A Termoaçu é citada como o maior projeto de co-geração de energia da América Latina. Que importância a usina assume, para o RN e o país, com a crise energética provocada pela falta de chuvas?
José Paulo Vieira - O planejamento da expansão do setor elétrico brasileiro trabalha sob um escopo nacional, devendo contemplar a participação das diversas fontes energéticas, em esquema de complementação, especialmente a complementação termelétrica. Nesse contexto, fica clara a importância da Termoaçu. Na realidade, a expansão termelétrica é a principal saída a curto e médio prazo para a região, devendo ser complementada com outras formas e fontes.
Como o senhor avalia o risco de racionamento?
A ameaça de racionamento é real, embora pequena. Infelizmente, este está se tornando um tema recorrente, o que indica que o modelo de crescimento do setor elétrico brasileiro ainda não está estabilizado. No curto prazo, especialmente em 2008 e 2009, o risco de escassez de energia, embora pequeno, continuará acenando no horizonte. Seu brilho será maior se as nuvens diminuirem. O fato de ficarmos na expectativa do ‘regime das chuvas’ a cada ano, não deixa de ser um retrocesso, pois o apelo à providência divina, no setor elétrico, é claramente a confissão da falta de providências humanas. Há que se ressaltar que o Nordeste tem uma situação frágil. Não há quase nada a ser feito em termos de hidrelétricas de grande porte, que é a grande vocação brasileira.
Qual seria então a solução para o Nordeste?
Sem rios, a região clama pela chegada do GASENE (Gasoduto Sudeste-Nordeste) e as ampliações e reforços de gasodutos que estão sendo construídos pela Petrobras. Estas são prioridades de curto prazo, para o futuro mais amplo, cabe complementá-las com formas e fontes alternativas, entre outras a utilização da energia solar, do biodiesel e a ampliação significativa do parque eólico. Nesse campo, especialmente o Rio Grande do Norte, pelas suas vocações naturais, pode se tornar um “show case” em nível mundial.
De alguma forma o funcionamento da usina sofrerá impacto com a necessidade de economizar gás no Brasil (acenada pelo governo federal)? O volume de gás necessário à usina será comprometido com isso?
Esta questão está sendo tratada com todo o cuidado junto à Petrobras, que é quem responderá pelo fornecimento do insumo. O compromisso de fornecimento está firmado e todo o gás demandado estará disponível no momento da operação da usina.
Em agosto de 2007 a expectativa era de que as operações da Termoaçu fossem iniciadas em 31 de março de 2008. A data está mantida?
Houve pequenos ajustes de cronograma. Há pequenos atrasos a serem superados. Por enquanto, a previsão é que o início da operação comercial se dê no 2º semestre de 2008.
Que atrasos foram esses? Vão gerar algum tipo de prejuízo à usina?
Havia um pequeno atraso, de cerca de 2% no volume global da obra, para o qual estávamos fazendo um enorme esforço de recuperação. Todavia, em outubro de 2007 ocorreu um movimento grevista dos empregados da empreiteira responsável pelas obras, o que implicou em redução significativa do ritmo de avanço físico do empreendimento. O movimento fez com que o atraso, ao invés de reduzido, fosse ampliado, tornando impraticáveis os cronogramas até então vigentes.
Não ficou claro se haverá prejuízos, além da postergação da data de início de operações, claro. Poderia explicar melhor esse ponto?
Os contratos serão todos mantidos, tanto os de compra do gás quanto os de venda de energia elétrica e vapor. Haverá o custo de capital do atraso do empreendimento.
Em que fase está a obra? quantas pessoas trabalham na usina atualmente?
A Termoaçu encontra-se em fase final de construção, testes e comissionamento dos principais equipamentos e sistemas. Detalhando, encontram-se em andamento os trabalhos de montagem e testes dos grupos turbogeradores e das caldeiras e o comissionamento dos sistemas operacionais. As obras chegaram a mobilizar diretamente até 2.300 pessoas ao longo de 2007 e foram suportadas com aportes dos sócios. Em 31/12/2007 estavam 94,3% realizadas, com mais de mil empregos diretos.
Qual será o peso da energia produzida para o bolso consumidor?
Os contratos firmados com Cosern, Coelba e Petrobras são de 20 anos de duração, o que implica em estabilidade - de quantidades e de preços - para a energia elétrica, ficando assim reduzida a influência de fatores como o aumento (como o atualmente verificado) nos preços da energia negociada no mercado atacadista. A energia da Termoaçu tem valor superior ao dos contratos antigos, que utilizaram energia oriunda das hidrelétricas já construídas pelas estatais, mas seu valor é inferior ao atualmente negociado nos leilões de energia promovidos pelas autoridades federais, preços inferiores tanto ao dos leilões das hidrelétricas quanto das termelétricas.
Mas nós, consumidores, vamos pagar mais caro?
O custo da energia é crescente, isso é um dado empírico, e histórico. Assim, a contratação de nova energia se dará sempre com “tendência de alta” dos preços contratos. Enquanto o mercado estiver crescendo, e espera-se que continue se expandindo, haverá necessidade de mais energia, de energia nova, e portanto...
Fonte: Diário de Natal - 14 FEV 08