Greenspan, 82, foi nas últimas décadas o maior defensor do livre mercado e da auto-regulamentação das instituições financeiras, com o mínimo de intervenção do Estado. Depois de ler um texto preparado previamente, Greenspan foi inquirido pelos congressistas. O deputado democrata Henry Waxman, da Califórnia, que preside da comissão na qual se deu o depoimento, argumentou que Greenspan tinha autoridade para interromper as práticas de empréstimos irresponsáveis que alimentaram o mercado de empréstimos imobiliários subprime (de baixa qualidade), mas rejeitou os apelos para que interviesse.
Conhecido como oráculo por anos no mercado, Greenspan passou a manhã acuado. Waxman fez a pergunta que nunca ninguém tinha feito de forma tão explícita, e em público: O senhor errou? Constrangido, o economista respondeu: parcialmente. Ao elaborar sobre o sistema de livre mercado, disse: eu encontrei uma falha. Esse defeito, argumentou, foi ter acreditado durante quatro décadas que as próprias instituições que fazem empréstimos fossem capacitadas para proteger o interesse dos seus controladores. Ou seja, que um banco não vai começar a emprestar dinheiro de maneira irresponsável porque sabe que vai à falência. “Aqueles de nós, eu inclusive, que esperávamos que o interesse próprio das instituições de empréstimo protegesse os acionistas estão em estado de descrença e choque”, afirmou.
Waxman não se contentou e fez o que pôde para expressar sua insatisfação. “O senhor foi aconselhado a impor limites ao mercado por tanta gente (...) E agora a economia inteira está pagando o preço. O mantra era que a regulamentação do governo era errada. Que o mercado era infalível”, disse. Ao admitir que errara parcialmente, Greenspan se referiu a algum tipo de regulamentação para o mercado de derivativos. Não está agora defendendo uma regra geral para todas essas operações, mas só às conhecidas como credit default swaps, os derivativos de crédito. O restante continuaria livre de regras, inclusive contratos sobre a variação cambial – os que mais afetaram empresas no Brasil.
O desafio agora, disse Greenspan, será os congressistas e as autoridades reguladoras enfrentarem a questão muito grande para quebrar. Trata-se da tese de que certas instituições financeiras são tão agigantadas que o custo de uma falência seria sempre maior do que um socorro do governo por causa do risco sistêmico.
Fonte: Jornal do Commercio - 24 OUT 08