Os estivadores pararam suas atividades. Reivindicam melhores condições de trabalho e mais emprego. Foram cinco dias sem movimentação no porto. Não estamos falando dos estivadores brasileiros, mas os da terra de Cabral. Os estivadores portugueses deram um basta à exploração do seu trabalho. Foi no Porto de Lisboa. Greve com 100% de adesão, segundo o sindicato da categoria.
Em entrevista exclusiva a esta coluna, o presidente do Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores de Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal (SETTCMCSP), Vítor Dias, falou sobre as razões do movimento grevista e os próximos passos da luta. Ao final da entrevista, o dirigente português manda uma mensagem aos estivadores brasileiros.
Debate Sindical – Como foi decidida a paralisação dos estivadores portugueses? A greve é contra quem e o que?
Vítor Dias – A greve foi decidida pela direção do Sindicato e sufragada em plenário de trabalhadores do Porto de Lisboa. Tem como principais objetivos: a luta contra a precariedade de emprego; a insuficiência de trabalhadores para dar resposta ao movimento do Porto de Lisboa e ainda os fatores de insegurança que tal situação provoca. Esta situação que não é recente provoca igualmente um excesso muito grande de trabalho suplementar, quase não permitindo que os estivadores tenham tempo livre para a família, abdicando do gozo de folgas, descansos complementares, fins de semana etc. Lutamos, portanto, pela admissão de mais trabalhadores efetivos para o Porto de Lisboa, pela segurança de emprego dos estivadores, pela segurança nos locais de trabalho e contra a excessiva carga de trabalho suplementar.
Debate Sindical – Quanto tempo durou a greve?
Vítor Dias – Cinco dias. Teve início a zero hora de terça-feira, dia 16 de outubro, e terminou às 24h de sábado, dia 20 de outubro.
Debate Sindical – Quais as reivindicações dos estivadores?
Vítor Dias – A imediata admissão de trabalhadores que já celebraram vários contratos a termo como trabalhadores eventuais, o redimensionamento do efetivo de trabalhadores portuários adequando esse efetivo à real necessidade do porto.
Debate Sindical – Quais os portos paralisados pela greve e quantos trabalhadores pararam?
Vítor Dias – Paralisou o Porto de Lisboa e foi emitido um pré-aviso de greve de solidariedade para os portos de Viana do Castelo, de Aveiro, da Figueira da Foz e de Setúbal, que durante o período de greve em Lisboa, não movimentaram cargas cuja proveniência ou destino tivessem origem em Lisboa.
Debate Sindical – Qual o saldo do movimento? Foi positivo? Vocês tiveram as reivindicações atendidas?
Vítor Dias – Não foi totalmente positivo, dado que os patrões optaram por resistir à admissão dos trabalhadores acima referidos. Optaram igualmente por desviar navios para Espanha e Leixões. De positivo a adesão à greve de 100% nos cinco dias, a cadeia de solidariedade de estruturas sindicais tal como o IDC - Sindicato Mundial dos Estivadores, a ITF (Federação Internacional dos Trabalhadores em Transporte), a coordenadora espanhola - principal estrutura sindical em Espanha, sindicatos suecos, além dos anteriormente citados sindicatos nacionais (Viana, Aveiro, etc.). Mas foi decidido continuar a luta. De diversas formas que não desgastem tanto a imagem do porto.
Debate Sindical – Desde quando os estivadores não faziam uma greve?
Vítor Dias – Desde 17 de novembro de 2006.
Debate Sindical – Quais os maiores problemas dos estivadores portugueses atualmente?
Vítor Dias – A nova legislação sobre o setor do governo português, que se supõe ser apresentada no primeiro trimestre de 2008 e que prevê a desregulamentação e liberalização dos serviços portuários.
Debate Sindical – Quantos estivadores têm nos portos portugueses?
Vítor Dias – Cerca de 800, Lisboa preenche quase 50% desse número.
Debate Sindical – Quais as condições de trabalho dos estivadores portugueses? Quantos estivadores trabalham por navio?
Vítor Dias – As condições são satisfatórias no aspecto salarial, deficitárias quer no aspecto da segurança dos equipamentos quer no aspecto da segurança dos trabalhadores. Depende do tipo de operação. Se for na contentorização as equipes rondam 10 a 12 trabalhadores por linha de operação, contando com hierarquias, manobradores de equipamentos, conferentes, portalós e bases. Se for outro tipo de cargas, como os granéis, as equipes têm dimensões diferentes, mas não muito.
Debate Sindical – Como estão os portos portugueses em termos de logística, movimentação de cargas e projetos de expansão?
Vítor Dias – Estão em fase de crescimento e de evolução, registrando crescimentos da ordem de 12,5% ao ano. As concessões já existem nos portos de Lisboa, Leixões e Sines e parcialmente em Setúbal e aguarda-se para breve para o Porto de Aveiro. As plataformas logísticas estão em fase de implementação nacional. Existem planos de expansão para os portos de Leixões e Sines e para Lisboa decorre a discussão de igual plano estratégico para o desenvolvimento do porto. Aveiro tem o plano aprovado, mas não iniciado.
Debate Sindical – Qual a mensagem que vocês dão para os estivadores do Brasil?
Vítor Dias – Desejamos que os companheiros estivadores brasileiros possam evoluir no que concerne às condições de trabalho e de legislação. Que os portos sejam competitivos, pois assim asseguram o seu posto de trabalho e que tenham o maior sucesso nas lutas que empreendam. Quero, em nome do Sindicato dos Estivadores de Lisboa e da Confederação dos Sindicatos Marítimos e Portuários (Fesmapor), enviar um abraço solidário a todos os companheiros estivadores brasileiros. Que estejam unidos, pois só dessa forma poderão vencer.
Fotos aéreas: Porto de Lisboa
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Fonte: PortoGente - 23 OUT 07