A atual crise internacional não impediu a realização de negócios recentes entre empresas do mercado imobiliário brasileiro e fundos de investimento internacionais, inclusive os ligados a instituições em perigo, como o AIG Investments, que acaba de se associar ao Grupo Advento, de construção e engenharia, controlado pelo empresário Juan Quirós, ex-presidente da Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex Brasil).
Junto com o banco Credit Suisse, o fundo comprou 40% de participação no Grupo Advento, injetando investimentos de R$ 80 milhões na empresa. A maior parte deles, correspondente a R$ 60 milhões, foi aplicada na aquisição da construtora Serpal, no início do mês. No período de um ano, mais R$ 20 milhões deverão ser aplicados na expansão das atividades do grupo
A injeção de capital visa a ampliar a estrutura do grupo, que prevê abrir capital em um prazo de até três anos. Com os novos sócios, o grupo prevê fechar 2008 com volume de negócios de R$ 580 milhões. Em 2009, a meta é alcançar R$ 770 milhões.
Segundo Juan Quirós, que manteve o controle majoritário, com 60% de participação na holding, a crise internacional não irá alterar os planos dos sócios e aponta que novos aportes vem por aí. "No nosso caso, a crise não muda absolutamente nada. O AIG tem uma área imobiliária mundial, que possui sinergia com o grupo Advento. Isso facilitará a nossa inserção internacional", afirma.
Segundo o empresário, já há um projeto internacional em estudo, de um grande cliente da área industrial, e que deve ser executado ainda este ano.
O grupo também afirma estar de olho em empresas de montagem industrial, com atuação nas áreas de petróleo, gás e mineração e experiência mínima de dez anos nestes setores. "A partir daí, estaremos em todos os segmentos, exceto o residencial, que não é o nosso foco", explica Quirós, que afirma já possuir recursos para o negócio.
A aquisição faz parte do planejamento estratégico dos sócios, que prevê a consolidação do grupo em todas as etapas de engenharia e construção, possibilitando a entrega de grandes projetos integrados, modalidade conhecida como turn key (chave na mão).
Além da Serpal, o grupo conta com as empresas Vecotec Sistemas de Climatização, Vox Engenharia Elétrica, Hidráulica e Mecânica e Temar Manutenção Integrada e atua nos segmentos industrial, cosmético, farmacêutico, automobilístico, de shopping centers, de papel e celulose, cimento, aço, alimentos e bebidas.
Investidores
Ao contrário da seguradora AIG, que precisou ser socorrida pelo governo norte-americano, o AIG Investments vai bem, comprando ativos de empresas.
Braço de investimentos do American International Group, o fundo possui 46 escritórios no mundo e atualmente administra US$ 800 bilhões. Recentemente o AIG Investments anunciou a captação de seu novo fundo de US$ 692 milhões para investimentos na América Latina, com foco no Brasil.
No País, eles detêm ativos com Gol Linhas Aéreas (aviação), Grupo Sendas (hipermercados), Providência (empresa de não-tecidos) e Mercosul (frigorífico).
O Credit Suisse, que não revela quanto investiu no Advento, passou a ser acionista minoritário depois de ter assessorado o grupo nas negociações de compra da Serpal e na busca de investidores.
Imobiliário
A história se repete na incorporação e na arquitetura, com dois novos negócios de empresas de capital fechado. Foi anunciada semana passada uma joint venture entre a incorporadora paulistana Lindencorp, do grupo LDI, com o fundo norte-americano Golden Tree InSite Partners, sediado em Nova York, no valor de R$ 400 milhões, e uma parceria entre a Metágora, braço de planejamento e desenvolvimento imobiliário do grupo brasileiro de arquitetura De Fournier, com a Colony Capital LLC, dos Estados Unidos, uma das maiores empresas globais de investimentos no setor imobiliário, responsável pela gestão de quase US$ 40 bilhões de ativos e sócia, pelo mundo, de grupos como Accor e Carrefour.
A parceria fechada pela Lindencorp prevê o desenvolvimento de R$ 2 bilhões em lançamentos imobiliários em até cinco anos. Como esta é uma parceria exclusiva, a empresa não deve fechar com nenhum outro fundo neste período. Segundo Eduardo Teixeira, diretor-geral da holding, na parceria fechada com o Golden Tree já existem cerca de seis projetos em avaliação, a serem lançados até o ano que vem, o que pode ser um indicativo de que o valor previsto seja gasto antes do período estabelecido em contrato. "Esperamos que o investimento seja gasto em menos tempo, pois enxergamos várias oportunidades entre este ano e o ano que vem", afirma o diretor.
A incorporadora faz parte da holding LDI, que atua nos segmentos de incorporação imobiliária, loteamentos, centros comerciais e construção e já mantém uma joint venture internacional com a Kimco Realty Corporation, dos Estados Unidos.
O fundo norte-americano possui um escritório em São Paulo e já injetou R$ 300 milhões este ano na incorporadora Yuni. Criado a partir de uma joint venture entre a Golden Tree Asset Management, empresa de gerenciamento de investimentos, e seis executivos especializados no mercado imobiliário e em finanças, ele é responsável hoje pelo gerenciamento de cerca de US$ 1,1 bilhão em investimentos em todo o mundo, com capital aplicado em empreendimentos residenciais, de varejo, industriais, escritórios, hotéis e projetos mistos.
A parceria entre a Metágora e o fundo Colony Capital LLC está dentro da estratégia da empresa de atrair novos investidores ao mercado imobiliário brasileiro, por conta do desaquecimento norte-americano no segmento. O presidente da empresa, Henri Michel De Fournier, já tinha contato com o fundo. "Entre os setores que iremos prospectar estão aqueles em que a Colony tem forte atuação em todo o mundo, como o de hotéis e resorts e o residencial de alto padrão", afirma Anwar Nassar, sócio da Metágora.
Fonte: DCI - 22 SET 08