O ministro das Relações Exteriores da França declarou que os oficiais do governo ainda estão analisando as acusações listadas no documento, e que por enquanto não fará comentários sobre a questão.
O governo de Ruanda e organizações de sobrevivente dos genocídio há tempos acusam a França de treinar milícias armadas e antigas tropas governamentais que lideraram o genocídio. Mas as últimas acusações apresentadas são as mais detalhadas já divulgadas e apontam nominalmente altos funcionários franceses.
Mitterrand e Villepin aparecem em uma lista de dezenas de outros nomes no final do documento, acusados de darem apoio de natureza "política, militar, diplomática e logística."
Militantes hutu e tutsis se enfrentaram durante o massacre, que aconteceu entre abril e julho de 1994. Autoridades francesas negaram várias vezes que a França ajudou as forças hutu.
"Soldados franceses estão diretamente envolvidos nos assassinatos", declarou o reporte de Ruanda, compilado por uma equipe de investigadores indicada pelo governo. "Os soldados franceses cometeram vários estupros, especialmente de mulheres tutsi", acrescenta.
O ministro da justiça de Ruanda Tharcisse Karugarama afirmou que o país não tem planos imediatos para lançar acusações formais, mas o reporte "pode ser uma base para potenciais acusações individuais ou contra o Estado."
Em 1998, um painel parlamentar francês absolveu a França de ter responsabilidade no massacre. Mas congressistas afirmaram que os governos franceses deram suporte diplomático e militar para o governo extremista de Ruanda entre 1990 e 1994.
Histórico do massacre
Cerca de 800 mil pessoas morreram em apenas cem dias durante o genocídio em Ruanda. A maioria dos mortos pertencia à etnia tutsi. O país sempre teve sua população dividida entre membros da etnia hutu, que constituem 85% da população, e tutsi, que tradicionalmente são a elite do país. Em 1994, o governo formado por hutus estava tentando desesperadamente conter o avanço de rebeldes de etnia tutsi.
Em abril, um avião que levava o presidente, um hutu, foi derrubado. Em questão de horas, alguns membros do governo, incluindo o próprio primeiro-ministro, organizaram milícias para percorrer o país e, sistematicamente, assassinar tutsis.
Bloqueios foram criados nas estradas e qualquer pessoa que parasse neles e mostrasse um documento que o identificasse como tutsi era morto - às vezes, a tiros, mas mais freqüentemente com golpes de facão.
Vizinhos mataram seus vizinhos e até hutus moderados que se recusaram a participar do massacre foram assassinados. Mesmo freiras e sacerdotes foram considerados culpados de participar do genocídio.
A comunidade internacional fez pouco para impedir o massacre, mas depois as Nações Unidas criaram um tribunal internacional na cidade de Arusha, na Tanzânia, para julgar os líderes das milícias.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 06 AGO 08