Sexta, 22 Novembro 2024

O engenheiro ambiental João Rafael Bergamaschi Tercini, mestre pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, (Poli/USP), criou uma abordagem inédita para modelar a qualidade da água no trecho do rio Tietê entre as cidades de Pirapora do Bom Jesus e Salto. O ineditismo está na integração da modelagem de qualidade da água em rio e em reservatório.

"No trecho em questão existem quatro reservatórios. Por isso, a proposta foi apresentar um modelo que analisasse o problema conjuntamente no rio e no reservatório. É muito comum acharmos modelos prontos, mas que só dão conta de reservatórios ou só dão conta dos rios. João criou um modelo integrado", ressalta o orientador do trabalho, Arisvaldo Méllo, do Laboratório de Sistemas de Suporte a Decisões em Engenharia Ambiental e de Recursos Hídricos da Poli.

Tercini modelou a qualidade da água no rio à jusante da região metropolitana de São Paulo, no trecho que recebe toda a carga de esgoto orgânico remanescente. "Escolhemos o trecho entre a barragem de Pirapora e a cidade de Salto, que seria possível monitorar com os recursos que tínhamos disponíveis. Definimos a área de estudo e começamos a monitorar uma vez por mês, durante todo o ano de 2012", explica ele. As variáveis modeladas foram a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e o oxigênio dissolvido na água (OD). As medições foram realizadas em nove diferentes pontos ao longo dos 80 km entre o reservatório de Pirapora e a cidade de Salto.

Ao planejar o monitoramento, Tercini e seu orientador consultaram as séries históricas de qualidade da água da Cetesb para checar a coerência dos procedimentos. "Seguimos as normas técnicas, tanto na coleta quanto na análise em laboratório. E ta mbém aproveitamos os dados da Cetesb para calibrar o modelo", explica Méllo.

O trabalho parte do modelo de Streeter/Phelps, criado em 1925 e aplicado na resolução do problema de poluição do Rio Ohio, nos Estados Unidos. "É um modelo que exige poucos inputs e dá uma boa resposta. Porque quanto mais complicado o modelo, mais informação você precisa para fazê-lo responder. Este é um modelo robusto e fácil de operar", esclarece o autor.

De posse das medidas e levando em conta os três principais fatores que impactam a qualidade da água a jusante do reservatório de Pirapora (vazão descarregada, nível do reservatório e carga orgânica proveniente da RMSP) os pesquisadores desenharam doze diferentes cenários possíveis. Além de integrar a modelagem de qualidade da água em rio e reservatório, o modelo tinha como objetivo verificar os possíveis impacto s da operação do reservatório de Pirapora na qualidade da água do rio Tietê.

Tercini explica que, do ponto de vista da gestão do Pirapora, já se opera no melhor cenário possível. "Atualmente, do ponto de vista de gerenciamento do reservatório, já estamos no 'melhor' cenário possível: com o nível do reservatório cheio, soltando pouca água e com uma carga orgânica normal - sendo este normal para os parâmetros do Tietê, que são altos. Quer dizer: para melhorar, só tratando o esgoto", resume.

A pesquisa concluiu também que os reservatórios não influenciam eventos como mortandade de peixes e situações afins, pois havia a crença de que os reservatórios contribuíssem para esse tipo de acontecimento. "Concluímos que os reservatórios, na verdade, melhoram a qualidade da água, pois funcionam como estações de tratamento de esgoto", diz Méllo. 

O autor do trabalho explica que o modelo pode ajudar na gestão do sistema, embora não substitua o monitoramento. "O modelo pode indicar quais são as melhores opções operacionais entre rio e reservatório para que a qualidade da água melhore. Permite simular outros cenários de operação do reservatório de Pirapora ou a qualidade da água afluente do mesmo. E também pode ser adaptado facilmente a outras bacias hidrográficas com características semelhantes ao contexto analisado", explica Tercini.

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