Todos sabem da capacidade de reação da economia norte-americana, mas também temos ouvido falar e lido bastante a respeito da economia chinesa.
A China é um país que tem surpreendido o mundo pelo desenvolvimento acelerado nas últimas décadas. O jornalista Carlos Pimentel Mendes, em sua coluna semanal publicada no PortoGente, tem chamado atenção para o “vento amarelo no comércio internacional” desde o último mês de agosto.
Portos chineses movimentam a maior quantidade
de contêineres em todo o planeta.
Trata-se de uma economia forte, com um governo centralizado e poderoso, que não encontrará resistências internas que possam postergar medidas "oportunistas" e imediatas. Em um cenário como o atual, por certo ocupará as lacunas que a economia ocidental deixar vazias. E aí, o “vento amarelo” se fará sentir. Essa sensação aumenta quando se conhece, ainda que de forma digital, a grandiosidade de Xangai. Não falo das muralhas, do exército de terracota ou das invenções chinesas, por se tratarem de fatos remotos, que apesar de significativos, não indicariam no momento a possibilidade de um crescimento vigoroso face a crise atual.
Tomei conhecimento da cidade de Xangai por um e-mail recebido. Fiquei impressionado! A curiosidade me levou a buscar pelo Porto de Xangai, hoje o segundo maior porto do mundo. E aí, surpresa de novo!
Sabem qual a profundidade do Porto? Oito metros. Isso mesmo, míseros oito metros. Aí, por volta de 2001, resolveram fazer um terminal, Yangshan, 35 quilômetros mar adentro. Yangshan ficará pronto em 2020, com profundidade de 16 metros. Já entrou em operação em 2005 e, em 2012, terá 30 berços de atracação. Será o terminal responsável pelo incremento na operação de contêineres, permitindo que o Porto de Xangai estime uma movimentação de 280 milhões de TEUs em 2008, quatro vezes mais do que todos os portos brasileiros juntos. Esse terminal será ligado à terra por uma ponte de 32,5 quilômetros de extensão e com nove pistas de rolamento, com a possibilidade de dobrar esse número futuramente.
As grandes potências, agora, estão convocando os países emergentes para reunião de cúpula para o enfrentamento dessa crise. Isso pode ser reflexo da possibilidade dos emergentes tomarem espaços até então pertencentes aos países do Atlântico Norte. Em termos de navegação, poderá significar que as rotas periféricas passem a ter importância econômica que justifiquem aos navios de grande porte freqüentarem as águas do Atlântico Sul.
E qual será o porto concentrador? Hoje, imputa-se à falta de profundidade as restrições ao Porto de Santos. A dragagem e o aumento das profundidades são fundamentais e necessárias, mas não suficientes. O canal de acesso não está dimensionado para os navios de grande porte.
De acordo com as normas da Pianc e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), nos trechos de curvas, o raio mínimo deve ser igual ou maior do que dez vezes o comprimento do navio. Um navio porta-contêiner de quarta geração, com capacidade para 4.250 TEUs apresenta as seguintes dimensões:
Comprimento L = 290,0m;
Boca B = 32,2m e
Calado C = 11,6m.
E o de quinta geração, com capacidade para 6.320 TEUs:
Comprimento L = 299,9m;
Boca B = 42,8m e
Calado C = 15,0m.
Entretanto, os raios de curvatura no traçado do canal de acesso ao Porto de Santos não chegam a 250 metros.
Meu pai, parodiando um antigo programa de televisão, dizia que quando se chegava a um impasse, e agora Praxedes? Ou, também, e agora José?
Pois é. Certa vez, em conversa com o empresário portuário Virgílio Pina, soube do interesse de um grupo em instalar uma área de retroporto em Guarujá, na retaguarda da praia da Pouca Farinha, com os navios operando ao largo da Ponta do Munduba atracados ou fundeados em bóias fixas naquele local. Era para navios graneleiros. Confesso que não levei em grande consideração aquela idéia. Mas não esqueci.
Agora, se considerarmos o crescimento desmesurado dos navios conteineiros, a tendência do comércio internacional, as possibilidades que se apresentam nessa época de crise e o próprio interesse do capital privado (Projeto Taniguá abortado por questões indígenas), não seria oportuno se pensar em um terminal na Ilha da Moela? Pode até haver interesse dos chineses na sua implantação.
E como dizia Mao Tsé Tung: "um bom companheiro é aquele que está ansioso para ir onde as dificuldades são maiores".
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Fonte: PortoGente - 28 OUT 08