O Brasil vai propor ao governo russo que altere a política de cotas de importação de carne suína. Hoje, a Rússia distribui cotas por países. A idéia é de que seja aberta uma cota única, deixando os importadores russos livres para comprar dos fornecedores mais competitivos. "Esse sistema é chamado de nação mais favorecida na Organização Mundial de Comércio. Estamos trabalhando que ele possa ser implantado e aproveitar que a Rússia tem a intenção de entrar na OMC", afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína (Abipecs).
A proposta será apresentada ao governo russo ainda nesta semana, na reunião entre o ministro da Agricultura do Brasil, Reinhold Stephanes, e o ministro da Agricultura da Rússia, Aleksey Gordeev. O encontro está marcado para a próxima sexta-feira e a idéia é que o Brasil se aproveite da decisão russa de rever sua política de cotas e favorecer a produção doméstica. Com adoção do sistema de nação mais favorecida, acabariam os privilégios para os EUA e a Europa, que detêm a maioria do fornecimento ao mercado russo.
A proposta a ser apresentada poderia fazer com que o Brasil ganhe espaço no mercado russo, já que o governo de lá anunciou ontem que vai reduzir a cota de importação de carne de frango em 300 mil toneladas no próximo ano, para 952 mil toneladas e as importações de carne suína acima da cota normal serão reduzidas em 200 mil toneladas. Segundo o ministério, as importações de carne suína em 2008 podem atingir 700 mil toneladas, e em 2009, 500 mil toneladas.
O ministério afirmou que o corte nas importações será compensado por um aumento na produção nacional de carne suína e de frango, que é previsto em 8% e 16%, respectivamente. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), no entanto, mostram que a política russa de reduzir a dependência das importações e estimular o consumo interno não está de fato acontecendo, pelo menos neste ano.
Em 2008, a produção doméstica da Rússia representava 73,7% do consumo nacional, enquanto as importações detinham uma fatia de 26,3%. Para este ano, a estimativa do USDA é de que 68,5% da demanda seja atendida pela produção local, enquanto 31,5% da necessidade seja suprida por importações. O motivo é que o ritmo de crescimento da produção russa é inferior ao aumento da demanda, o que força uma maior dependência das importações. Entre 2005 e 2008, a média de crescimento do consumo da Rússia foi de 6,2% ao ano, enquanto a produção aumentou, em média, 4,3%. Para suprir a diferença, as compras de outros países subiram 11,4% ao ano.
Para 2009, no entanto, com a decisão do governo pode começar a surtir efeito. Pela primeira vez, nos últimos cinco anos, a participação das importações na demanda da Rússia deve recuar, segundo o USDA. Em 2009, a produção doméstica vai representar 69,4% do consumo, enquanto as importações atenderão a 30,6% das necessidades.
A preocupação é que, com o plano de redução das importações da Rússia, o Brasil perca seu principal mercado consumidor. Dados da Abipecs mostram que no mês de outubro, do total de 46,9 mil toneladas de carne suína exportadas pelo Brasil, 18,7 mil foram para a Rússia, crescimento de 18% em comparação a outubro do ano passado e 40% do total embarcado.