Não é só no Paraná que grupos de pecuaristas estão utilizando o modelo cooperativista para agregar valor ao produto final e fugir da disputa com a indústria frigorífica na hora da venda do animal. Em Rondônia, a cada mês, a Cooperativa Rondoniense de Carne (Cooperocarne), localizada em Pimenta Bueno, recebe entre cinco e dez novos cooperados.
A diferença entre o modelo de Rondônia e as cooperativas do sul do país é o fato de que o primeiro construiu seu próprio frigorífico - e é o primeiro no Brasil a ser dono da própria indústria. Os grupos paranaenses alugam indústrias para o abate. Em outubro do ano passado, o frigorífico da Cooperocarne começou a abater. Em um momento ruim para a indústria por conta do alto preço da arroba - e os preços da carne não estão reagindo em igual proporção - o grupo decidiu reduzir o abate diário de 700 para 400 cabeças por dia a partir deste mês.
"O momento é ruim para o elo dos frigoríficos. No entanto, deixar uma indústria dessas parada é um crime. Optamos pela redução do abate por dia, para comprarmos melhor o boi", diz Alexandre Foroni, gerente da cooperativa.
Na opinião do consultor Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, o modelo de negócios é interessante. "Já houve época ruim para o pecuarista, assim como agora é para a indústria. Mas, no longo prazo, o modelo não deixa de ser interessante", opina.
Para o consultor da Scot, esse modo de trabalhar traz como vantagens uma relação mais transparente entre o elo do produtor e o da indústria, a melhoria do feedback para o produtor sobre o tipo de carne desejada pelo mercado, além dos desafios de gestão e de trabalhar a venda para o varejo. "O grupo vai produzir carne e não só o boi. Deixará de brigar com a indústria mas terá de descobrir como lidar com o varejo. O desafio não acaba, mas é uma maneira de agregar valor e obter mais ganhos", complementa Tito Rosa. "Um dos grandes desafios é descobrir um modelo que funcione independentemente do ciclo pecuário", finaliza.
Ganho financeiro
Na região da Cooperocarne, o ganho na hora da venda do boi é um dos motivos que têm atraído mais pecuaristas todos os meses.
Segundo Foroni, algumas partes do animal costumam ser retiradas pelos frigoríficos - parte do pescoço e do músculo da perna do animal, por exemplo -, antes da pesagem para definir o preço a ser pago. "Os frigoríficos retiravam e usavam mesmo assim essas partes. Nós pagamos por ela também", complementa. Segundo Foroni, o cooperado pode ganhar entre 2% e 3% a mais por boi nesse sistema.
A Cooperocarne conta hoje com 560 cooperados e detém um rebanho de 700 mil cabeças de gado. No início, em 2003, reunia 168 produtores. O frigorífico de propriedade do grupo iniciou as operações em outubro do ano passado e cada um dos pecuaristas detém uma cota da indústria.
O rebanho de Rondônia, um dos que mais cresceu no norte do País nos últimos anos, hoje soma 11 milhões de cabeças - sendo que 2,1 milhões são abatidas a cada ano. O maior estado produtor do país é o Mato Grosso, com rebanho total de 25 milhões de cabeças e abate de 6,8 milhões de cabeças/ano. O Brasil, ao todo, possui rebanho de 195,3 milhões de cabeças e o abate deverá chegar a 43,2 milhões de animais. Todos os números são estimativas para 2008, segundo a Scot Consultoria.
Histórico
O movimento de coooperativas vêm ganhando força. Tito Rosa diz que o modelo deu certo no Paraná pela profissionalização do negócio. Atualmente, o estado possui cerca de sete cooperativas que reúnem pecuaristas. Em Rondônia, já existe um segundo grupo que se espelhou no modelo da Cooperocarne, mas por enquanto o projeto está parado.
O especialista da Scot lembra que a idéia não é nova. No Rio Grande do Sul houve tentativa similar há muitos anos, mas sem sucesso, principalmente pela atuação da administração. "No caso antigo, a estrutura era muito familiar", avalia. "Para que o modelo dê certo é preciso profissionalização. Há um desafio enorme de gestão do negócio aí. As cooperativas driblam as negociações com os frigoríficos mas têm de negociar com o varejo, cujo diálogo é até mais difícil", destaca.
Fonte: DCI - 18 JUL 08