O presidente dos EUA, George W. Bush, e o presidente eleito, Barack Obama, encontraram-se ontem durante pouco mais de uma hora na Casa Branca, onde discutiram a crise financeira e outros aspectos do processo de transição. Foi a primeira vez que Obama pisou no Salão Oval. A reunião foi cercada de sigilo.
Horas após deixar a sede do governo, a assessoria de Obama divulgou um comunicado no qual qualificou de "amigável e produtivo" o encontro dos dois presidentes. Segundo a nota, Obama agradeceu Bush por seu compromisso de oferecer uma transição tranqüila.
Antes da reunião, Bush e a primeira-dama, Laura, levaram Barack e sua mulher, Michelle, para um tour na Casa Branca. Laura mostrou a Michelle o segundo e terceiro andares, onde estão os quartos de hóspedes, salas de reunião e a ala privada. Michelle se interessou pelos quartos onde ficarão suas filhas, Sasha e Malia. "Ela achou os quartos lindos e disse que seriam perfeitos para duas meninas", disse Anita McBride, chefe de gabinete de Laura.
PONTUALIDADE
Obama chegou cedo ao encontro, às 13h52, oito minutos antes do marcado - o que deve ter agradado muito ao presidente Bush, conhecido pelo apreço à pontualidade. Muitos curiosos se aglomeravam nas grades da Casa Branca, na esperança de ver alguma coisa.
Obama e Bush reuniram-se no Salão Oval sem a presença de assessores. Na agenda, três itens: ajuda para a indústria automobilística por causa da crise financeira, apoio da Casa Branca a um pacote de estímulo durante as últimas sessões do Congresso e medidas para prevenir um grande aumento nas execuções de hipotecas.
Obama e Bush querem fazer uma transição menos conturbada do que a de Bill Clinton para Bush, há oito anos. Naquela transição, logo após a recontagem dos votos, os democratas que estavam de saída arrancaram a tecla "W" dos teclados dos computadores da Casa Branca.
Ontem, os dois tentaram contornar o desconforto causado pelo encontro, já que o tema principal da campanha de Obama foi "a política fracassada" de Bush. Durante a disputa, o presidente deu o troco, ironizando a disposição de Obama de se encontrar com líderes de regimes autoritários. Em discurso feito durante visita a Israel, Bush alertou para o perigo de "apaziguar" os inimigos dos EUA como os ingleses fizeram com os nazistas.
Durante a campanha, Bush disse a um amigo que achava Hillary Clinton "mais experiente e preparada para ser presidente". Contudo, o clima nos últimos dias tem sido pacífico. Bush disse que a mudança de Obama e Michelle para a Casa Branca seria uma "visão eletrizante". Obama também tem sido gentil e repete sempre que o "país só tem um presidente de cada vez", evitando falar sobre como tratará os temas mais polêmicos de política externa.
Pesquisa da rede CNN divulgada ontem mostrou que a aprovação de Bush atingiu o ponto mais baixo de seus dois mandatos. Com 76% de rejeição, ele é agora o presidente mais impopular desde que a sondagem começou a ser feita, nos anos 50. Bush superou os ex-presidentes Richard Nixon, no auge do escândalo de Watergate, em 1974, e Harry Truman, no final de seu mandato, em 1952.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 11 NOV 08