A crise internacional, que derruba a cotação de ações ao redor do mundo, cria oportunidades para gestoras de fundos que, aproveitando a baixa precificação, fortalecem suas posições nas principais empresas da BM&F Bovespa. Entre os focos de instituições ouvidas pelo DCI , estão os papéis mais líquidos, ou blue chips, como são conhecidos no mercado. Como exemplo, foram citadas Petrobras, Companhia Vale do Rio Doce, Gerdau, Lojas Renner, Ultrapar, entre outras.
A XP Investimentos, por exemplo, que administra cerca de R$ 90 milhões em sete fundos abertos, escolheu como principal opção ações da siderúrgica Gerdau. No último mês, a companhia intensificou a compra desses papéis, aproveitando não só o baixo preço relativo, mas também levando em consideração o desempenho potencial da companhia durante e após o repique da crise. "Sabemos que os ganhos da Gerdau vão desacelerar, mas mesmo assim vão continuar fortes", explicou André Zainer, gestor da XP. A oportunidade vislumbrada pela gestora é exatamente um fator que levou muitos a se preocuparem em não manter o papel da siderúrgica em sua carteira: a existência de unidades nos Estados Unidos, o berço da crise financeira mundial. "Achamos que o mercado confunde um pouco isso. Dois terços do valor da Gerdau estão no Brasil. O restante está dividido entre EUA, América Latina e Europa", explicou o especialista, citando, ainda, que a atuação em solo norte-americano é focada em obras de infra-estrutura, e não do ramo imobiliário. "Esse tipo de obra é muito mais ligada a gastos do governo do que a empresas privadas. E percebemos que os investimentos do governo dos Estados Unidos não costumam oscilar muito", finalizou.
Outras empresas no foco de aquisições da XP são Ultrapar - esta já há alguns meses - e, mais recentemente, Lojas Renner. "A rede é muito capitalizada e possui um caixa muito líquido, principalmente agora que desistiu da compra da Leader", disse, referindo-se ao cancelamento do processo de incorporção que movimentaria R$ 670 milhões. "Acreditamos que com a restrição do crédito pela qual estamos passando, a competição do comércio vai diminuir", continuou. Empresas menores não conseguirão manter suas margens e acabarão fechadas ou adquiridas por outras com maior nível de solvência. "A rede tem grande escala e vai ocupar esse espaço no mercado. Além disso, sua atuação no Nordeste ainda é muito baixa, o que gera possibilidade forte de crescimento na região", concluiu.
Antes conhecida como uma asset focada na compra de ações de empresas menores, a Geração Futuro modificou sua estratégia a partir de 2006, quando seus gestores avaliaram que o preço relativo das blue chips era menor do que o das empresas de segunda linha, as small caps. Com o repique da crise, a situação se intensifica. "Hoje, apenas 15% de nossa carteira é composta por small caps", explicou o gerente de Novos Negócios da Instituições, Igor Puertas. Entre os papéis mais procurados pela Geração, que administra cerca de R$ 4,7 bilhões, estão empresas como Petrobras, Usiminas, Vale do Rio Doce e Gerdau.
"Estamos vivendo um momento onde o fundamento não prevalece em sua magnitude. As cotações refletem muito mais o fluxo do mercado do que a solidez da própria empresa", explicou Eduardo Roche, gerente de análise do Modal Asset Managment.
Nesta semana, por exemplo, o fundo de pensão Petros, que adiministra cerca de R$ 40 bilhões dos funcionários da Petrobras, informou ter participação acionária relevante na Lupatech, em proporção de 5,25% do total de papéis em circulação. A fundação foi procurada para comentar sua estratégia, mas não se manifestou. Pelos últimos dados disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários, datados de dezembro deste ano, a Petros não estava na lista de acionistas com mais de 5% do controle da Lupatech.
Além disso, vale citar o caso do fundo Vinson Fund LLC, do banco Santander, que informou, também nesta semana, deter o controle de 5,29% das ações da incorporadora Abyara - participação que também não era verificada pela última prestação de contas à CVM, em dezembro último. A gestora da instituição financeira não comentou a situação.
Fontes de mercado informaram que, inclusive, o Tesouro Nacional e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico aproveitariam esse momento do mercado para adquirir blue chips. Parte da alta superior a 13% da Bolsa de anteontem seria, conforme as informações, motivada por esse movimento. O Tesouro informou desconhecer tais operações. O BNDES preferiu não se manifestar.
Fonte: DCI - 30 OUT 08
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