Terça, 04 Fevereiro 2025

Bruno Reis, assessor parlamentar do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), aparece nos grampos da Operação Octopus da Polícia Federal. Nas conversas, ele negocia com o ex-superintendente da PF na Bahia Joel de Almeida de Lima e o lobista Francisco Catelino, que foram acusados na Operação Navalha de ajudar o dono da Construtora Gautama, Zuleido Soares Veras, com informações privilegiadas, obtidas com grampos ilegais, e de vender privilégios dentro da PF.

A Octopus investigava a atuação dos policiais federais em parceria com um esquema de empresários da Bahia para fraudar licitações em várias áreas. Catelino e Lima, que é delegado aposentado, aparecem em diversos grampos da Octopus, na pasta “Eventos fase contra”. Isso porque a operação acabou frustrada, após o vazamento de informações de dentro da PF.

As conversas com o assessor de ACM e as menções a ele, todas de setembro de 2005, não são conclusivas, mas sugerem que pelo menos dois membros da máfia tinham contato com a família Magalhães. Versam sobre um cheque de R$ 10 mil que Catelino queria depositar por um suposto serviço prestado ao assessor de ACM Neto.

Na primeira, de 13 de setembro, Catelino cobra que Lima ligue para uma pessoa identificada como Michel para falar do cheque. Ele reclama que Reis mudara seu telefone. Michel, segundo ACM Neto, pode ser o irmão de Reis. Lima orienta o parceiro: “A notícia importante nós já demos. A solução para ele foi dada. Eu vou ligar (...), vou botar pressão.” Na mesma conversa, Catelino diz que “são dez mil, cinco de cada”, e Lima responde: “É, eu preciso para complementar meus trabalhos.”

No dia seguinte, Catelino cobra novamente: “Dê uma ligada a Michel, diga que você está já botando o cheque.” Em 22 de setembro, Reis atende telefonema de Catelino no escritório de ACM Neto, em Salvador. Eles acertam um encontro para tratar do cheque. Catelino diz que Lima está pressionando pelo dinheiro. No dia 26, Catelino conta a Lima que falou com Reis. De novo Lima orienta o amigo a dizer que o serviço foi prestado. “Diz para ele, o Joel pegou o cheque em minha mão e vai meter o cheque, porque a noticia foi dada, o serviço foi feito.”

Os diálogos não provam irregularidades, mas mostram que os investigados tentaram contato com ACM Neto. Em uma conversa, eles falam sobre Camaçari (BA) - o Ministério das Cidades liberou R$ 11,5 milhões para a prefeitura, para obras da Gautama.

Em 9 de setembro, Catelino conversa com um homem identificado como Luaminho. “Não se esqueça de falar com Neto, aquele negócio de Camaçari”, diz Luaminho. “Já liguei para Bruno e disse que preciso conversar com ACM Neto”, responde Catelino.

Reis foi procurado no gabinete de ACM Neto, mas a assessoria informou que ele só falaria após conversar com o chefe. Em Brasília, o deputado disse não acreditar que Reis tenha cometido atos ilícitos. “Até porque ele sabe que eu não seria complacente com isso.” ACM Neto contou que não conseguiu identificar o contexto das conversas grampeadas. Ele admitiu ter conhecido Catelino na Faculdade de Direito, na Bahia, mas afirmou ter ficado perplexo ao saber de seu envolvimento em irregularidades.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 24 MAI 07

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