Na nota, a Codesp acrescenta que, em seu entender, a Supervia se for melhorada e ganhar novas ferramentas, pode ser considerada a plataforma tecnológica ideal, oferecendo tanto ou mais recursos que o Portic. Alguns dos contrários à compra do sistema da Espanha alegam que o processo poderia ser caro demais, onerando os sempre combalidos cofres públicos e desperdiçando anos de trabalho gastos no desenvolvimento do Supervia em Santos, por exemplo.
Justamente por isso, procuramos duas das pessoas responsáveis por ajudar a implantar o Supervia, na segundo metade da década de 90. Uma delas foi o engenheiro elétrico Eduardo Mário Dias, professor há 33 anos da Universidade de São Paulo (USP). Rapidamente, ele lembrou os pontos fracos do Portic e os motivos que, em seu entender, tornam desnecessária a sua implantação nos portos brasileiros.
“A gente sabe que a plataforma espanhola é muito boa, mas tudo que vem do estrangeiro para cá precisa ser customizado, e com o Portic não seria diferente. Não entendo qual o motivo de se comprar algo e começar todo um trabalho do zero, pois avançamos muito nesse setor nos últimos anos. Claro que o SED pode ser aperfeiçoado, mas trocá-lo não me pareceria o mais correto”.
Outra importante peça na criação e aplicação do Supervia foi o presidente da Companhia Docas de São Sebastião e membro do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) do Porto de Santos, Frederico Victor Moreira Bussinger. Ex-diretor de Gestão Portuária da Codesp entre 1995 e 1998, ele respondeu prontamente ao contato do PortoGente, opinando e, ao mesmo tempo, explicando sob seu ponto de vista todas as vantagens e desvantagens do Portic no cenário logístico mundial e nacional.
“Acho que o Portic é bem mais que um sistema, pois envolve um criativo arranjo institucional, gerencial e comercial. Não posso, contudo, dizer que ele é a melhor plataforma do mundo, pois há inúmeros sistemas congêneres, conjunto do qual o Supervia não deve ser excluído. Sabe-se que, quase em todas as áreas do conhecimento, não há uma solução universal, que sirva para qualquer situação, cultura ou ambiente jurídico e comercial. É sempre preciso ter-se claro qual o problema que precisa ser resolvido, para se achar o sistema mais indicado”.
Questionado sobre a necessidade de Santos implantar o Portic, Bussinger preferiu não dar uma resposta enfática, mas argumentou de forma interessante. “Insisto que, além de ser um sistema, o Portic é um empreendimento comercial, que requereria uma ampla revisão de procedimentos, que atinge até mesmo as relações entre os diversos atores do processo: autoridades, armadores, operadores, usuários. Assim, não se trata, apenas, de adquiri-lo ou implantá-lo, como se fosse um programa de computador”.
Resta, agora, acompanhar os próximos passos da SEP e descobrir se a idéia de importar o Portic não passou de um simples boato ou, realmente, é um projeto levado a sério pela equipe de Brasília.
Fonte: PortoGente - 22 JAN 08