A volatilidade do dólar traz mais um problema às autoridades que regulam o setor de energia no Brasil ao inviabilizar a implementação de empreendimentos de geração termoelétrica, os maiores vencedores dos recentes leilões de energia nova, em função do aumento da moeda norte-americana, afinal, as empresas têm que recorrer ao exterior para a aquisição de equipamentos, cujo preço é cotado pelo dólar. A EDP-Energias do Brasil é uma das companhias que iriam participar o leilão A-5 de 2008 com a usina Porto do Pecém II - em sociedade com a MPX -, mas desistiu em função de dúvidas quanto ao retorno do investimento.
Esse foi um dos principais sintomas do que o diretor da Enecel Energia, Raimundo Batista, chamou de lado positivo da crise financeira global. Ele diz que a forte presença de usinas termoelétricas, principalmente aquelas movidas a óleo combustível, é danosa para a matriz energética nacional e mais ainda para os consumidores, que terão uma energia mais pobre, poluente e, acima de tudo, cara.
Segundo as estimativas do executivo, o aumento do preço final das usinas poderá se elevar entre 30% e 40% após o aumento expressivo do dólar. "Quem fechou contratos indexados e sem pré-fixação terá que rever seus custos. Os empreendimentos termoelétricos poderão nem sair do papel ou gerar sérios problemas para essas empresas que poderão até quebrar", prevê o executivo em entrevista exclusiva ao DCI.
Antecipando esse cenário, a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTE), fechou os contratos para a central Candiota III (350 MW) que é movida a carvão, com valores prefixados. O empreendimento, que entrará em operação em 2010, teve investimento de R$ 1,2 bi, sendo que US$ 430 milhões contratados junto ao China Development Bank (CDB) e ao BNP Paribas.
Erro de modelagem
"Estamos em uma armadilha feita pelo governo federal, que foi arquitetada por meio de uma modelagem errada para os leilões. Utilizar energia térmica por meio de óleo combustível é um retrocesso de 25 anos", afirmou o executivo. Ele diz que o Brasil deveria aproveitar a alta presença de fontes renováveis e manter a expansão hidráulica e de biomassa.
O erro, diz ele, é comparar diversas fontes energéticas, fato que o próprio presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget), Xisto Vieira Filho, defendeu em um encontro promovido pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Ele prefere que os certames sejam realizados por fontes energéticas. Da forma que está hoje, as disputas privilegiam a aquisição de energia de usinas com baixo investimento e custo variável elevado, caso das térmicas a óleo, que justamente foram as mais comercializadas no A-5.
Batista refere-se a essa alta presença da energia gerada a partir de termoelétricas como "herança maldita quer o governo Lula irá deixar para o Brasil". De todos os leilões realizados até o momento, segundo números da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), apenas 58% das ofertas são de fontes renováveis e 42% de fontes fósseis. Esse fator indica o provável aumento das emissões de gases de efeito estufa em comparação à atual matriz energética, que segundo a EPE, na comparação 2006/2007 aumentou em 7,9% na geração por derivados de petróleo e 10,4% na geração por carvão.
Outro desafio que o governo terá que enfrentar com a crise financeira é a concessão de crédito. Mesmo com a afirmação do ministro das Minas e Energia de garantir as linhas de crédito para os projetos de expansão para o setor elétrico, Batista se mostrou cético. "Além de falar, o ministro deve brigar para que isso realmente ocorra, pois não há outro agente financiador nesse momento que não seja o BNDES", afirma.
Fonte: DCI - 16 OUT 08