A provável venda do holandês ABN Amro por US$ 100 bilhões será o maior negócio da história da indústria bancária no mundo e levará à criação do terceiro maior banco no Brasil, lugar hoje do Itaú.
A desistência do Barclays na sexta-feira passada abriu caminho para o consórcio formado pelo escocês RBS (Royal Bank of Scotland), o espanhol Santander e o belga-holandês Fortis levarem o holandês. Segundo o jornal britânico Financial Times, a proposta do consórcio teve aprovação de 85% dos acionistas do ABN, que ainda não anunciaram o resultado final.
A proposta prevê a divisão do ABN Amro em três partes, entre as quais as operações do banco Real no Brasil, que ficarão com o Santander. Hoje, Real e Santander estão na quinta e sétima colocação no ranking das instituições financeiras que operam no País. Após a fusão, os dois bancos juntos saltarão para o terceiro lugar, atrás do Banco do Brasil e do Bradesco, posição nunca antes alcançada por estrangeiros.
Diferentemente da maioria dos negócios de fusão e aquisição, onde as duas partes são interessadas na transação, os gestores do ABN são contra a venda para o consórcio. Isso porque o negócio representa o fim de sua presença mundial.
O ABN tem cerca de 4,5 mil agências e emprega 105 mil pessoas em 53 países. A divisão do banco deve levar à demissão de cerca de 19 mil bancários, sendo 13 mil na Holanda. No Brasil, sindicalistas estimam que a fusão das operações entre o ABN e o Santander leve a pelo menos 1,5 mil demissões, somando os dois bancos, por conta da duplicidade de agências.
No Brasil, o negócio chega num momento de profunda mudança no sistema financeiro, após a transição do modelo de negócio em que os bancos ganhavam dinheiro fácil com os juros altos para a concessão de empréstimos.
Se por um lado a fusão ABN-Santander concentra o sistema e diminui o poder de barganha dos órgãos reguladores e clientes, a emergência de um grande banco estrangeiro renova o otimismo com o aumento da concorrência no crédito brasileiro, que cresce a um ritmo de 20% ao ano. A expectativa é que nos próximos anos os juros caiam mais e os prazos aumentem, condições para fomentar o investimento em infra-estrutura e o financiamento imobiliário, filão do crédito internacional.