Sexta, 31 Janeiro 2025

As principais organizações de empresas da construção civil reagiram com irritação ao plano anunciado na quarta-feira pelo governo. Segundo a MP 443, a Caixa Econômica Federal poderá comprar participações nas companhias de habitação e saneamento, com objetivo de reforçar seu capital.

O presidente do Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis de São Paulo (Secovi-SP), João Crestana, afirmou ser radicalmente contra a compra das ações pela Caixa. "O setor repudia a estatização de qualquer empresa, seja por qual razão for. Não é isso que o setor quer", afirmou.

Já o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Sergio Watanabe, afirmou que a medida não corresponde às necessidades das quase 100 mil construtoras de todo o País. Em nota, o executivo disse que a construção civil não deseja ter o Estado como sócio, apenas precisa de linhas de crédito para enfrentar a crise de liquidez.

Segundo um empresário do setor imobiliário, a medida enfrenta tanta resistência porque privilegia algumas empresas que têm ações negociadas na Bolsa de Valores. São empresas que compraram terrenos caros para impressionar investidores, abriram seu capital na Bolsa e agora estão em dificuldades para levantar capital, especialmente depois que o preço de suas desabaram. O problema do setor, diz o empresário, é muito mais amplo, e alcança milhares de construtoras e incorporadoras com dificuldades para obter capital.

Há também dúvidas sobre qual é a intenção do governo e da Caixa ao comprar participação em empresas e sobre a viabilidade das operações. Uma das possibilidades discutidas por empresários do setor é que o governo esteja usando a crise como oportunidade para reforçar os bancos estatais.

Mas há um limite. Pela lei, um banco (no caso, a Caixa) não pode emprestar dinheiro para uma empresa em que tenha mais de 10% das ações, por se tratar de conflito de interesses.

Para Crestana, do Secovi-SP, o setor espera que medidas específicas sejam anunciadas para dar alívio à restrição de crédito provocada pela crise internacional. Ele disse que o governo precisa garantir a disponibilidade dos recursos da poupança e do FGTS em condições normais, ou seja, a taxas menores do que o que o sistema financeiro vem oferecendo.

O presidente do Secovi-SP disse ainda que a falta de liquidez no mercado nacional não tem razão de ser, uma vez que os recursos do setor são garantidos pela caderneta de poupança e pelo FGTS. "É inaceitável que os bancos dificultem ou elevem as taxas de juros para conceder esses recursos."

"Se eles garantirem o que já existe já está bom, mas se liberar recursos extras, como já fez para o setor de agricultura, será melhor ainda."

TIRO DE CANHÃO

Watanabe, do SindusCon-SP, disse que a solução anunciada na quarta-feira não é adequada para combater a falta de liquidez . "O mundo real não pára, o setor precisa de financiamento e se o governo não tiver agilidade em oferecer crédito corremos o risco de ver muitos projetos serem paralisados."

Ele disse ainda que representantes do setor devem se reunir com o pessoal de governo na semana que vem. E o governo deverá anunciar medidas específicas para o setor, com recursos extras para financiamento. "O governo deu um tiro de canhão para matar uma codorna. Se as empresas estivessem quebrando, tudo bem, mas não é esse o caso."

Fonte: O Estado de S.Paulo - 24 OUT 08

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