Segunda, 03 Fevereiro 2025
Os planos são extremamente ousados e se saírem do papel, essa poderá ser considerada uma das maiores obras da história da engenharia. Os custos ultrapassam os inimagináveis US$ 5 bilhões, quantia suficiente para comprar 12 seleções brasileiras de futebol, incluindo no pacote craques como Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Robinho. Entretanto, apesar de toda a festa, a modernização do Canal do Panamá não deve, pelo menos em um primeiro momento, interferir no dia-a-dia dos principais portos brasileiros.

Pelo menos foi isso que garantiram os entrevistados ouvidos na última semana pelo PortoGente, que também conversou com Lígia Rodriguez, da Autoridade Nacional Ambiental do Panamá, em recente visita que ela fez a Santos. Ela, por sinal, fez questão de destacar que todo o processo de ampliação do Canal do Panamá está em dia com as questões ambientais, tratadas com todo o cuidado pelo governo daquele País, mesmo antes do processo de transição da posse do equipamento.

“Não custa lembrar que o Canal do Panamá, apesar de ficar em nossas terras, era administrado até o dia 31 de dezembro de 1999 pelos Estados Unidos. Mesmo assim, já no começo da década de 90 discutíamos como seria a melhor maneira de administrar e potencializar este valoroso equipamento. Neste século XXI, o que temos mais feito e investir em tecnologia e preservar o meio ambiente. Assim, vamos atrair mais empresas e tirar do papel este plano de US$ 5 bilhões”.

Nas últimas semanas, muito se comentou da possibilidade do Canal do Panamá moderno interferir diretamente no fluxo de cargas dos portos do Brasil. Todavia, o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Eduardo Lopes, não concorda com essa tese. Para ele, os beneficiados serão os países que comercializam grandes quantidades de contêineres e que utilizam a rota classificada como leste-oeste.

Em resumo, só quem vai ganhar com esse empreendimento são os Estados Unidos  e as nações européias. “Enquanto não desenvolver e planejar, o Brasil não tem como tirar proveito de ações como esta. Quem vai se beneficiar mesmo são os navios de contêineres, mas na rotina do Porto de Santos, por exemplo, nada vai mudar. Não vejo impacto tão grande para nós".

O grandioso projeto de ampliação do Canal do Panamá consiste, basicamente, em incentivos à construção de novas comportas e passagens para embarcações de elevada capacidade, para que, desse modo, até mesmo navios de contêineres e petroleiros de grande porte consigam passar pelo local. Atualmente, essas embarcações precisam contornar toda a América do Sul para transitarem entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

Para Manoel Reigada, encarregado de departamento da Cosco, uma das maiores armadoras do planeta, com movimentação freqüente em mais de 1.100 portos de 150 países, o presidente do Sindamar está correto em sua observação. “Na minha opinião, os efeitos se limitar ao próprio Panamá. Um fato é que lá, teremos menos tempo de espera de cargas, e aqui, os navios das armadoras não precisarão dar mais a volta para passar de um oceano para outro. Mas isso não vai refletir imediatamente em um maior fluxo de cargas em trânsito no Brasil”.

O coordenador de operações da armadora CMA CGM em Santos, Leonardo Sgueglia, tem uma visão ligeiramente mais otimista que seu colega, apostando em uma melhora na rotina dos portos localizados mais ao Norte do Brasil, próximos geograficamente do Canal do Panamá. “Os Estados Unidos irão se favorecer, pois o escoamento de cargas para os países do Oceano Pacífico será mais que facilitado, diminuindo o tempo da carga dentro da embarcação. Agora, sem dúvida, quem mais vai ser beneficiado é o Panamá. O movimento de navios vai ser muito grande lá”.

A obra
O Canal do Panamá possui 82 quilômetros de extensão e liga entre si, em plena América Central, os oceanos Atlântico e Pacífico. Inaugurado em 1913, o equipamento conta hoje com dois conjuntos de eclusas, que permitem a passagem de navios panamax, com 32 metros de largura e capacidade para transportar até 5 mil TEUs de contêineres. Mesmo com essa limitação, cerca de 14 mil navios passam por ano no local, o que representa 5% do tráfego marítimo mundial.

Com a idéia de se construir duas novas eclusas, navios pós-panamax, com até 49 metros de largura, passarão pelo Canal do Panamá. O objetivo, com isso é dobrar a movimentação anual de cargas dos atuais 300 milhões de toneladas para 600 milhões em 2025, quando a obra deve estar finalizada. Apenas a título de curiosidade, a projeção para 2007 é que o maior porto brasileiro, o de Santos, movimente 81 milhões de toneladas de cargas.

Fonte: PortoGente - 16 OUT 07

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