A crise do sistema financeiro mundial trouxe vantagens para, ao menos, um grande banco brasileiro. O banco Itaú, através de sua área de private banking, fechou, somente na semana passada, a captação de R$ 700 milhões através de um fenômeno descrito por Paulo Corchaki, diretor executivo do Itaú Private Banking, como "efeito rouba-monte, ou seja, os clientes de altíssima renda, com patrimônio acima de R$ 30 milhões, estão transferindo seus recursos de bancos estrangeiros para brasileiros".
E este movimento, segundo Corchaki, não começou agora. "Começamos a sentir essa mudança no início do ano, com os primeiros sinais de que a atual crise se agravaria", afirma. E os números mostram que este ano já superou as expectativas do banco. O Itaú Private Banking registra uma captação líquida positiva de R$ 6,5 bilhões no acumulado deste ano, volume já maior do que o atingido no ano passado, quando o banco captou R$ 5,5 bilhões.
"E estes R$ 700 milhões ainda não estão nesta conta, uma vez que são recursos prospectados, mas ainda não captados", ressalta o diretor da instituição bancária. Ao final do ano, Corchaki espera que o Itaú Private Banking registre uma captação líquida total de R$ 8 bilhões. "Para se ter uma idéia de como a demanda desse público aumentou, nós fazemos uma visita prévia para conhecer nosso futuro cliente. Nossa média, em períodos normais, é de 10 visitas diárias. Depois do estouro da crise, esse número pulou para 50 visitas diárias."
O diretor da instituição conta um caso que exemplifica bem a reação dos donos de fortunas neste momento de crise. "Nós estávamos conversando com um milionário mexicano em Miami, mas ele acabou fechando com o Citibank, por não sentir confiança em um banco brasileiro. Com toda esta crise, ele resolveu voltar ao Itaú."
Mas Corchaki chama a atenção para o fato de que a maior parte desta captação extra tem origem doméstica. "O dinheiro que está lá fora continua lá. Mas o dinheiro de brasileiros que estava alocado em instituições estrangeiras está migrando para instituições brasileiras, pois os clientes se sentem mais seguros nest e momento."
Busca por outros mercados
Para ampliar ainda mais seus negócios, o Itaú planeja entrar também no mercado mexicano, que é responsável por 35% do mercado de gestão de fortunas na América Latina, enquanto o Brasil tem participação de 30%. "Ainda não está definido exatamente como vamos fazer, mas é bem provável que seja por meio de aquisição de outra instituição que atua naquele país", conta Corchaki.
O Itaú também vai começar suas operações na Suíça em janeiro de 2009. "Apesar de já atuarmos em Luxemburgo, percebemos que os grandes clientes estão mesmo na Suíça. E queremos aproveitar a oportunidade dada pela crise." No país europeu, o Itaú vai atuar através de operação própria.
O Itaú Private Banking possui 6 mil clientes no Brasil, e mais 6 mil clientes no restante da América Latina, com destaque para Argentina e Uruguai. São R$ 50 bilhões em recursos administrados, o que dá ao Itaú o status de maior banco brasileiro na área de altíssima renda. De acordo com Corchaki, não há um levantamento oficial, mas estima-se que o Itaú tenha o quarto maior private banking da América Latina.
Além da segurança na instituição, os investidores que migram de instituições estrangeiras também estão mais cautelosos na escolha da forma como serão aplicados seus recursos. "Quase todos os clientes optam por aplicações em renda fixa, Certificados de Depósito Bancário (CDB) e títulos. Há realmente uma aversão a risco nesse momento", conta Corchaki. Ele acredita que esse movimento deve continuar enquanto a crise perdurar, mas avisa que a semana passada foi muito fora da curva.
Procurado pela reportagem do DCI, o Bradesco, através de sua assessoria de imprensa, afirma que este movimento de migração de recursos na área de gestão de fortunas é considerado "normal de mercado" pelo banco, que já vinha acontecendo desde o início da crise no sistema financeiro norte-americano, que chegou ao ápice na última semana.
Fonte: DCI - 24 SET 08