo. Uma delas, Priscila Vieira Muniz, 18, do curso de análise de sistemas, está grávida.
O projeto de lei e mais 15 anexos consideram como contravenção penal o trote estudantil, quando esses atos submetem alguém a situação ridícula ou ofensiva. Como punição, o texto prevê detenção de um a cinco meses e multa que varia de R$ 100 a R$ 500.
Para a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lúcia Stumpf, o ato violento deve ser combatido. “É necessário que haja punição dos trotes violentos e humilhantes para que não seja uma tradição. O trote deve ser um momento de incluir o estudante na comunidade acadêmica. Não é preciso criminalizar o trote, mas os crimes cometidos no momento do trote”.
A Universidade de São Paulo (USP) criou há dez anos o Disque-Trote. Os alunos que se sentem agredidos devem ligar para o telefone 0800-0121090 e denunciar a violência. Segundo o responsável pelo programa, o professor Oswaldo Crisello Junior, houve uma grande redução no número de denúncias. A natureza das ocorrências também mudou.
“Hoje as queixas são sobre atividades de que os alunos foram obrigados a participar, a pintura de calouros ou o corte de calças, mas fatos mais agressivos são mais raros”, destaca Crisello Junior.
A professora Suely Guimarães, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), lembra que o trote muitas vezes causa traumas ao jovem agredido que exigem tratamento demorado e que podem deixar reflexos até mesmo na idade adulta.
“O aluno, quando passa no vestibular, já está sob estresse. A frustração que um trote violento gera pode ser recuperável ou não. Em muitos casos, é necessário o tratamento medicamentoso”, afirma Suely.
Fonte: Jornal do Commercio