Sexta, 31 Janeiro 2025

O presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, Luiz Bittencourt, divulgou artigo na tarde dessa quinta-feira (28), em que defende a necessidade de políticas setoriais com foco na competitividade do produto nacional como forma de geração de divisas e de consolidação da entrada do Brasil na economia globalizada. Abaixo, a íntegra do artigo em que o dirigente fala da importância econômica da indústria brasileira do couro, seus avanços e obstáculos. Couro, produto nobre e de inegável importância econômica Luiz Bittencourt A indústria brasileira do couro é um dos grandes propulsores da economia nacional e sua importância econômica se deve à geração de divisas (US$ 2,2 bilhões, em 2007) e de empregos, já posicionando o produto entre os principais itens da nossa pauta de exportações. O País é hoje um dos maiores produtores e exportadores mundiais de couro, consolidando uma história de quase cinco séculos de conquistas.Com efeito, as raízes da indústria do couro remontam à época do descobrimento, mais precisamente em 1534, quando aqui desembarcou o primeiro rebanho bovino, proveniente de Cabo Verde. E o responsável por esse feito foi uma mulher, Ana Pimentel, esposa do primeiro governador geral Martim Afonso de Souza.

O desenvolvimento da pecuária brasileira abriu caminho para a instalação de uma florescente indústria processadora de couro, cuja importância pode ser constatada pelo chamado Ciclo do Couro, período em que o gado desempenhou atividade econômica fundamental no Brasil Colônia.

A despeito de ser uma das atividades das mais antigas do País, a indústria do couro é hoje um dos mais modernos atores da economia, por conta do contínuo processo de modernização implementado pela indústria. Nos últimos vinte anos, em particular, a indústria curtidora registrou acentuado up grade tecnológico, fruto de investimentos da ordem de US$ 300 milhões, aplicados em atualização tecnológica, na modernização e na expansão do seu parque industrial.

O setor também soube capitalizar, de forma competente, as conhecidas vantagens comparativas que o Brasil detém nesta frente. Dono do maior rebanho bovino comercial do mundo (cerca de 200 milhões de cabeças), o Brasil conta com matéria-prima em abundância e preços competitivos, o que adicionado a uma mão-de-obra qualificada para processar o couro, converge para um relevante e invejável diferencial.

De fato, os profissionais que lidam com o couro, por serem reconhecidos como dos mais qualificados do planeta, levam o Brasil a exportar técnicos especializados no processamento de couros. Calcula-se que existam hoje mais de 2.000 trabalhadores especializados brasileiros trabalhando, por exemplo, na China.

Como decorrência natural deste quadro, as exportações brasileiras saltaram dos US$ 864,5 milhões embarcados em 2001, para alcançar US$ 2,2 bilhões ano passado, taxa média anual de crescimento da ordem de 20%, segundo o estudo O Brasil e o Mercado Mundial de Couro, editado pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB).

Atualmente, quase cem países adquirem o couro nacional e não só China, Itália e EUA, demandam o produto brasileiro, como também mercados tão diversos como os da Coréia do Sul, Indonésia, Taiwan, Países Baixos, Vietnã, Tunísia, Emirados Árabes Unidos, Líbano, dentre outros.

Hoje, mais de 60% do couro bovino é destinado aos segmentos automotivo e de estofamento, até como conseqüência da indústria calçadista ter migrado para a matéria-prima sintética, por razões de custo. Um exemplo significativo e que ilustra essa nova tendência pode ser constatado no mercado norte-americano, principal cliente do calçado nacional, onde 70% dos sapatos comercializados são manufaturados com material sintético.

É neste contexto que a indústria curtidora identificou novos nichos e de forma diferenciada os atende, tanto que os embarques brasileiros de peças de maior valor agregado (produtos semi-acabado e acabado) passaram a representar participação de 67% do total da receita das exportações brasileiras, contra 64% em 2006. O saldo da balança comercial do setor curtidor atingiu US$ 2 bilhões, em 2007, ante os US$ 1,7 bilhão de 2006, ou seja, um crescimento de 17%.

Com instrumentos como tecnologia de ponta, marketing agressivo e práticas ambientalmente corretas, a indústria curtidora nacional vem conquistando resultados de alto valor adicionado. A parceria com a Apex-Brasil não pode deixar de ser citada, pois tem contribuído de forma relevante e o setor respondido com eficácia, para os resultados alcançados, O setor curtidor brasileiro tem experimentado, na parceria com a Apex-Brasil, uma expressiva relação custo/benefício (dólar agregado na exportação/real aplicado pela agência governamental), atingindo a marca de US$ 146,00/R$ 1,00.

Esses parâmetros já demonstram, por si só, que o couro brasileiro conquistou, de forma consistente, luz própria.

Entretanto, para o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade federativa que representa, há 51 anos, as 800 empresas de produção, de processamento e de comercialização de couro mesmo com as realizações a potencialidade, há urgente necessidade de o governo investir em políticas setoriais que ampliem, ou no mínimo não prejudiquem, a competitividade já conquistada pelo produto nacional.

Um forte exemplo de obstáculo significativo que afeta a atividade curtidora é a apreciação do real que vem reduzindo as margens, inviabilizando negócios e tolhendo a competitividade do setor. Com o câmbio apreciado, as exportações de couro, em 2008, deverão ficar limitadas a, no máximo, US$ 2 bilhões, reduzindo em US$ 500 milhões as expectativas anteriores.

Para atenuar tal quadro, a entidade propõe, dentre outras medidas, a imediata agilização no ressarcimento de créditos retidos nas exportações, a desoneração da produção e a desburocratização na emissão de certificados sanitários.

Neste cenário, o CICB entende que somente políticas setoriais efetivamente vigentes, com foco na competitividade do produto nacional e refletindo a parceria entre os setores público e privado, podem contribuir para a geração de divisas, de riquezas e de postos de trabalho, aumentando de forma construtiva a arrecadação e consolidando a inserção competitiva do Brasil na cada vez mais acirrada economia globalizada.

Luiz Bittencourt é presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade de âmbito nacional, que reúne associados de empresas privadas e sindicatos da indústria do couro, e vice-presidente do International Council of Tanners (ICT, sigla em inglês para Conselho Internacional dos Curtumes), entidade internacional que congrega representações de 25 países. As informações são da Assessoria de Imprensa do CICB.

Fonte: Agência Safras -  28 AGO 08

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!