Sexta, 31 Janeiro 2025

Em tempos de escassez de crédito agrícola e preços recordes de fertilizantes, existem agricultores que optaram por saídas diametralmente opostas para semear a próxima safra de grãos. Uns vão plantar sem qualquer adubo, apostando que o clima dará um empurrãozinho na produtividade. Outros decidiram usar o adubo na medida certa para cada palmo de terra.

Esse é o caso do produtor Charles Louis Peeters, que planta 5 mil hectares em Rio Verde, em Goiás, usando a agricultura de precisão para cultivar soja, milho, algodão, feijão e girassol. Fazendo uso de equipamentos de alta tecnologia, como um GPS conectado ao satélite e acoplado ao trator e softwares sofisticados, a agricultura de precisão, diz ele, inclui em sua prática a aplicação de fertilizantes racionalmente na terra. Isso significa saber exatamente as necessidades de nutrientes de cada talhão cultivado.

Engenheiro agrônomo e filho de produtor rural, ele conta que introduziu a técnica na fazenda da família em 2003 e a grande vantagem da agricultura de precisão é a redução de custos com a manutenção da produtividade das lavouras.

Para implantar o novo sistema de produção, ele conta que foi feito inicialmente uma espécie de "tomografia da terra". Em áreas de 200 hectares, por exemplo, o solo é dividido em minitalhões de 4 hectares e analisado. Com o mapa de nutrientes de cada área, Peeters administra a dose certa de corretivos e fertilizantes em cada um. É possível, diz , reduzir de 10% a 15% o uso de adubo, sem afetar a produtividade da lavoura.

"A agricultura de precisão ganha importância especialmente neste ano, em que a safra é de alto risco: está com custos elevados de produção e depende de muitas variáveis incertas, como clima, escassez de crédito, taxa de câmbio e preços em queda das commodities agrícolas", observa Peeters. Ele enfatiza que, nesse cenário, o maior risco para o agricultor é reduzir o uso de tecnologia.

O produtor de soja Mario Guardado Rodrigues, do município de Diamantino, em Mato Grosso, que preside o sindicato dos produtores rurais da região, conta que, pela primeira vez em 25 anos, vai plantar 1,5 mil hectares de soja sem adubo. "É um tiro no escuro", admite. Como ele sempre adubou a terra, Rodrigues acredita que ela tenha alguma reserva de nutrientes de safras anteriores que possa ser usada agora.

A saída buscada por Rodrigues para equacionar a falta de crédito também foi adotada por cerca de 40 produtores da sua região. "Dos 300 mil hectares plantados com soja na região de Diamantino, 20% não receberão fertilizantes nesta safra", calcula.

Apesar de ter consciência de que a operação é arriscada e pode reduzir em 30% a produtividade por hectare, ele diz que não há alternativa. "O crédito dos bancos oficiais e das empresas especializadas em comércio exterior escasseou e eu não tenho poupança."

Para tocar o plantio, ele diz que pegou sementes e calcário para correção de solo de fornecedores amigos na promessa de quitar a dívida no ano que vem, quando colher a safra.

O produtor José Aparecido Cazzeta, também de Diamantino, onde cultiva soja em 1,8 mil hectares arrendados, encontrou uma solução menos radical do que a de Rodrigues. Ele decidiu reduzir, mas não eliminar, o uso de adubo. "Vou colocar 250 quilos de fertilizante por hectare, não 450 quilos usados na última safra." Ele conta que, desde o fim de setembro, as tradings suspenderam qualquer tipo de financiamento.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 20 OUT 08

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